segunda-feira, 4 de junho de 2012

Serra ataca ônibus e defende obras viárias em São Paulo

José Serra defende o Rouboanel porque é uma fonte de corrupção.


O candidato a prefeito de São Paulo José Serra (PSDB) deu uma declaração preocupante nesta segunda-feira (28). Em debate organizado pelo Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) sobre o livro "O Triunfo das Cidades", do economista americano Edward Glasser, Serra manifestou da seguinte maneira uma de suas discordâncias com o livro, segundo matéria publicada pelo Uol:


“‘Discordo de Glasser quando ele fala em investimentos em ônibus. Em São Paulo, mais linhas de ônibus vão engarrafar a cidade’, disse Serra. Como alternativas, ele defendeu obras viárias visando a "desafogar" o centro da cidade, como o Rodoanel, em São Paulo, e também a ampliação do metrô e trens urbanos na capital paulista", diz a reportagem.


Preocupa que um candidato a prefeito tenha uma visão tão equivocada sobre os desafios da maior metrópole do Brasil na questão da mobilidade. O investimento em transporte público é uma necessidade e uma realidade em cidades de todo o mundo – e não apenas em sua versão sobre trilhos.
Os ônibus trazem inúmeras vantagens para qualquer cidade, como mostram números do consultor de tráfego e transportes Horácio Augusto Figueira: um ônibus convencional transporta 35 pessoas sentadas e ocupa 15 metros de uma faixa de tráfego. Considerando a média de 1,4 pessoa por automóvel – 70% dos carros levam apenas o condutor –, são necessários 25 carros para atender ao mesmo contingente. E, com seis metros cada um, em média, ocupam 150 metros de faixa, dez vezes mais do que um ônibus. Não há como negar esse fato sem negar a matemática.


A solução apresentada por Serra é equivocada, mas não chega a ser surpresa: mais e mais obras viárias. Questão de coerência. Em abril de 2010, o então governador Serra inaugurou duas obras de envergadura: a ampliação da Marginal Tietê e o trecho Sul do Rodoanel, com custos de, respectivamente, R$ 5,03 bilhões e R$ 1,3 bilhão. No momento da inauguração, estimativas do Executivo estadual previam redução de até 12% nos índices de congestionamento da cidade. A realidade, no entanto, foi bem diferente: um ano depois, a média no pico da manhã já alcançava 104 quilômetros de lentidão, 18% maior do que antes das obras.


O que existe e deve ser encarado é uma disputa pela democratização da mobilidade, que significa também uma democratização do acesso à cidade. Os transportes públicos favorecem muito mais gente e devem ter prioridade nas vias, como é, aliás, preconizado pela nova Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), à qual os municípios têm dever de obedecer.


Nesse sentido, a frase de Serra revela também pelo não dito: seu lado. Mostra que o candidato não pretende de forma alguma perturbar o sossego dos donos de carro, mesmo que a grande maioria da cidade pague a conta.Rede Brasil Atual

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