quinta-feira, 10 de março de 2011

Comissão da Verdade é imperiosa


Em uma quarta-feira de cinzas em que a gente acorda não esperando nada mais do dia além da apuração do resultado das escolas de samba no Rio, apareceu nos jornais documento das Forças Armadas, enviado ao ministro da Defesa Nelson Jobim, com críticas à instalação da Comissão Nacional da Verdade, destinada a esclarecer os crimes cometidos na ditadura militar.


A comissão parece irreversível e o documento seria apenas a queixa natural do setor mais envolvido com as atrocidades cometidas durante os 25 anos do regime de exceção, mas merece observação pelos argumentos levantados pelos militares, que, mais do que evitar, justificam o esclarecimento da verdade sobre esse período trágico da história brasileira.


Os militares argumentam que a instalação da comissão “provocará tensões e sérias desavenças ao trazer fatos superados à nova discussão”. Que tensões e desavenças surgirão do debate é natural. O tema é delicado e dolorido para ser tratado com indiferença ou restrito aos debates do Congresso sem o envolvimento da sociedade. É até bom que assim seja para que a questão seja encarada de frente e resolvida de uma vez por todas, de acordo com os resultados e suas conseqüências.
O que precisa ficar claro é se por trás desta constatação está alguma ameaça. Se os militares consideram que tensões e desavenças podem afetar a ordem institucional. Neste caso, mereceriam um enquadramento por insubordinação. Os militares devem obediência e respeito a um projeto do Executivo, que foi enviado ao Congresso e segue os ritos democráticos do país.


A continuação desta argumentação – que considera os fatos superados – é completamente equivocada. É justamente por não estarem superados que eles voltam à tona. O Brasil não pode seguir adiante sem esclarecer o destino de parte de seus filhos e a responsabilidade por suas torturas e mortes. Este é um capítulo inconcluso de nossa história, que só serenará quando tiver um ponto final, não na forma de lei, como Carlos Menem tentou fazer com decreto homônimo na Argentina, mas com a revelação de tudo o que aconteceu no período.


Os militares prosseguem suas queixas afirmando que “o Brasil vive hoje situação política, econômica e mundial completamente diferente do momento histórico em que os fatos ocorreram. Comissões dessa natureza costumam ser criadas em um contexto de transição política. O que não é o caso na atualidade. Passaram quase 30 anos do fim do governo chamado militar e muitas pessoas que viveram aquele período já faleceram; testemunhas, documentos e provas praticamente perderam-se no tempo, é improvável chegar-se realmente à verdade dos fatos. Assim sendo, a criação de uma Comissão da Verdade não faz mais sentido, considerando que o Brasil superou muito bem essa etapa da sua história quando comparado a outros países do continente, que até hoje vivem conseqüências negativas de períodos históricos similares.”


Este longo trecho merece transcrição completa pelas contradições que encerra. A sentença de abertura tenta justificar crimes contra a humanidade, como a tortura, por um determinado período histórico. Talvez os militares estejam se referindo à guerra fria, mas, se for isso, precisariam se justificar. O Brasil não vivia um período tão diferente assim. Estávamos em plena democracia, governados por um presidente, que assumiu o cargo em função da renúncia do titular, como previa a Constituição. É importante recordar que, à época, o vice-presidente também era eleito pelo voto direto, e que Jango era de partido oposto ao de Jânio Quadros, que acabou renunciando. Assim, Jango era um governante democraticamente eleito e não fruto do acaso, como Sarney viria a ser duas décadas depois.


O fato de comissões da verdade serem, em geral, instaladas em contexto de transição não impede que uma seja criada no Brasil, agora. A Argentina continua julgando os militares responsáveis por crimes da ditadura naquele país, e cada fato novo legitima novo inquérito e julgamento. O tempo decorrido dos crimes cometidos também não é justificativa para a sua não apuração. Os militares se incriminam ao afirmar que “documentos e provas perderam-se no tempo”. Como assim? As pessoas que foram presas, torturadas e mortas estavam em poder do Estado brasileiro. Registros de prisão e processos são obrigatórios. Documentos certamente existiram e se acabaram por se perder no tempo foi por obra de alguém, certamente a parte interessada.


Ao contrário do que afirmam os militares, o Brasil não “superou muito bem essa etapa de sua história”, justamente pelo fato de ela não ter sido esclarecida até hoje e de só ter beneficiado os que praticaram os crimes. Os militares consideram que o governo que comandaram com mão de ferro por um quarto de século “não foi derrubado pelas forças políticas, mas sim ensejou processo lento e gradual de transição e devolução do poder aos civis, promovendo verdadeira reconciliação nacional.”


Parecem desconhecer as forças da história, que os obrigaram a levar adiante o processo inexorável de abertura. Bolsões sinceros e radicais até tentaram prorrogar o período de vigência da ditadura, mas seus dias estavam definitivamente contados pela pressão interna e externa. A democracia não foi concedida de bom grado e sim conquistada pela resistência democrática, exercida das mais diferentes formas.


O documento das Forças Armadas reconhece “o direito legítimo das famílias buscarem seus entes desaparecidos”, mas questiona o suposto uso de uma “causa nobre” para retaliações políticas. Ora, se os militares reconhecem o direito das famílias, deveriam contribuir para esclarecer o que aconteceu com seus filhos e não evitar apurações. As retaliações que porventura vierem da verdade serão de natureza jurídica e não política. Os militares perderam uma boa oportunidade de ficarem calados. Sua argumentação só reforça a necessidade imperiosa de uma comissão da verdade que traga à luz o que tanto se esforçam para manter sob o tapete.


Mair Pena Neto, Direto da Redação

11 comentários:

Anônimo disse...

Esta é a maior comissão da mentira jamais criada. Será que ela vai reconhecer que os que foram para a ação armada jamais tiveram a democracia e os direitos humanos como fim? Que na verdade, o assalto aos cofres públicos para se auto-indenizarem pelos seus crimes foram uma aberração e uma recompensa pelos crimes cometidos? A comissão da verdade que nós precisamos é saber o que ocorria no Clube da Cidadania de Diogenes de Oliveira, o que ocorreu com Celso Daniel, e o propinoduto para José Dirceu. A verdade do mensalão e o verdadeiro Chefe. As tramóias dos aloprados e a origem do dinheiro das cuecas e da compra do dossiê. Saber a verdade da casa de tolerância que Dilma transformou a Casa Civil com a Erenice Guerra. Estas são as verdades atuais e que a todos atingem.

O TERROR DO NORDESTE disse...

Aanônimo, não.Queremos saber como a Folha, a Veja, Estadão, Globo agiram prestando auxilio aos milicos naquele período de obscurantismo, queremos saberm como agiam os cabeças do CCC, queremos saber quem financiou a Operação Condor, queremos saber quem líderava da TFP e os nomes de seus seguidores, queremos saber o papel que Serra, FHC, Aloisio Nunes, Alberto Gildman desempenharam no período, afinal, foram tão bonzinhos, quando no governo, para os EUA, queremos saber como agia Bolsonaro, queremos saber como a Ford financiou FHC, queremos saber quanto FHC ganhou dos milicos para implantar sua agenda neoliberal no Brasil, com a venda de nossas estatais, criadas com fruto do suor, do sangue do povo

Antônio Carlos disse...

Parece que o anônimo que justificar os crimes do passado com os crimes supostamentes dos dias atuais. Se o que ele citou é crime que vá a justiça e se apure e puna os culpados. Agora, é bom lembrar que os crimes atuais não inocenta os torturadores do passado.

Anônimo disse...

Dever-se-ia criar uma comissão para averiguar e desvendar os numeroso crimes e assassinatos praticados pelos guerrilheiros comunistas, que fracassaram em sua tentativa insana de instaurar uma ditadura castrista aqui. Esta é a grande mágoa desta vagabundagem toda: os milicos da época deram uma coça nestes trastes e eles até hoje lambem as feridas, ao mesmo tempo em que assumem pose postiça de vítimas da História, se remoendo am auto-piedade e comiseração. Lindas lágrimas de crocodilo.

O TERROR DO NORDESTE disse...

Anonimo, seu querido FHC não vai gostar de saber que voce anda chamando ele de comunista.Serra também não vai gostar.

Anônimo disse...

Ora...

Quando a esquerdalha uivante irá realmente falar a verdade?

Quando será que os assasinos, assaltantes de bancos e terroristas irão, num momento de insanidade (no mundinho vermelho de sua existência)fazer o devido mea culpa, admitindo que queriam não a democracia, mas a implantação de uma ditaduta comunista?

Aliás, ditadura vermelha essa que já estamos vivendo...

Anônimo disse...

Ditadura vermelha... onde se pode dizer o que quer, que a livre expressão é respeitada. Ditadura vermelha que o senhor não quer abandonar, quando lhe foi sugerido sair do Brasil, já que não está contente. Aí o senhor respondeu que não saía.

Não dá para perder tempo com o senhor. Eu estou habituado a lidar com pessoas normais.
Desculpe o mau jeito.

Anônimo disse...

Ao último anônimo:

É fácil deduzir que você se dirige a mim, Isaías. Alíás, está se tornando hánito atribuir à minha autoria todas as manifestações anõnimas que ocorrem no blog, numa clara demonstração de que vocês, além de não terem "estilo", também não distinguem o "estilo" dos outros. Assim, basta que alguém tenha opinião cntrária ao pensamento único que os cega, para que seja logo taxado de "demo-tucano", e basta manifestar-se anonimamente no blog para que seja eu. Para ser generoso, condescendente e dizer o mínimo, será que vocês não percebem o quanto são pueris?

Devo admitir, no entanto, que concordo em gênero, número e grau com o que o outro anônimo escreveu. E mais: acho que os militares cometeram duas falhas enormes, e que foram: ter tratado com muita brandura essa gentalha que hoje está aí, de volta às suas estripulias comunistórides, e ter permitido que as "zesquerdas" ganhassem a guerra da informação, subsequente à surra que levaram no período da "ditabranda", o que lhes permitiu que instalassem, ao longo dos anos, sucessivas "comissões da mentira" para espalhar versões adulteradas do que realmente aconteceu naquela época. A maior de todas elas é a de que esses farsantes eram anjinho barrocos, e que lutaram pela democracia, quando, na verdade, amargamos uma ditadura militar justamente porque eles queriam implantar uma ditadura comunista no país, transformando-nos numa imensa "ilha-presídio", à feição de Cuba. E, se tivessem vencido, os mortos teriam que ser contados às centenas de milhares, na mesma proporção do que ocorreu em Cuba, sob a batuta, ou melhor, sob a "metralhadora" do carniceiro Fidel e do "porco fedorento" Guevara.

Essa, infelizmente, é a verdade que a tal comissão revanchista jamais irá apurar.

Anônimo disse...

Correção: favor substituir "anjinho barrocos" por anjinhos barrocos.

VERA disse...

EPA!!! EXPERT em "ASSALTO A COFRE PÚBLICO" é quadrilha demo-tucanalha que frequenta diariamente aspáginas policiais dos jornais!!! E quem ESPOLIOU o País e enviou (e ainda envia) propinas a paraísos fiscais é a DEMO-TUCANALHA, atavés de seus chefões: FgagáC-cafajeste-maconheiro-vendilhão-da-Pátria, Zé-bolinha-baixaria-pedágio, Alkimintiroso e Aecim-pó-pará!!!
DE OUTRA COMISSÃO da VERDADE, o que precisamos saber é sobre os PROPINODUTOS dos MENSALEIROS: do AZEREDO-CEMIG-COPASA; do ARRUDA-panetone; da YEDA-CRUZES-DETRAN-BANRISUL; do SERRÁGIO-ALSTOM-ROUBANEL; do ALKIMINTIROSO-CDHU-ASLTOM-DASLU; do FgagáC-vendilhão-da-Pátria-comprador-de-votos; das maracutaias do prefeito-corrupto de Jandira; dos sobrinho e cunhado do Alkimintiroso, ladrões de dinheiro da merenda; do Artur-funcionário-fantasma; da Jaqueline roriz e o pai-mensaleiros do DF; do paulo preto; do Baros munhoz-três milhões-de-Itapira; o Indiota-ladrão-de-merenda do ... IH!!! Cansei!!! Os meliantes são em tal número que é cansativo escrever os nomes de todos!!!

Estas são as VERDADES PASSADAS e ATUAIS que a todos atingiram, e continuam a atingir nas cidades e Estados DESgovernados pelos DEMOS-TUCANALHAS!!!

VERA disse...

"Lágrimas de crocodilo", seu vagabundo, são as suas, pela boquinha que perdeu, quando seus comparsas demos-tucanalhas foram escorraçados de Brasília!!!
Se os "guerrilheiros comunistas" tivessem cometido algum crime, seu tunganotário, isso já teria sido divulgado pela mídia golpista e vira-latas que apoiou os ditadores, únicos e verdadeiros torturadores e assassinos!!! Vc não passa de um arrogante nojento que não sabe nada do que aconteceu no Brasil durante a ditadura e sai por aí repetindo o que diz a mídia assassina que ajudou os milicos torturadores!!! Se é um analfabeto, pelo menos, respeite a dor das famílias que perderam seus entes queridos, seu boçal!!!

E não é que o psicopata agora deu pra fingir que é outra pessoa!!!