terça-feira, 9 de março de 2010

O choro de Antônio Machado

Serra, cadê você?

Antônio Machado


Correio Braziliense - 09/03/2010

Indefinição de candidato tucano estressa oposição e empina o balão de Dilma, já inflado por Lula.

O governador José Serra está sob pressão máxima para que pare de tergiversar e formalize a sua candidatura à disputa presidencial.

Os apelos partem de todos os lados: de seus apoiadores no PSDB, no DEM e no PPS, que devem formar a coligação com parte do PMDB, de setores da imprensa e de empresários refratários à escolha de Dilma Rousseff pelo presidente Lula para disputar sua sucessão.

O “Serra, cadê você?” já é barulhento. De algum modo, interessa até ao QG da campanha de Dilma para que não dê tanto na vista sua campanha fora de hora, que já deu o que tinha que dar, levando-a a disparar nas pesquisas. Até o fim do ano passado, Serra encimava as sondagens de intenção de voto. Agora, a vantagem se estreita.

A esta altura, é provável que ele seja ultrapassado, não porque a intenção de voto comece a se cristalizar. Mas porque já era sabido que a elevada avaliação de Lula pelo eleitor, mais dele que de seu governo, seria transferida em boa parte para a sua candidata.

Quantos votos ele pode transferir é a questão, já que Dilma, por si, sem padrinho tão forte, falaria sozinha. Mas é o que ela mais tem feito, na ausência de um opositor competitivo e sem evasivas — e o faz com sucesso diante da virtual ausência de cobranças.

Serra, ao contrário do governador Aécio Neves, traz a expectativa de vir para a campanha como o anti-Lula, isso com o presidente com popularidade acima de 70% e uma empatia de comunicação como nenhum outro político possui. Se a oposição não soube ou não quis ir para cima dele e de seu governo em quase quatro anos contados a partir da reeleição, será difícil que tenha sucesso em meros sete meses.

Num quadro de presidente bem avaliado e candidata sem experiência eleitoral, nunca tendo concorrido a nada, a ação lógica à oposição seria a prática de um enfrentamento diuturno — o que Lula e o PT fizeram nas preliminares de todas as eleições que disputaram.

A estratégia exigiria marcação cerrada sobre as ações do governo, com arrazoado que sustentasse a crítica e o plano alternativo. Não é o tipo de oposição que se faz com voluntarismo e sem coordenação. De novo, o velho PT seria o modelo, mas não fez escola.

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