Com Lula, o setor privado beneficiou-se muito mais do que com FHC
As circunstâncias obrigam a um retorno à repisada questão do confronto administrativo entre os ex-presidentes Lula e FHC. Nos últimos dias, os dois voltaram a ser protagonistas no cenário político. O tucano reapareceu assinando artigo, controvertido até mesmo dentro da própria oposição, no qual propõe ao PSDB “desistir do povão” e cortejar o setor social contrário a Lula: o reduzido contingente de ricos e da classe média alta.
Lula entrou de sola em FHC: “Sinceramente, não sei como alguém estuda tanto e depois quer esquecer o povão (…) todos são brasileiros”.
FHC retrucou. Propôs uma nova disputa eleitoral entre os dois. Como se sabe, Lula, esse buldogue do povão, foi derrotado duas vezes por FHC. Em 1994 e 1998. Entretanto, a administração tucana encerrou-se com uma vitória acachapante de Lula, na opinião dos eleitores ouvidos pela pesquisa Sensus. O petista com 87% de aprovação (dezembro de 2010) e o tucano com 34,7% (outubro de 2002).
Esse contraste está justificado no estudo O Emprego Público no Brasil, recém-concluído por Fernando Mansor de Mattos, do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense e pesquisador do Ipea. A partir desse trabalho, ele comparou, a pedido deste colunista, alguns dados dos governos Lula e FHC.
Entre eles, Mansor de Mattos revela uma grande surpresa para os “privatistas” neoliberais da era tucana. Não houve “inchaço” do setor público no governo Lula. Entre o fim de 1995 e o fim de 2002, último ano do governo FHC, o emprego privado formal com carteira assinada cresceu 3,9% ao ano, em média. Entre 2003 e 2009, penúltimo ano da era Lula, cresceu 5,9%. “No emprego público houve crescimento de mísero 0,02% com FHC, e de 3,72% com Lula”, diz ele.
Vale lembrar que os tucanos tinham como programa desmontar o Estado brasileiro. Reduzi-lo ao mínimo. Os petistas aumentaram a oferta de serviços públicos: cresceu o número de universidades federais e de programas de saúde pública, entre outros. Mesmo assim, o aumento nesse setor, no âmbito municipal, foi maior do que no federal. Mansor de Mattos ainda lembra: “Nas regiões mais pobres do País, ao contrário do que apregoa o senso comum, não há uma proporção maior de funcionários públicos”.
É importante atentar ao seguinte cruzamento de informações: o número de funcionários, em relação ao total de empregados do setor formal, era maior no governo do PSDB. Explica-se: no governo de Lula cresceu o número de empregados do setor público. Mais, inclusive, do que no governo FHC. No entanto, no governo Lula também cresceu e, no caso, cresceu muito mais o total de empregados do setor privado.
Desmonta-se, também, a falácia de que o Estado brasileiro seja desproporcional em tamanho e desmedido na geração de empregos. Os números mostram o contrário. O corpo administrativo do Estado é menor do que as exigências de um país com dimensões continentais. Talvez seja errática a qualidade dos empregos que gera e, certamente, a qualidade do serviço que oferece deixa a desejar. Mas esta é outra história.
Mauricio Dias
Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital.
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