quinta-feira, 4 de março de 2010

ESTADO FORTE NÃO É CRIME



Considerada pecado mortal nos tempos de neoliberalismo, a defesa de uma maior participação do Estado na economia brasileira passou a ser vista de forma diferente a partir do papel que os bancos públicos tiveram na superação da maior crise do capitalismo global.

Talvez seja por isso que a grande mídia costuma tachar o rótulo de estatizantes as medidas defendidas pelo presidente Lula e sua candidata, Dilma Rousseff, como se o termo continuasse contendo o pecaminoso e o atraso. Essa diferença de visões sobre o papel do Estado na economia é o grande divisor de águas da campanha eleitoral que se aproxima e os dois lados devem assumi-las sem medo.

O lado pró-mercado já o faz, sempre condenando as intervenções do Estado e continuando a considerá-lo como mero regulador. Apesar do fracasso neoliberal, ainda defende que a mão invisível é a melhor condutora da economia, que prescinde da interferência do governo. O lado pró-Estado parecia minoritário, sufocado pela avalanche midiática do mercado, mas ganhou moral com a maneira como superou a última crise, e teve evidências do acerto de sua política com os últimos indicadores divulgados. O mais relevante deles foi o excepcional resultado anual do Banco do Brasil, anunciado recentemente.

Um banco público é um instrumento de políticas públicas, mas sua utilização não pode afetar seu desempenho. Conciliar o que era muitas vezes apregoado como antagônico foi o grande desafio do atual governo, que fez uma escolha corajosa sobre os rumos que a instituição deveria tomar.

Primeiro, mudou seu presidente ao perceber uma insistência no ganho com os juros em detrimento da redução do spread e da concessão de crédito. Depois, colocou o banco, junto a outras instituições financeiras públicas, na linha de frente do crédito, que segurou a economia e reduziu o impacto da crise global.

Não faltaram ataques ao Banco do Brasil por parte dos concorrentes privados que o acusavam de uma política irresponsável e sem sustentação. O resultado do banco público no último ano foi uma resposta às falsas acusações, e agora os bancos privados correm para recuperar o espaço perdido nas concessões de crédito.

O bom resultado do BB levou Lula a assumir mais claramente o papel do Estado como indutor da economia e a capacidade de órgãos públicos, como o Banco do Brasil ou a Petrobras, manterem suas funções estratégicas e serem lucrativos. Está aí a diferença fundamental para o governo anterior, que em crises fortes, porém menores que a de 2008/2009, adotou política oposta, aumentando os juros e reduzindo o crédito.

O discurso estatizante deixou de ser um bicho-papão e passou a ser assumido sem o temor de parecer jurássico, como certa vez o classificou um ex-presidente. Lula já se sente tão à vontade em defender o Estado forte que deu até uma estocada no candidato da oposição à presidência, ao afirmar em evento público, na frente do adversário, que comprou o banco do Serra (em referência à Nossa Caixa) e que se tivesse mais banco para vender tinha comprado.

Mais ainda, Lula falou para o mundo da importância de instrumentos poderosos na mão do Estado ao sugerir ao presidente Barack Obama que olhasse como funciona o Banco do Brasil, já que os Estados Unidos não têm um banco público como o brasileiro, essencial no enfrentamento da crise.

Com um discurso claro assim, fica fácil perceber as diferenças entre as principais forças políticas do país e decidir de que lado se está.



Mair Pena Neto, Direto da Redação.

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