quarta-feira, 16 de março de 2011

The Guardian: Governo japonês omite acidentes nucleares


Um telegrama da embaixada dos Estados Unidos em Tóquio, datado de 2008 e vazado pelo site WikiLeaks, foi divulgado na última terça-feira pelo jornal britânico The Guardian, informando que o político japonês Taro Kono afirmou aos diplomatas americanos que o ministério japonês encarregado da energia nuclear estava "encobrindo os acidentes nucleares e ocultando os verdadeiros custos e problemas associados com a indústria nuclear".

"Os ministérios ficaram de mãos atadas em suas políticas, como políticas herdadas dos funcionários de maior hierarquia, que não podiam então desafiar", assegurou Kono nas conversas com os diplomatas estadunidenses.

Os pontos criticados por Kono são diversos, mas se referem fundamentalmente à forma de agir por parte do Ministério da Economia, Comércio e Indústria (METI) e às empresas elétricas do país.

O telegrama, com data de fins de 2008, resume essas criticas realizadas durante um jantar entre o político, então membro da câmara baixa do parlamento, na qual também estavam presentes membros do Conjunto Energético e Econômico.

Taro Kono, segundo o telegrama da embaixada americana, se mostrou obcecado contra o programa nuclear do Japão e sua forma de fazer as coisas. Fez referências especialmente a temas relacionados com o custo e a segurança da energia nuclear.

Se afirma que as empresas de eletricidade japonesas teriam ocultado custos e problemas com a energia atômica, enquanto que a sobretaxa usada nestas áreas foi causada pelo programa de reciclagem de urânio, algo contrário à opinião pública.

Kono também fez críticas de que as empresas elétricas, depois do acidente acontecido com o reator de Monju em 19965, passaram a focar seus planos no reprocessamento dos materiais em lugar de cancelar os planos de desenvolvimento nucleares.

As empresas desenvolveram assim uma técnica de combustível chamada Mixed Oxide, com a qual se reprocessavam os materiais e, para Kono, esse processo é muito caro e seria muito mais barato e eficaz comprar uma montanha de urânio na Austrália.

Além disso, afirma que esse custo foi sendo passado de forma gradual às contas dos clientes, fazendo com que eles tenham uma energia elétrica muito mais cara que em outros países. Perguntado sobre a influência que as empresas elétricas têm no Japão, Kono falou sobre o problema que uma emissora de TV teve por causa disso.

Essa emissora programou uma entrevista em três partes para falar de temas relacionados à energia nuclear. Após a primeira entrevista, as outras duas foram canceladas por causa de pressões que as empresas de eletricidade fizeram contra a emissora de televisão, ameaçando retirar a publicidade da cadeia de TV.

O telegrama também resume as críticas contra o Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão, afirmando que as normas de radiação utilizadas nos testes gerais estão obsoletas, já que esses testes indicam que os alimentos importados exibem taxas de radiação nos mesmos níveis do acidente nuclear de Tchernobyl, de 1986, apesar de outros países terem endurecido essas normas.

Kono também destacou que o METI se mostrou a favor de procurar métodos de energias alternativas, mas sem apoio suficiente e continua ineficaz nesse sentido. A legislação atual obriga as empresas de eletricidade a comprar energia proveniente de métodos alternativos, mas a quantidade que são obrigados a comprar é muito pequena.

O parlamentar diz ainda que os subsídios dados pelo METI para as empresas interessadas eram tão pequenos que tornavam praticamente impossível que os interessados em desenvolvê-las não tivesse êxito no momento de encontrar investidores.

Kono também assinala que o METI é responsável por encobrir acidentes nucleares e ocultar os verdadeiros custos de problemas associados à energia nuclear, afirmando que o METI seleciona e edita as partes das mensagens que deseja e que, posteriormente, são enviadas para os deputados japoneses.

O deputado também demonstra preocupação com os resíduos da energia nuclear e assinala que o Japão não tem um lugar de armazenagem permanente para resíduos de alto nível e, portanto, não têm uma solução para o problema. Além disso, o telegrama também relata da grande preocupação que existe no país com os lugares de armazenamento temporários e a alta atividade sísmica no país, perguntando-se se é uma boa ideia armazenar o material em determinados locais e ter o risco de que esse material infiltre nas águas subterrânias em caso de um terremoto ou de atividade vulcânica próxima.

Não obstante e apesar dessas críticas, o deputado da câmara baixa, de acordo com o telegrama da embaixada americana, sempre se mostrava otimista em relação ao futuro e crê que, com o tempo, o Japão conseguiria obter 100% da sua energia a partir de fontes renováveis.

Fonte: Cubadebate

Um comentário:

PERNAMBUCANO FALANDO PARA E COM O MUNDO disse...

Em se tratando de CATASTROFES, será que eles e o mundo teriam condições de evacuar 100 MILHÕES DE PESSSOAS?