Autor(es): Claudia Safatle |
Valor Econômico - 18/03/2011 |
Uma leitura atenta da entrevista que a presidente da República, Dilma Rousseff, deu ao Valor, ontem, feita por pessoas muito próximas a ela, identifica mensagens importantes não só sobre os objetivos da política econômica deste governo, mas também sobre quem ela considera como sua equipe nessa área. Nas declarações da presidente, segundo essas fontes, estão alguns recados claros: a responsabilidade pela política econômica é dela; os dois principais gerentes dessa política e nos quais ela confia são o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini; e, a partir dessas duas informações, uma terceira fica subentendida - a recomendação para que não se aposte numa disputa entre Mantega e o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. "Ou eles vivem juntos ou morrem juntos", afiançou uma das fontes. Algumas áreas do governo consideram que a disseminação da descrença na gestão fiscal do ministro da Fazenda e as insinuações de que faltam ao presidente do BC experiência e pulso firme têm origem no sistema financeiro. Viria dos bancos, segundo essa interpretação, uma torcida para que Palocci viesse a ter mais peso na concepção do arcabouço econômico. Dilma, na entrevista, abordou um aspecto dessa inquietação: "Não sei se não estão tentando diminuir a importância desse Banco Central porque não tem gente do mercado na sua diretoria", disse. O fato de o BC ter como diretores, atualmente, só funcionários de carreira incomoda o mercado que vê nessa conformação a raiz de uma eventual fragilidade política da autoridade monetária. Como funcionários da casa, de acordo com essa visão, os diretores do BC teriam um suposto compromisso com suas carreiras e com a hierarquia do poder público. É difícil imaginar, porém, que Tombini, depois de presidir a instituição, volte a exercer alguma outra função no BC com a qual ele tenha que se preocupar agora. Restará a ele ir para o setor privado ou para a academia. Dilma disse que não tem nada contra a presença de representantes do mercado na diretoria do BC, que conta hoje com duas vagas (de Estudos Especiais e de Normas) que podem perfeitamente ser preenchidas por nomes do setor financeiro. A presidente também renovou seu aval à política fiscal em curso - que desacelera o crescimento dos gastos - como elemento chave do programa econômico do governo, que mira o combate à inflação sem derrubar o crescimento econômico. Ela quer levar a inflação para o centro da meta de 4,5%, mas rejeita a hipótese de fazer isso às custas de uma redução severa no ritmo de crescimento do PIB. É difícil, no entanto, esperar um aumento de 4,5% a 5% do PIB este ano, como a presidente demarcou. Mas não é impossível crescer algo próximo a 4%, avaliam as fontes do governo, encerrando o ano com uma variação do IPCA em torno de 5%. Os efeitos dos desastres no Japão sobre a economia mundial ainda são de difícil mensuração. A presidente abordou esse assunto com cautela e acredita que os preços internacionais do petróleo podem subir. Na área econômica do governo, há outros temores, inclusive dos impactos de uma desvalorização da taxa de câmbio sobre o elevado endividamento externo das empresas e bancos. Em "compasso de espera" para ver os desdobramentos da tragédia japonesa, o governo desacelerou a preparação de medidas cambiais. Os mais ortodoxos vão encontrar inconsistências nas declarações da presidente. Seja quando ela discorda de que a inflação no país seja decorrente do excesso de demanda, ou quando atribui ênfase especial ao combate à inflação e, ao mesmo tempo, faz uma defesa contundente da indexação do salário mínimo. Antiprivatistas torcerão o nariz para a decisão de fazer concessões dos aeroportos e os reformistas se decepcionarão com a falta de ambição do governo nessa área. Dilma, acima de tudo e a despeito de questões ideológicas, delineou seu plano de voo para os próximos quatro anos. E fez isso de forma pragmática. O jornalista Sidnei Basile formou uma geração de jornalistas na qual me incluo. Nos ensinou que o jornalismo é um serviço de fé pública. Que devemos exercer a profissão com elegância, precisão e correção. Sua morte nos priva de um amigo, de um mestre e de um incansável defensor da liberdade. Claudia Safatle é diretora-adjunta de redação e escreve às sextas-feiras |
sexta-feira, 18 de março de 2011
O plano de voo de Dilma
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Um comentário:
Essa entrevista vai recuperar a confiança de muitos eleitores que se frustraram com Dilma nos primeiros dias de governo.
Eu gostei muito.
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