Por Tereza Cruvinel
A Operação Politeia, desdobramento
da Lava Jato através de 53 ações de buscas e apreensões realizadas hoje
pela Polícia Federal, atingiu residências e locais de trabalho de três
senadores, merecendo todos os adjetivos com que foram definidas por um
deles, Fernando Collor de Mello (PTB): invasivas, autoritárias,
desnecessárias e aparatosas. Todos estão à disposição da Justiça e nada
indica que poderiam fugir do país. Os outros dois foram Fernando Bezerra
Coelho (PSB) e Ciro Nogueira (PP). Tais ações fazem parte da sutil mas
persistente mutação por que vem passando a cultura política brasileira,
abrindo espaço para guetos fascistas, surtos de preconceito e práticas
que se aproximam do estado policial. Mas elas indicam, que a Lava Jato
começou a voltar seus holofotes para a classe política, num movimento
que pode embaralhar o jogo dos que trabalharam para afastar do cargo a
residente Dilma Rousseff.
As ações de busca e apreensão de
hoje integram as diligências complementares autorizadas pelo
ministro-relator no STF, Teori Zavascki, nos inquéritos pedidos em março
pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra 54 políticos,
inclusive os atingidos hoje. Embora a Procuradoria Geral da República
informe oficialmente que não há data marcada para a conclusão dos
inquéritos, fontes do Ministério Público afirmam que em breve Janot
oferecerá denúncia ao STF contra alguns dos políticos da lista. E que
entre eles poderão estar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o do
Senado, Renan Calheiros.
Se isso acontecer em agosto, os
planos para remover Dilma da Presidência estarão diante de um sério
complicador. Será também em agosto que o TCU recomendará ao Congresso,
ao que tudo indica, a rejeição das contas de Dilma, um dos caminhos,
talvez o mais curto, para a abertura de um processo de impeachment. A
segunda vertente, a da condenação pelo TSE por crime eleitoral, hoje
mesmo sofreu um revés, indicador do quanto será demorada: O Ministério
Público embargou o depoimento do empreiteiro Ricardo Pessoa no processo,
alegando que isso poderia ferir seu acordo de delação premiada no
âmbito da Lava Jato. Logo, será preciso uma autorização do STF.
Sigamos então prospectando sobre a
conexão entre o destino de Dilma e a Lava Jato. Em agosto, quando devem
ser julgadas as contas do governo, o que farão Cunha e Renan se tiverem
sido denunciados? Irão novamente se vingar em Dilma homologando a
rejeição? Em março, culparam o governo pela inclusão de seus nomes na
lista de Janot e passaram a hostilizar Dilma. Mas irão novamente à
forra se tiverem se tornado réus junto ao STF? Há quem ache que desta
situação pode surgir tanto um incêndio que a todos devore como também
uma espécie de cessar fogo. Sem o PMDB (que sem Cunha e Renan será
apenas de Michel Temer), por mais que queira, o PSDB não terá votos para
rejeitar as conta de Dilma e aprovar, por dois terços (342 votos) a
abertura de um processo por crime de responsabilidade, que levaria ao
impeachment.
A tempestade de agosto não fica
nisso e promete outras complicações. No final do mês estará se
encerrando o mandato de Janot, que concorre à recondução. Ao longo dele
deve ser apresentada à presidente a lista tríplice dos procuradores mais
votados para o próximo mandato. Janot pode querer antecipar as
denúncias tanto para se fortalecer dentro da corporação como para, mesmo
em caso de não recondução, coroar sua passagem pelo cargo com uma
denúncia contra altos mandarins da República.
No curso de agosto, Dilma tomará a
decisão de reconduzir ou não ao cargo o procurador-geral odiado pelos
dois comandantes do Congresso e por boa parte dos parlamentares, por
conta da rajada de março. Se o fizer, terá cutucado ainda mais as onças
que querem devorar seu mandato. Mas se elas tiverem sido denunciadas,
terão perdido os dentes ou ainda poderão dar um bote fatal em Dilma?
Por tudo isso, Janot vai se tornando
um personagem-chave no desenlace da crise política. Também por isso a
Operação Politeia está incomodando tanto uma parte do Congresso. Por que
pode prenunciar a volta do cipó de aroeira contra os que hoje
chicoteiam Dilma.
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