Valor Econômico - 04/03/2010
Edinho Silva, presidente do diretório do PT-SP, trabalha para construir uma liderança para disputar o Estado. A dificuldade está no enfraquecimento regional do partido, depois que o presidente Lula Inácio Lula da Silva chegou ao poder. Edinho reclama da indefinição do deputado Ciro Gomes (PSB), que atrasa as campanhas nacional e estadual do PT em São Paulo. A seguir, trechos da entrevista dada ao Valor.
Valor: O PT nunca governou São Paulo e nesta eleição aposta em um nome fora do Estado. Como explicar essa dificuldade?
Edinho Silva: O PT nunca conseguiu construir um projeto para governar São Paulo, mas não é que não tenhamos candidatos importantes. Tivemos Suplicy, Dirceu, Marta, Genoino, Mercadante e o próprio Lula. Se o PT hoje é um partido que tem mais de 30% dos votos, devemos muito a essa construção. Mas quando se constrói um projeto para ganhar um Estado ou um país, tem que ter um programa que acumule. Não pode passar a eleição e jogar o programa de governo no lixo ou deixá-lo na gaveta nem lançar a cada eleição uma candidatura diferente. Isso mostra a falta de um projeto para ganhar São Paulo. Teríamos que repetir lideranças.
Valor: Por essa lógica, o candidato seria Mercadante neste ano?
Edinho: Se repetirmos Mercadante, pela primeira vez São Paulo vai entender que o PT tem um projeto para ganhar o Estado. Perdemos com ele (em 2006). Vamos repetir e aperfeiçoar o programa de governo. Isso é interpretado pelo eleitor como um partido que tem projeto para ganhar. Se for uma nova liderança, ela não pode abrir mão do projeto de governar o Estado para disputar um outro cargo ou ocupar outro espaço. Se a liderança se desvia, o partido não acumula forças.
Valor: O PT na Presidência há dois mandatos enfraqueceu o PT paulista? Muitos foram para o governo federal ou para o Congresso.
Edinho: Tínhamos uma ansiedade muito grande de fazer Lula presidente. Faço parte de uma geração que começou a militar inspirada no Lula. Respirávamos, dormíamos, acordávamos, nos alimentávamos do sonho de eleger Lula. Mesmo Genoino, quando foi ao segundo turno, era nítido que todos os quadros estavam focados no Lula. A campanha de Genoino ficou esquecida. Se tivéssemos olhado para a campanha com um pouco mais de carinho, ele poderia ter ganho. O PT de São Paulo tem a dimensão do PT nacional. O núcleo fundador do PT era muito paulista e centrou no Lula. Deixamos de pensar um projeto para São Paulo com começo, meio e fim com planejamento, política de alianças e programas de governo.
Valor: O PT tem 64 prefeituras e o PSDB, 205. Com PMDB e DEM, a oposição detém 54,1% dos municípios. Como reverter esse quadro?
Edinho: O enraizamento do PSDB no interior vem desde Covas e passa por Alckmin e Serra. São quatro governos sucessivos que criaram uma relação com a sociedade, mas há desgaste. Quando se apresenta uma boa proposta, o interior se dispõe a votar no PT. Não é uma resistência enraizada. Não existe rejeição da classe média. Ela vota em proposta que pode não só melhorar sua vida, mas também o ambiente social.
Valor: Qual a estratégia para enfrentar a coligação PSDB-DEM?
Edinho: O projeto do PSDB e do DEM vive o seu pior momento. Existe um sentimento por um novo projeto de gestão. O PSDB vive um momento difícil por não ter conseguido responder a problemas centrais, como segurança, educação, saúde e agora os problemas ocasionados pelas chuvas. Não adianta dizermos que está errado, temos que mostrar as propostas para cada uma dessas áreas. A Educação deve ser o centro do debate, o Estado não pode estar entre os piores. Não pode liderar os mais baixos salários de policiais ou mostrar cenas terríveis como as das enchentes.
Valor: O partido está perdendo a vantagem de tempo sobre Serra?
Edinho: Exatamente. O PSDB e o DEM vivem o seu pior momento talvez desde o governo Covas. Deveríamos estar mais ofensivos no debate e não conseguimos. E não é só a conjuntura nacional, como o caso do governador Arruda, que interfere. Tem a falta de investimento anti-enchentes. As imagens que São Paulo mostrou são duríssimas para a figura do governador, para a figura de bom gestor. É claro que parte do desgaste é conjuntural. Em junho e julho não teremos enchentes. Mas o desgaste deixa cicatrizes.
Valor: O PT ainda não tem candidato em São Paulo. Isso atrapalha?
Edinho: Não é o quadro que desejamos, mas fizemos tudo o que poderíamos. Mobilizamos o partido no Estado e formulamos diretrizes de um programa de governo. Temos um diagnóstico do Estado debatido em cada região e uma equipe trabalhando. Construímos um campo político com nove partidos, que pode chegar a onze. Temos dialogado com a direção nacional do PT e com a coordenação da campanha da ministra Dilma para definir o quadro nacional o mais rápido possível. Sem isso, fica muito difícil dar continuidade à construção da tática em São Paulo.
Valor: O partido está travado pela indefinição de Ciro Gomes?
Edinho: Enquanto não tiver uma definição do PSB, não temos como avançar. Definida a tática nacional, resolvemos São Paulo em uma semana, dez dias. A indefinição nacional começa a atrapalhar a construção do palanque da ministra Dilma no Estado, que tem 22,3% do eleitorado do país. É o Estado do nosso principal adversário. Aqui se define a vitória ou a derrota eleitoral. Cada dia que passa é um a menos para que estejamos construindo o palanque da ministra Dilma. O esforço é para definir até o fim de março. Precisamos correr o Estado. Temos dificuldade no interior, onde a diferença entre Serra e Dilma aumenta muito. Precisamos ter encontros com prefeitos, movimento sociais, confrontar projetos. São Paulo é onde mais se materializa a política do PSDB, onde se tem as matrizes administrativas dos oito anos de governo FHC.
Edinho Silva, presidente do diretório do PT-SP, trabalha para construir uma liderança para disputar o Estado. A dificuldade está no enfraquecimento regional do partido, depois que o presidente Lula Inácio Lula da Silva chegou ao poder. Edinho reclama da indefinição do deputado Ciro Gomes (PSB), que atrasa as campanhas nacional e estadual do PT em São Paulo. A seguir, trechos da entrevista dada ao Valor.
Valor: O PT nunca governou São Paulo e nesta eleição aposta em um nome fora do Estado. Como explicar essa dificuldade?
Edinho Silva: O PT nunca conseguiu construir um projeto para governar São Paulo, mas não é que não tenhamos candidatos importantes. Tivemos Suplicy, Dirceu, Marta, Genoino, Mercadante e o próprio Lula. Se o PT hoje é um partido que tem mais de 30% dos votos, devemos muito a essa construção. Mas quando se constrói um projeto para ganhar um Estado ou um país, tem que ter um programa que acumule. Não pode passar a eleição e jogar o programa de governo no lixo ou deixá-lo na gaveta nem lançar a cada eleição uma candidatura diferente. Isso mostra a falta de um projeto para ganhar São Paulo. Teríamos que repetir lideranças.
Valor: Por essa lógica, o candidato seria Mercadante neste ano?
Edinho: Se repetirmos Mercadante, pela primeira vez São Paulo vai entender que o PT tem um projeto para ganhar o Estado. Perdemos com ele (em 2006). Vamos repetir e aperfeiçoar o programa de governo. Isso é interpretado pelo eleitor como um partido que tem projeto para ganhar. Se for uma nova liderança, ela não pode abrir mão do projeto de governar o Estado para disputar um outro cargo ou ocupar outro espaço. Se a liderança se desvia, o partido não acumula forças.
Valor: O PT na Presidência há dois mandatos enfraqueceu o PT paulista? Muitos foram para o governo federal ou para o Congresso.
Edinho: Tínhamos uma ansiedade muito grande de fazer Lula presidente. Faço parte de uma geração que começou a militar inspirada no Lula. Respirávamos, dormíamos, acordávamos, nos alimentávamos do sonho de eleger Lula. Mesmo Genoino, quando foi ao segundo turno, era nítido que todos os quadros estavam focados no Lula. A campanha de Genoino ficou esquecida. Se tivéssemos olhado para a campanha com um pouco mais de carinho, ele poderia ter ganho. O PT de São Paulo tem a dimensão do PT nacional. O núcleo fundador do PT era muito paulista e centrou no Lula. Deixamos de pensar um projeto para São Paulo com começo, meio e fim com planejamento, política de alianças e programas de governo.
Valor: O PT tem 64 prefeituras e o PSDB, 205. Com PMDB e DEM, a oposição detém 54,1% dos municípios. Como reverter esse quadro?
Edinho: O enraizamento do PSDB no interior vem desde Covas e passa por Alckmin e Serra. São quatro governos sucessivos que criaram uma relação com a sociedade, mas há desgaste. Quando se apresenta uma boa proposta, o interior se dispõe a votar no PT. Não é uma resistência enraizada. Não existe rejeição da classe média. Ela vota em proposta que pode não só melhorar sua vida, mas também o ambiente social.
Valor: Qual a estratégia para enfrentar a coligação PSDB-DEM?
Edinho: O projeto do PSDB e do DEM vive o seu pior momento. Existe um sentimento por um novo projeto de gestão. O PSDB vive um momento difícil por não ter conseguido responder a problemas centrais, como segurança, educação, saúde e agora os problemas ocasionados pelas chuvas. Não adianta dizermos que está errado, temos que mostrar as propostas para cada uma dessas áreas. A Educação deve ser o centro do debate, o Estado não pode estar entre os piores. Não pode liderar os mais baixos salários de policiais ou mostrar cenas terríveis como as das enchentes.
Valor: O partido está perdendo a vantagem de tempo sobre Serra?
Edinho: Exatamente. O PSDB e o DEM vivem o seu pior momento talvez desde o governo Covas. Deveríamos estar mais ofensivos no debate e não conseguimos. E não é só a conjuntura nacional, como o caso do governador Arruda, que interfere. Tem a falta de investimento anti-enchentes. As imagens que São Paulo mostrou são duríssimas para a figura do governador, para a figura de bom gestor. É claro que parte do desgaste é conjuntural. Em junho e julho não teremos enchentes. Mas o desgaste deixa cicatrizes.
Valor: O PT ainda não tem candidato em São Paulo. Isso atrapalha?
Edinho: Não é o quadro que desejamos, mas fizemos tudo o que poderíamos. Mobilizamos o partido no Estado e formulamos diretrizes de um programa de governo. Temos um diagnóstico do Estado debatido em cada região e uma equipe trabalhando. Construímos um campo político com nove partidos, que pode chegar a onze. Temos dialogado com a direção nacional do PT e com a coordenação da campanha da ministra Dilma para definir o quadro nacional o mais rápido possível. Sem isso, fica muito difícil dar continuidade à construção da tática em São Paulo.
Valor: O partido está travado pela indefinição de Ciro Gomes?
Edinho: Enquanto não tiver uma definição do PSB, não temos como avançar. Definida a tática nacional, resolvemos São Paulo em uma semana, dez dias. A indefinição nacional começa a atrapalhar a construção do palanque da ministra Dilma no Estado, que tem 22,3% do eleitorado do país. É o Estado do nosso principal adversário. Aqui se define a vitória ou a derrota eleitoral. Cada dia que passa é um a menos para que estejamos construindo o palanque da ministra Dilma. O esforço é para definir até o fim de março. Precisamos correr o Estado. Temos dificuldade no interior, onde a diferença entre Serra e Dilma aumenta muito. Precisamos ter encontros com prefeitos, movimento sociais, confrontar projetos. São Paulo é onde mais se materializa a política do PSDB, onde se tem as matrizes administrativas dos oito anos de governo FHC.
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