segunda-feira, 1 de março de 2010

HAY KIRCHNER, HAY LULA, SOY CONTRA


A oposição brasileira, completamente sem bandeira, está, como diriam os italianos, desbussolada. Um dos baluartes dessa direita que se apresenta como moderna é o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso. Como o príncipe dos sociólogos percebeu que está cada vez mais difícil defender os oito anos de seu mandato, tenta abocanhar setores da juventude. Cardoso agora ganha muito espaço na TV Globo para defender a descriminalização das drogas leves. Ele acha que com isso pode arrastar a turma da fumaça para o campo do conservadorismo neoliberal.

Como o tempo está ficando difícil para o Governador José Serra, o seguidor do ideário de Cardoso, a oposição pega o que tiver pela frente. O esquema PSDB-Demo-PPS lembra muito a oposição dos conservadores na Argentina contra Cristina Kirchner. É na base do que vier eu traço, ou seja, “hay Kirchner, soy contra”. Agora com o episódio das Malvinas, um enclave colonial britânico no Atlântico Sul, os anti-Kirchner vão ter que se posicionar enfaticamente contra o que o Reino Unido está fazendo em matéria de usurpação. Se não fizerem isso perdem votos e na prática apoiam o colonialismo britânico.

Em 1982, os setores progressistas latino-americanos mais consequentes se posicionaram contra o colonialismo britânico, mesmo a Argentina estando sob regime militar comandado por bandidos. Os que raciocinavam simploriamente na base do bem e do mal, automaticamente ficaram contra a Argentina e tiveram de arcar com a defesa do indefensável, ou seja, a defesa da ocupação colonial de mais de 200 anos.

Na ocasião, os Estados Unidos, então governado por Ronald Reagan, ficou ao lado do país de Madame Margaret Thatcher, desrespeitando totalmente o princípio central do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que dispõe que um ataque contra um dos integrantes do Tratado será considerado como um ataque contra todos.

Hoje, em plena democracia, os simplórios de ontem já não precisam se posicionar ao lado da potência colonial, como fizeram há 28 anos. Hoje, é obrigação dos latino-americanos condenar a estratégia colonial. Ainda mais agora quando está em jogo o cobiçado petróleo.

O Presidente Luis Inácio da Silva merece aplausos pelo pronunciamento incisivo contra o esbulho britânico, agora travestido de um pretenso democratismo em que se apresenta a pretensa vontade dos islenhos em se tornarem “independentes”. Uma brincadeira de mal gosto, podem crer, que tenta transformar as Malvinas em um Kuwait sul-americano. E agora vem aí o Conselho da América Latina e Caribe, sem a participação dos Estados Unidos e Canadá, para desespero de O Globo.

E quando estas mal traçadas estiverem sendo lidas, a Rádio Caracas Televisão (RCTV) a cabo terá cumprido as exigências legais para voltar a funcionar. A emissora demonstra agora que é um canal internacional, transmitido de Miami e com menos de 70% de programação feita na Venezuela. Ou seja, depois da série de denúncias da mídia conservadora contra o governo venezuelano, as seis emissoras que tiveram suspensas as transmissões até o cumprimento das exigências legais já voltaram a funcionar. Essa informação, claro, teve bastante menos repercussão do que a inicial que “informava”, não a suspensão temporária, mas o fechamento das seis emissoras.

Ao mesmo tempo, vale lembrar, o Instituto Millenium, o tal que reúne a fina flor da direita brasileira estará recebendo neste primeiro dia de março a visita do senhor Marcel Garnier, o manda chuva da RCTV. Junto com ele estarão participando do I Fórum Democracia & Liberdade de Expressão, entre outros, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli, Denis Rosenfield,Carlos Alberto Di Franco (Opus Dei), Reinaldo Azevedo, Otávio Frias Filho, Ministro Helio Costa, os deputados Miro Teixeira e Fernando Gabeira com a mediação dos globais William Waack, Luis Erlanger e Tonico Ferreira.

Podem imaginar o que vem por aí em matéria de demonização da República Bolivariana da Venezuela e de Chávez. E quem agradece é o Departamento de Estado norte-americano, que tem como meta primordial desestabilizar o atual governo da República Bolivariana da Venezuela.

Para variar, a oposição a Lula tentou tirar proveito da morte de um cubano que fazia greve de fome contra o regime da ilha caribenha. Na base do “hay Lula soy contra”, que repete o “hay Kirchner soy contra”, os oposicionistas sem bandeira e os jornalões procuraram envolver o governo brasileiro no episódio.

Quanto à morte, qualquer morte é lamentável, mas quem entra numa greve de fome e vai até as últimas consequências sabe que tudo pode acontecer depois de um certo tempo. Cuba poderia ter evitado, mas se fizesse isso seria também condenada por obrigar o fim de um protesto.

E do lado dos grupos anticastristas, porque eles mesmos não demoveram o militante a suspender a greve de fome? Ou será que tinham interesse em conseguir um cadáver de alguém descartável? Não seria o caso também de analisar o prontuário de Orlando Zapata? Seria ele um preso político ou um preso comum? Esta resposta dificilmente será fornecida pela mídia conservadora.
Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação.

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