31/07/2009
Paulo Cezar da Rosa
Para o bem ou para o mal, um dos efeitos da globalização é a interdependência dos fenômenos de modo quase direto e instantâneo. Quando Yeda ganhou as eleições no Rio Grande do Sul, ela o fez dentro de uma dinâmica particular do Rio Grande do Sul. Mas também atuava dentro de uma lógica e de um cenário fornecido pela onda neoliberal. A experiência dos gaúchos com o Deus mercado, iniciada no governo Antônio Britto (1994-1998), havia sido interrompida pelo PT de Olívio Dutra (1998-2002) e não foi retomada com vigor pelo governo Rigotto (2002-2006). O grande pecado de Olívio teria sido “mandar a Ford embora”, conforme o mantra perpetrado por sua oposição. O grande problema de Rigotto teria sido fazer um governo mediano e indeciso. O eleitor resolveu radicalizar com o PSDB. Yeda aqui, Alkmin lá e, poder-se-ia dizer, McCain mais acima.
Hoje, as teses neoliberais em favor do mercado – haveria menor corrupção, maior desenvolvimento, menor miséria, maior estabilidade – parecem ridículas. Yeda é uma prova viva da falência das teses neoliberais, mas há poucos anos nada disso era assim. O azar de Yeda (e parece que também o de Serra em São Paulo) teria sido assumir um governo quando um tsunami devastador retirava todas as bases de seu projeto e sua credibilidade.
Não perceber a tempo as mudanças de cenário e ambiente vem sendo um problema recorrente dos centauros gaúchos. Em Porto Alegre, por exemplo, o PT não se deu conta da evolução do seu eleitorado. Os petistas eram excelentes fabricantes de discos de vinil. Tinham a melhor indústria da praça. Mas os eleitores começaram a exigir mais, queriam MP-3, Ipods. Os petistas amargaram duas derrotas seguidas. No momento, é o PMDB que não enxerga ou não quer ver. O senador Pedro Simon vem insistindo em defender Yeda Crusius. Nesta quinta-feira, dia 29, em O Globo, o senador afirmou: “Estão fazendo horrores aqui contra a Yeda.“ E mirou no ministro Tarso Genro, dizendo que ele “não se controla”.
Simon se mostra determinado a manter, até o limite, seu partido na base de sustentação do governo gaúcho. O movimento do senador parece inspirado em Lula, que vem atuando para manter Sarney na presidência do senado. Mas Simon não vê as diferenças: para todos já está claro que Lula está defendendo o senador problemático para garantir seus próprios interesses e os do país. Já Simon está defendendo uma governadora problemática e incompetente. Só. Não existe nenhuma nobreza no seu gesto.
Quando Obama disse que Lula é o cara, seus analistas provavelmente já sabiam o que agora se revela. O Brasil já superou a crise e, afinal, para os brasileiros a maior crise do capitalismo mundial revelou-se mesmo uma marolinha. No mundo da política, o tsunami só vai acontecer para a oposição.
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