Nova pesquisa Marcos Coimbra
Correio Braziliense - 03/03/2010
A pesquisa do Datafolha sobre a sucessão presidencial divulgada domingo não diz quase nada de novo. Melhor dizendo: ela tem sim uma novidade, que é mostrar que nada mudou nas intenções de voto entre janeiro e os últimos dias de fevereiro, quando foi concluída. Nas pesquisas, isso acontece muitas vezes. Elas não são relevantes apenas quando revelam coisas novas, pois confirmar o que outras dizem é também importante.
O quadro geral que a pesquisa descreve é praticamente igual ao que conhecemos desde meados de janeiro, quando se constatou uma sensível alteração nas intenções de voto que tínhamos no fim de 2009. Duas pesquisas apontaram essa mudança, feitas pela Sensus e pela Vox Populi. Em ambas, a diferença de Serra para Dilma (na lista com Ciro Gomes) ficava entre cinco (Sensus) e sete (Vox) pontos percentuais, subindo um pouco quando restava apenas Marina como opção (quando passava para nove pontos, segundo a Vox, e 12, segundo a Sensus). Na de agora, a vantagem de Serra ficaria em quatro pontos, no primeiro caso, e sete, no segundo.
Rigorosamente falando, são pesquisas idênticas. Por isso, dizem as mesmas três coisas fundamentais:
1) de dezembro para cá, que Serra caiu e Dilma subiu, em proporções muito parecidas ou até iguais, conforme o cenário e o instituto (no Datafolha, Serra perde cinco pontos percentuais e Dilma ganha cinco; na Vox, oito pontos de queda e oito de subida). Ou seja, é como se tivesse havido uma transferência “perfeita” de intenções de voto do governador para a ministra.
2) que há uma maior vantagem para Serra quando Ciro sai da lista, o que leva alguns a deduzir, erroneamente, que “Ciro tira votos” de Serra. Na verdade, o que acontece é um movimento da parcela de eleitores que só conhece os dois e que nem sabe quem são Dilma e Marina. Quando o nome de Ciro é retirado, essas pessoas ficam sem opção e dizem que votariam em Serra.
3) que Ciro e Marina não se mexeram, o que é ruim para os dois e pior para Ciro, que teve a propaganda partidária do PSB ao seu dispor, sem consequências.
Considerando as três pesquisas, não é possível, no entanto, dizer nada sobre as tendências dos números de agora para diante. Entre a da Vox, com campo terminado em 17 de janeiro, e a do Datafolha, encerrada em 25 de fevereiro, são quase 40 dias, com alterações apenas na margem de erro. Parece mais correto, portanto, falar de estabilidade ao longo do período, e não de algo que estaria em pleno andamento.
É verdade que há, segundo o Datafolha, um pequeno encurtamento da diferença pró-Serra, que poderia apontar para novas reduções nas próximas semanas. Mas é prematuro qualquer prognóstico como esse, levando em conta, como sempre se deve levar, a incerteza implícita nos resultados das pesquisas.
A verdadeira novidade do Datafolha está, portanto, em ter confirmado o que as duas pesquisas de janeiro mostraram, especialmente depois que outra, do Ibope, feita no começo de fevereiro, havia devolvido a vantagem de Serra ao patamar dos dois dígitos. Essa, realizada entre os dias 6 e 9 do mês, tinha Serra com 36% e Dilma com 25%, ou seja, com uma frente de 11 pontos percentuais, mais do dobro que os cinco pontos da Sensus de uma semana antes.
Pouco destaque se deu, na divulgação desses resultados, ao fato de que eles eram substancialmente diferentes do quadro apontado pelo mesmo Ibope em dezembro, quando Serra tinha uma vantagem de 21 pontos sobre a candidata do PT. Sua redução para quase a metade, nos 11 pontos de fevereiro, foi menos enfatizada que serem maiores que os cinco ou sete pontos dos outros institutos.
O bom disso tudo é que mostra que temos hoje, no Brasil, algo que faz parte da vida democrática contemporânea. Pesquisas eleitorais são um elemento indissociável do processo político moderno, mesmo que todos (incluindo os responsáveis por elas) saibam de sua falibilidade e limitações. E é positivo que sejam muitas, para que as pessoas que se interessam por elas possam comparar o que dizem e tirar suas próprias conclusões.
Não importa que, às vezes, alguns queiram usá-las nos embates comerciais entre os veículos ou nos enfrentamentos políticos. No fim, o que prevalece é sua função informativa.
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