Em recente almoço de confraternização, desfrutei de uma oportunidade rara: receber uma verdadeira aula sobre o
atual grupo no poder hoje em Pernambuco. E de uma fonte interna ao grupo
dominante, desde a época de diretório estudantil. Em primeiro lugar,
uma distinção didática e muito clara sobre a divisão de trabalho que
deveria ter se estabelecido no interior dessa oligarquia local, entre os
assim chamados "estrategistas", ganhadores de eleição, e os "gerentes",
os que deveriam ocupar os cargos depois da competição eleitoral.
Os primeiros constituem naturalmente a liderança política, dotada de
capacidade aglutinadora, formulação política, soldar as alianças,
escolher os nomes de confiança e garantir sua eleição. Os segundos, os
mandatários escolhidos - a dedo, seguindo uma fidelidade canina - para
executar o plano, a estratégia dos formuladores ou líderes. Aqui, o
chefe ou o líder era, como se sabe, o ex-governador de Pernambuco,
falecido em avião "emprestado" pelo sócio, o fazendeiro e presidente da
Copergás.
Os prepostos, o atual governador (casado com a prima da ex-primeira
dama) e o atual prefeito. A banda deveria tocar assim: um manda e os
outros executam,ou obedecem, até porque, na condição de auditores, não
tinham a menor experiência política ou de ocupação de cargos públicos,
como gestores municipais ou estaduais.
Mas o critério de escolha era outro: a fidelidade canina ao chefe.
Morto misteriosamente em desastre aéreo, até hoje não esclarecido, os
gerentes tornaram-se, num passe de mágica, em políticos. De meros
ajudantes, em mandantes ou ordenadores de despesas, num grave contexto
de restrições fiscais e orçamentárias e em oposição ao governo federal.
Começou a tragédia administrativa no Estado de Pernambuco: Arena
condenada, túneis inundados, obras da mobilidade inacabadas, hospitais
de referência caindo aos pedaços, greve na educação, greve nos
transportes públicos, a farsa do Pacto pela Vida, crise no Judiciário.
Como não tinha ninguém para ocupar o lugar do chefe, a não ser a
viúva, os filhos, o cunhado e a mãe, as criaturas passaram a ganhar vida
e ensaiar uma política que nunca tiveram ou foram capazes de fazer.
Estabeleceu-se aos poucos uma autofagia interna entre os membros da
"entourage". Cada um querendo tomar o lugar do outro, a vaga de senador,
de deputado, de prefeito.
Sem o chefe, todos aumentaram o seu cacife político, por conta
própria, dando início a desagregação do grupo político. Aliados de ontem
já ensaiam candidatura própria para as eleições de 2017. E bem a
propósito de eleições, a matriarca resolveu dar um recado, para dizer o
quanto não está sendo bem considerada na atual situação política do
Estado: vem estimulando a candidatura de um dos filhos a uma prefeitura
municipal vizinha, para dizer que está vivíssima e disposta a dar sua
modesta colaboração pelo progresso de Pernambuco.
Pelo visto, o espólio político de ex-governador tornou-se alvo de uma
dura disputa entre seus correligionários e familiares que só está
começando.
Michel Zaidan
Cientista político da UFPE
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