Se
houver contra Lula provas acima de quaisquer dúvidas, que o
ex-presidente seja exemplarmente condenado, na forma escrupulosa da lei.
Se não houver, que o absolvam, também de modo exemplar.
Idênticos
valores se aplicam a Dilma Rousseff, contra quem, ao contrário do seu
antecessor, inexiste acusação formal. Isto é, denúncia apresentada pelo
Ministério Público.
O que não impediu que um jornalista
aparentemente perturbado se esgoelasse bradando que a presidente da
República não pode mais ser tratada como pessoa “honrada'' e “honesta''.
Sentenciou. Virou magistrado. Mas daqueles bem parciais.
Seria ridículo, se o desempenho burlesco não carregasse tintas de tragédia para a democracia _e o jornalismo.
Falei “jornalista''? Perdão pela impropriedade. Corrijo: cheerleader.
Feito o registro do noticiário, permitam-me outro, endereçado aos historiadores do futuro.
Do futuro porque, nesta quadra da história, a serenidade está tão em falta quanto a vacina para a gripe que se alastra.
Esperemos a estiagem, porque a tempestade cospe fúria e afoga a razão.
Daqui
a dez, vinte, trinta anos, quem sabe na pena de um brasilianista,
alguém há de cotejar obsessivamente a cronologia da Operação Lava Jato
com a de eventos políticos relevantes e decisivos.
E constatar que, quando a coincidência é demasiada, deixa de ser coincidência.
Em
4 de março de 2016, na 24ª fase da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro
determinou a condução coercitiva de Lula para prestar depoimento à
Polícia Federal. Tremendo barulho.
Manifestações pró-impeachment
estavam marcadas para menos de dez dias depois. O ambiente mudou.
Bombaram. Em dezembro, haviam sido modestas.
Três dias mais tarde, Moro liberou a divulgação de gravações telefônicas de Lula, inclusive de conversa com a presidente.
Em abril de 2015, ocorrera sincronia semelhante.
O ato pela deposição de Dilma seria no dia 12.
Na antevéspera, deu-se a 11ª fase da Lava Jato, e o clima esquentou.
Cinco dias antes da votação na Câmara que autorizaria o impeachment, desencadearam a 28ª fase.
A
nove dias da data provável para o Senado se pronunciar sobre o
afastamento provisório da presidente constitucional, o procurador-geral
da República denunciou Lula e pediu investigação de Dilma.
Ainda
que sem querer _será?_, a Polícia Federal, o Ministério Público e a
Justiça aumentaram a temperatura às vésperas de acontecimentos políticos
de envergadura.
Algum dia um scholar estudará tudo isso e muita
gente reagirá com ares de surpresa, falsos ou verdadeiros, às conclusões
tão óbvias.
Fonte:Blog do Mário Magalhães
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