segunda-feira, 1 de março de 2010

O Sul começa a reconher os avanços do governo Lula

Disputa eleitoral acirrada no Sul Valor Econômico - 01/03/2010

Depois de votarem unidos pela derrota do presidente Lula no primeiro turno de 2006, numa eleição marcada pela crise do agronegócio, os três Estados do Sul se preparam para uma disputa mais acirrada em outubro. A campanha petista vai se apoiar na retomada do crescimento da economia sulista, enquanto a tucana vai explorar as insuficiências da infraestrutura regional. A disputa pelo PMDB local é o nó dos palanques nos três Estados.


Em 2006, o fraco desempenho da economia gaúcha em contraste com o crescimento brasileiro azedou a relação do eleitorado local com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ele, depois de ter vencido os tucanos Fernando Henrique Cardoso e José Serra em 1994, 1998 e 2002, sofreu a primeira derrota para um adversário do PSDB no Estado, na época Geraldo Alckmin. Agora a situação mudou. Com a retomada do crescimento estadual próximo à média nacional, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e sem o fantasma do escândalo do mensalão, de 2005, a disputa entre PT e PSDB pode ficar mais acirrada.

No primeiro mandato de Lula (2003-2006), enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 14,7%, conforme o IBGE, a economia gaúcha avançou apenas 6,8%, segundo a Fundação e Economia e Estatística (FEE) do Estado. Em 2004 e 2005, sob secas severas, a agropecuária encolheu 10,6% e 17,4% no Rio Grande do Sul, respectivamente, e junto com a valorização do real influenciou a queda do PIB industrial do Estado de 4,1% em 2005 e de 2% em 2006, de acordo com a FEE.

"A economia foi determinante para a derrota do presidente Lula no Estado em 2006", admite o ex-secretário nacional de finanças do PT e candidato a deputado federal Paulo Ferreira. Para o professor de pós-graduação em ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Marenco, o Rio Grande do Sul não se beneficiou tanto das políticas sociais do governo Lula como a região Nordeste. Mais recentemente, ressalva, os gaúchos começaram a perceber efeitos positivos do PAC, como a consolidação do polo naval de Rio Grande, e o lançamento de obras rodoviárias, de saneamento e habitação.

De 2007 a 2009, por exemplo, a economia gaúcha avançou 9,8% (com média de 3,2% ao ano), já bem mais próximo do crescimento acumulado de 11,3% do PIB brasileiro no período (com média anual de 3,6%). É um dado que pode ajudar a pré-candidata governista, mas ela ainda tem um longo caminho a percorrer. Na pesquisa do instituto Datafolha divulgada no fim de dezembro, no cenário que inclui o pré-candidato do PSB, Ciro Gomes, Dilma aparece com 21% das intenções de voto no Rio Grande do Sul no primeiro turno contra 36% do provável candidato do PSDB, José Serra. O desempenho ficou bem próximo da média nacional: 23% da ministra contra 37% do tucano.

Dilma não tem o carisma de Lula e nunca concorreu a qualquer cargo eletivo, mas o fato de ela ter feito carreira política no Rio Grande do Sul, onde foi secretária estadual de Minas e Energia nos governos de Collares (1991-1994) e Olívio Dutra, do PT (1999-2002), também anima os petistas. Outro elemento da equação, que pode ser decisivo para o resultado da possível disputa contra Serra, ainda está em aberto: quem receberá o apoio e o palanque do PMDB gaúcho, historicamente próximo dos tucanos, para reforçar a campanha presidencial.

O PDT, que deve compor a chapa com o prefeito de Porto Alegre e pré-candidato pemedebista ao governo gaúcho, José Fogaça, cobra o apoio a Dilma, já que é aliado nacional do PT. "Se o PMDB nacional aprovar o apoio a Dilma e Fogaça seguir a orientação, ela terá condições de superar a votação do presidente Lula no Estado em 2006", acredita Ferreira, para quem o "ciclo de crescimento" estimulado pelo governo federal chegou ao Sul do país. Na última eleição, Lula teve 30,7% dos votos totais para presidente no Estado no primeiro turno e 42,9% no segundo.

Na mesma linha, Marenco entende que a composição tornaria a vitória de Dilma no Rio Grande do Sul mais provável até do que a do pré-candidato do partido ao governo estadual, Tarso Genro. Conforme o professor, o apoio do PMDB a Dilma limitaria as opções de Serra no Estado ao palanque da governadora e provável candidata à reeleição Yeda Crusius (PSDB), que ainda luta para se livrar do desgaste e dos altos índices de rejeição provocados pelas sucessivas denúncias de corrupção contra o governo.

Mas os tucanos também estão no páreo pelo apoio do PMDB. Embora afirme que o palanque do partido é o "melhor" para Serra no Estado, o deputado federal e vice-presidente nacional do PSDB, Cláudio Diaz, vai procurar os dirigentes do PMDB, do DEM, do PTB, do PP e do PPS para tentar montar uma ampla base de apoio para o governador de São Paulo. "O jogo ainda não está jogado", afirmou Diaz, que conta com a proximidade histórica entre tucanos e pemedebistas gaúchos e com o fato de que provavelmente eles estarão juntos contra Genro no segundo turno da eleição estadual.

O quadro ainda é incerto, mas há pouco mais de duas semanas, quando esteve no Estado com Lula para anunciar obras de saneamento e habitação na região metropolitana de Porto Alegre, Dilma reuniu-se com Fogaça na prefeitura. Oficialmente o encontro serviu para tratar de investimentos federais na cidade, mas depois dele o prefeito admitiu seguir a orientação do PMDB nacional se a convenção nacional do partido, em junho, formalizar o apoio à ministra. "Dilma mostrou (no governo Lula) disposição de ajudar o Rio Grande do Sul", afirma o deputado federal pemedebista Mendes Ribeiro Filho, defensor de primeira hora do apoio à pré-candidata do PT.

O senador Pedro Simon, presidente estadual do PMDB, evita "entrar em detalhes" sobre o apoio a Dilma ou a Serra no Estado para não "enfraquecer" a tese da candidatura do governador pemedebista do Paraná, Roberto Requião, à Presidência. Mas alguns dias depois do encontro de Dilma com Fogaça, ele afirmou em entrevista à rádio Gaúcha que tem "muita simpatia" pela ministra e que ela fez o governo Lula "crescer". Para ele, uma eventual vitória de Serra significaria o quinto mandato presidencial para um político de São Paulo. "É algo profundamente negativo", comentou na ocasião.

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