Fernando Henrique Borgonovi *
Eis o fato. Em entrevista a uma rádio do Recife, José Serra criticava o patamar da taxa de juros, dizia ainda outra vez que é de esquerda e ladainhas outras. De repente, ao desviar dos assombrosos índices de popularidade de Lula, tal como o peixe, morreu pela boca. "O Lula está acima do bem e do mal. Não me compare com ele", afirmou o candidato de oposição.
É impressionante como falta de discurso, a inexistência de projeto para o país acabou produzindo um tipo de candidatura sui generis: aquela que para tentar derrotar Lula precisa convencer o eleitorado que é mais lulista do que o próprio.
Tática um tanto perigosa para eles. Vá lá que martelassem o engodo do "pós-Lula". Mas agora o oportunismo chegou ao descaro completo: fingem adorar, como um santo no altar, o presidente que tentaram derrubar em 2005, a quem fizeram sistemática oposição nestes quase oito anos.
O cristão novo não é só o candidato a presidente. Aos poucos a linha vai angariando adeptos no restante de seu partido. Quando confrontado com a afirmação de Serra, o ainda senador Sérgio Guerra saiu-se com essa: "Temos as nossas restrições, mas o fato concreto é esse. Não é oportunismo dizer que Lula está acima do bem e do mal."
Se não há oportunismo, então há conversão, catequese. Sendo assim deveriam admitir de público os êxitos do presidente e do governo. Deveriam ainda se penitenciar para comprovar o arrependimento, afinal a humildade é uma das virtudes cristãs.
Ironias à parte, fiquemos por hoje com a opinião dos próprios tucanos. E, se Lula escolheu a Dilma, espera-se que os novos devotos também o sigam.
Estreante
Esta é minha primeira coluna no Vermelho, algo que muito me honra. A paciência dos leitores só será aborrecida uma vez por quinzena. Até.
* Jornalista, diretor de Comunicação da UJS
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