Desconcertadas com as ações e posturas dos governos petistas, tanto em âmbito federal quanto em diversos estados da federação, as oposições brasileiras não sabem como agir.
Tendo como referência histórica a UDN, de Carlos Lacerda e Afonso Arinos, e o PT, pré-governo Lula, ambas ruidosas, intransigentes e não colaborativas, as oposições brasileiras perderam o rumo desde que Lula chegou à presidência da República e, ao invés do confronto anunciado e esperado, iniciou-se um governo de diálogo e negociação.
O confronto do “mensalão” foi o canto do cisne. A oposição ao governo federal fez barulho, provocou a queda dos ministros da Casa Civil e da Fazenda, os dois homens fortes do governo Lula, mas, após ensaiar os passos de uma dança vistosa, revelou-se sem forças para manter seu desempenho até o final do espetáculo. O governo Lula resistiu, conquistou o apoio de segmentos sociais tanto de mais baixas quanto de mais altas rendas e, com 84% de aprovação popular, terminou sua gestão como o mandatário melhor avaliado no Brasil e no mundo e, de quebra, fez sua sucessora.
Nascidos e forjados na prática governista, PSDB, DEM e PPS, partidos que compõem o núcleo central das oposições hoje no país, assistem, atônitos, (quase) todos os demais partidos se transladarem para as hostes governistas. Isto ocorre tanto no âmbito federal quanto nos diferentes estados da federação que adotam práticas “lulistas” ou, melhor dizendo, de negociação.
Como ser oposição a governos que convidam para o diálogo e que oferecem cargos na administração da máquina pública? A postura adotada pela oposição chega, algumas vezes, a ser patética.
No plano federal, por exemplo, PSDB, DEM e PPS ingressaram com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIM) no STF contra a lei recém aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pela presidenta Dilma Rousseff que permite ao governo autorizar o reajuste anual do salário mínimo até 2015 por decreto presidencial. Argumentam, os oposicionistas, que a dispensa da votação anual do percentual de reajuste do salário mínimo a ser concedido constitui agressão e ato de enfraquecimento do poder Legislativo, além de desrespeito à Constituição Federal, que determina que o valor do salário mínimo seja estabelecido por lei votada anualmente.
Independente do entendimento que o STF venha a adotar, o fato político é que a ação impetrada pelos partidos do bloco oposicionista trás à luz a debilidade de seus atos. Derrotada fragorosamente nas votações na Câmara e no Senado, o bloco oposicionista vê-se na necessidade de lançar mão de tecnicidades jurídicas para continuar se fazendo ouvir.
O desencontro das oposições ocorre também no plano estadual. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o bloco governista, restrito durante anos aos partidos da Frente Brasil Popular (PT, PC do B e PSB), incorporou também o PDT e o PTB. De quebra, o governador Tarso Genro chamou para o diálogo todas as agremiações de oposição (PMDB, PP, PSDB e DEM) e as convidou para discutir ações de governo. Com este procedimento, colocou-as diante de um impasse: se aceitam o diálogo e a discussão dos projetos, podem se descaracterizar como oposição, mas, se não aceitam, podem ser taxadas de intransigentes.
As oposições brasileiras precisam se reinventar. Já não basta mais ser contra. Isto valeu enquanto os partidos estavam construindo suas identidades e demarcando suas áreas de disputa eleitoral. O PT e, antes dele, a UDN fizeram isto muito bem. Hoje, no entanto, é preciso também ser a favor. Sem deixar de ser oposição, é preciso sentar nas mesas de negociação e, aceitando o que é razoável, ir além. Propor novas metas e objetivos possíveis. As oposições podem ser colaborativas, desde que sejam também propositivas. Isto, as oposições brasileiras nunca souberam fazer. Se elas quiserem sobreviver, no entanto, será preciso aprender e adotar rapidamente a nova postura. Editorial Sul21
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