O candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, afirmou no debate promovido pela RedeTV!/Folha no domingo (17) à noite que o Terra não publicou uma explicação que ele teria dado em Goiânia sobre o ex-diretor do Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) Paulo Vieira de Souza, também conhecido como Paulo Preto. Na verdade, o portal publicou as únicas informações a respeito dadas por José Serra naquele dia. E mais: em todos os demais portais, jornais, emissoras de rádio e TV não há nenhum registro de explicação adicional do candidato Serra além do que foi veiculado na segunda-feira (11).
Acima, disponível para os internautas, o áudio da pergunta e a resposta de Serra no debate da RedeTV! e também o áudio do que ele disse exatamente em Goiânia.
Em tempo: Paulo Preto, segundo Dilma Rousseff afirmou no debate da TV Bandeirantes no domingo (10), ao referir-se a matérias de revistas semanais, teria sumido com R$ 4 milhões arrecadados para a campanha eleitoral tucana.
Minutos após o debate na Rede TV! a repórter Marcela Rocha, do Terra, questionou o candidato sobre qual reportagem e a que dia ele se referiu no debate. Serra detalhou estar se referindo ao texto enviado na segunda-feira (11) desde "Goiânia".
Marcela Rocha não esteve em Goiânia. Mirelle Irene, correspondente do Terra em Goiás, acompanhou o candidato na segunda (11). E foi quem escreveu a reportagem aqui publicada e quem tem em mãos o áudio reproduzido acima.No único trecho em que Serra cita Paulo Preto, ou Paulo Vieira de Souza, Mirelle Irene descreve:
- Eu não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês (imprensa) fiquem perguntando. Serra disse ainda que não iria gastar horas de um debate nacional discutindo "bobagens".
A respeito, uma semana depois, a repórter Mirelle Irene relata:
- Aquele foi o único momento em que o candidato Serra tocou no assunto. E o que eu, em essência reproduzi, foi o que os demais meios todos reproduziram.
O candidato fez a afirmação sobre o Terra ao responder à seguinte pergunta da jornalista Renata Lo Prete, colunista do jornal Folha de S. Paulo. "Seu partido critica o governo Lula por não saber do mensalão. Agora surge no noticiário um personagem chamado Paulo Preto. O senhor disse que não conhecia ele e depois disse que o conhecia. Hoje, foi publicado que o senhor empregou uma filha dele em seu governo. Candidato, o senhor sabia disso?".
Na resposta, o candidato alegou que o Terra não publicou reportagem onde ele teria dado outras explicações sobre o caso. Afirmou José Serra:
- Olha, a pergunta termina até sendo oportuna para esclarecer. Em primeiro lugar, o que o PT levantou na base da estratégia do pega-ladrão? O sujeito bate a carteira do outro e sai correndo dizendo pega ladrão, pega ladrão para distrair a atenção . Esse é o método. Veja só: disseram que alguém tinha recebido uma contribuição para minha campanha e não tinha entregue a contribuição. Ou seja, eu sou a vítima. O que eu disse é: eu não conheço esse problema. Nunca. Isso não aconteceu na minha campanha. Nem se trata de dinheiro de governo. É uma contribuição para uma campanha que alguém teria pego e não entregue para a campanha. Só que eu não soube disso. Nunca ninguém veio reclamar de que doou e não chegou e nem quem tá cuidando desse assunto na minha campanha fez qualquer observação nesse sentido. Disseram que o Paulo Souza. Eu não neguei que o conhecia.
Na continuação, José Serra citou o Terra, que publicou basicamente a mesma conversa que os demais meios de comunicação, como se pode ver em outros textos expostos nesta página:
- Eu fui numa segunda-feira a Goiânia e veio a repórter e perguntou: o Paulo Preto. Paulo Preto pra mim, eu não o conhecia assim. E Paulo Preto é um apelido que se dá preconceituoso e racista. Se ele fosse japonês, iam chamar de Paulo Amarelo? Será? Não. Mas como ele é descendente de africanos, puseram Paulo Preto. Paulo Preto. Essa foi a pergunta. Não foi Paulo Souza. E eu disse: Não. Não conheço. E expliquei do que é que se tratava que eu acabei de explicar aqui. Mas não foi publicado. Pode pegar o site do Terra que publicou isso e eles não publicaram a minha explicação sobre o assunto. Então eu não neguei. Não tem nada a ver.
O áudio transcrito da conversa no aeroporto de Goiânia é o seguinte:
Jornalista: Eu posso fazer uma pergunta? (confusão, vozes).
José Serra: Eu tenho que ir embora, eu tenho que ir...
Voz ao fundo (jornalista): ... do Paulo Preto...
José Serra: Isso é pauta petista. É pauta petista...
Jornalista: Mas essa questão do Paulo Preto...
José Serra: Mas eu nunca ouvi falar, eu não sei quem é o Paulo Preto. Quem é o Paulo Preto?
Jornalista: ... sobre a campanha, diz que é um dinheiro de campanha que não foi declarado...
José Serra: Nunca ouvi falar, nunca ouvi falar disso. Eles põem factoides para que vocês perguntem pra ficar rendendo. Eu nunca ouvi falar disso. Primeiro que não é fácil entender naquele programa o que ela estava dizendo. Segundo, nunca aconteceu. O que eu vou ficar dizendo? Gastar horas de um debate nacional com coisas que eu não tenho a menor ideia? E são bobagens. Na minha campanha não teve nada desviado. Nunca ouvi falar, perguntei pra todo mundo, e daí? Você entende? São coisas dessa natureza.
Na verdade, a única resposta do candidato Serra naquela segunda-feira (11) em Goiânia foi a que, com pequenas variações, foi publicada, da forma que se segue, pelos mais variados meios de comunicação.
Ainda mais: o Terra ouviu nesta segunda-feira (17) jornalistas que acompanhavam Serra na capital de Goiás. Unanimidade no desconhecimento de qualquer outra manifestação do candidato sobre Paulo Vieira de Souza, ou Paulo Preto, como também se verá nas linhas que se seguem.
Christiane Samarco é repórter do jornal O Estado de S.Paulo. Em sua reportagem de enviada especial a Goiânia, Samarco relatou: "Serra não quis comentar por que não respondeu a Dilma quando ela sugeriu que ele "deveria se lembrar de Paulo Vieira de Souza, seu assessor, que fugiu com R$ 4 milhões". Foi uma referência ao ex-diretor da Dersa paulista, citado na operação Castelo de Areia e que teria captado doações de recursos que não teriam sido repassados à campanha tucana. "Nunca ouvi falar disso e não sei do que se trata. Eles (os petistas) põem factoides para que a imprensa pergunte. Por que vou gastar horas de um debate nacional com coisas que eu não tenho ideia?", indagou. "Sou candidato. Você acha que eu não saberia se tivesse havido isso?"
Ao Terra, Christiane Samarco garantiu nesta segunda (18):
- O candidato Serra não disse nada além disso a respeito do Paulo Preto ou Paulo Viera. Não, não teve nada, isso foi no aeroporto e em seguida ele foi indo para o embarque.
Núbia Lobo é repórter do jornal O Popular, de Goiânia. Sua matéria não abordou o tema em momento algum, mas também ela, ouvida pelo Terra, declarou:
- Ele (Serra) não queria falar sobre o assunto (Paulo Preto), tanto na coletiva na rua quanto no aeroporto. Ele se esquivou, e só falou quando foi pressionado. Ele disse bem claro: "Quem é Paulo Preto?". Fora isto, acompanhando ele até a porta do avião, Serra apenas repetiu que não o conhecia.
Edson Luiz é repórter do Correio Braziliense que cobriu a viagem do candidato Serra a Goiânia. No tópico Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, escreveu Edson Luiz, repórter há 30 anos e há 3 anos no Correio Braziliense: "Até então tranquilo, José Serra só ficou irritado quando foi indagado sobre Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, que seria um dos arrecadadores de dinheiro para sua campanha. Segundo reportagem da revista Istoé, Preto teria sumido com R$ 4 milhões da campanha tucana. O presidenciável disse desconhecer o assunto, mas ficou nervoso."Eu sou o candidato, você acha que eu não saberia se tivesse havido isso?"
Ao Terra, nesta segunda (18), descreveu Edson Luiz:
- Serra só falou de Paulo Preto no aeroporto, antes de embarcar de volta para São Paulo, quando perguntado.
Pergunta do Terra: "E na caminhada por Goiânia, em nenhum momento ouviu qualquer menção ao caso Paulo Preto? Nem numa possível conversa em particular ao longo do caminho?"
Resposta de Edson Luiz:
- Não houve conversa particular. Serra chegou e caminhou uns 20 metros, se tanto, no meio de um tumulto. Logo foi posto no alto de um carro de som, uma espécie de trio elétrico. De lá de cima ele discursou, mas não falou nada de Paulo Preto. No fim da caminhada, Serra deu uma entrevista coletiva, tumultuada, no meio da rua, ao descer do carro de som. Nesse momento, alguém fez a primeira pergunta sobre o Paulo Preto , mas Serra não respondeu.
Venceslau Pimentel é repórter do jornal O Hoje, de Goiânia. Sua reportagem também não mencionou o tema Paulo Preto. Ao Terra,, depõe Venceslau, 49 anos, 24 de jornalismo:
- O assunto Paulo Preto, ou Paulo Vieira, só surgiu em dois momentos. Ao final da caminhada, numa entrevista em meio a um tumulto, quando uma repórter gritou a pergunta "e o que o senhor sabre sobre o Paulo Preto?" e, acho, pode ser que ele não tenha ouvido. E depois, já no aeroporto, quando ele disse aquela frase que todos já publicaram.
No portal iG, sobre o mesmo assunto Adriano Ceolin publicou na segunda (11): "Isso é pauta petista. Não sei quem é o tal preto. Nunca ouvi falar disso. Eles (o PT) põem factoides para vocês virem perguntar", disse Serra. "Eu não entendi o que ela (Dilma) estava dizendo. Não ficar aqui gastando horas de um debate nacional com coisas que não tenho a menor ideia".
No dia seguinte, terça-feira (12), em viagem à Aparecida do Norte, questionado por jornalistas o candidato Serra falaria novamente sobre o caso Paulo Preto.
A Folha de S. Paulo publicou, nesse dia, reportagem de Andréa Michael sobre o assunto. A Folha.com expôs a íntegra da entrevista feita pela jornalista com ex-diretor de Engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto.
Nos trechos mais incisivos, o executivo que coordenou as obras no Rodoanel e Marginal Pinheiros no governo Serra revelou que Serra o conhecia e que com o governador havia conversado "umas dez vezes". E desabafou:
- Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro.
O Terra, neste dia, publicou reportagem, como outros veículos. Descreve a matéria do Terra: "Na visita à basílica de Nossa Senhora da Aparecida, Serra alegou que Paulo nunca trabalhou na arrecadação de verba para financiamento de campanha e buscou desmentir matéria da revista Istoé. Segundo a revista, o engenheiro teria procurado empresários e pedido colaboração para a campanha antes de sumir com o dinheiro".
Na entrevista em Aparecida, o tucano garantiu que "em absoluto, não houve nada parecido". Também afirmou que a acusação contra o ex-diretor era "injusta" e assegurou não ter havido nenhum desvio por parte de ninguém em sua campanha. "Isso tinha sido uma bobagem que saiu numa reportagem de uma revista, inclusive, tratando Paulo Souza de maneira preconceituosa, com um apelido preconceituoso". Fez, por fim, a defesa de Paulo Viera, o Paulo Preto: "Só sabia que o engenheiro era muito competente e que nunca ouviu nenhuma acusação contra ele".
Com variações de fraseado e detalhe, os demais meios publicaram as mesmas informações sobre a entrevista em Aparecida, ainda que Serra tenha dito que se referiu, no debate, à conversa com jornalistas em Goiânia, na véspera.
O Terra Eleições, que faz a mais ampla cobertura da campanha em todo o País, já publicou 7049 notícias e 486 galerias sobre as disputas em 27 estados e pela presidência da República. Os repórteres Claudio Leal e Marcela Rocha acompanham, Brasil afora, os candidatos Dilma Roussef e José Serra, assim como foram e são acompanhados Marina Silva e Plinio de Arruda Sampaio. Quando os repórteres "carrapatos" não estão, colaboradores do Terra em cada Estado seguem os candidatos.
Tudo de relevante que dizem os candidatos a presidente é publicado em tempo real. Talvez, quem sabe, a questão não esteja no que o Terra não publicou e, sim, no que tem publicado como exige o jornalismo plural.
Terra Magazine
Ouça aqui o áudio com as palavras do vabagundo safado
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