sexta-feira, 31 de julho de 2015

De gestores e estrategistas





Em recente almoço de confraternização, desfrutei de uma oportunidade rara: receber uma verdadeira aula sobre o atual grupo no poder hoje em Pernambuco. E de uma fonte interna ao grupo dominante, desde a época de diretório estudantil. Em primeiro lugar, uma distinção didática e muito clara sobre a divisão de trabalho que deveria ter se estabelecido no interior dessa oligarquia local, entre os assim chamados "estrategistas", ganhadores de eleição, e os "gerentes", os que deveriam ocupar os cargos depois da competição eleitoral.

Os primeiros constituem naturalmente a liderança política, dotada de capacidade aglutinadora, formulação política, soldar as alianças, escolher os nomes de confiança e garantir sua eleição. Os segundos, os mandatários escolhidos - a dedo, seguindo uma fidelidade canina - para executar o plano, a estratégia dos formuladores ou líderes. Aqui, o chefe ou o líder era, como se sabe, o ex-governador de Pernambuco, falecido em avião "emprestado" pelo sócio, o fazendeiro e presidente da Copergás.

Os prepostos, o atual governador (casado com a prima da ex-primeira dama) e o atual prefeito. A banda deveria tocar assim: um manda e os outros executam,ou obedecem, até porque, na condição de auditores, não tinham a menor experiência política ou de ocupação de cargos públicos, como gestores municipais ou estaduais.

Mas o critério de escolha era outro: a fidelidade canina ao chefe. Morto misteriosamente em desastre aéreo, até hoje não esclarecido, os gerentes tornaram-se, num passe de mágica, em políticos. De meros ajudantes, em mandantes ou ordenadores de despesas, num grave contexto de restrições fiscais e orçamentárias e em oposição ao governo federal.

Começou a tragédia administrativa no Estado de Pernambuco: Arena condenada, túneis inundados, obras da mobilidade inacabadas, hospitais de referência caindo aos pedaços, greve na educação, greve nos transportes públicos, a farsa do Pacto pela Vida, crise no Judiciário.

Como não tinha ninguém para ocupar o lugar do chefe, a não ser a viúva, os filhos, o cunhado e a mãe, as criaturas passaram a ganhar vida e ensaiar uma política que nunca tiveram ou foram capazes de fazer. Estabeleceu-se aos poucos uma autofagia interna entre os membros da "entourage". Cada um querendo tomar o lugar do outro, a vaga de senador, de deputado, de prefeito.

Sem o chefe, todos aumentaram o seu cacife político, por conta própria, dando início a desagregação do grupo político. Aliados de ontem já ensaiam candidatura própria para as eleições de 2017. E bem a propósito de eleições, a matriarca resolveu dar um recado, para dizer o quanto não está sendo bem considerada na atual situação política do Estado: vem estimulando a candidatura de um dos filhos a uma prefeitura municipal vizinha, para dizer que está vivíssima e disposta a dar sua modesta colaboração pelo progresso de Pernambuco.

Pelo visto, o espólio político de ex-governador tornou-se alvo de uma dura disputa entre seus correligionários e familiares que só está começando.


Michel Zaidan
Cientista político da UFPE

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