Felipe Prestes
Para cientistas políticos, os momentos difíceis vividos pelos dois principais partidos de oposição no Brasil (PSDB e DEM), com uma debandada de quadros, não se dão à toa: estes partidos carecem hoje de ideias alternativas a propor para o país. Além disto, apontam como causa desta revoada o fisiologismo de deputados que buscam novos caminhos pensando em causa própria. Políticos de DEM e PSDB divergem sobre os problemas, mas concordam que não deve haver a fusão entre as siglas, especulada nos últimos dias.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Rubem Barboza Filho, o comentado artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em que ele aconselha o PSDB a focar suas ações na classe média e não no povão, é um dos indícios de que a oposição já busca se reinventar. “Acho que há uma crise na oposição. O artigo recente do ex-presidente Fernando Henrique é um sinal de que há a necessidade de a oposição repensar o papel que desempenha”, diz.
Rubem acredita que o Governo Lula, ao manter algumas políticas iniciadas pelo governo tucano, desnorteou a oposição. “O PSDB tem menos clareza, hoje, do que pode ser feito, do que antes. Uma vez que o PT no poder não alterou drasticamente o que era feito pelo PSDB, os tucanos perderam o chão”. O cientista político e professor da UnB David Fleischer concorda com esta tese. “Na Reforma da Previdência, muitos tucanos disseram que não poderiam votar contra, porque era igual a proposta do Governo FHC”, diz.
Mas Fleischer vai além e ressalta que os bons ventos da economia com alto índice de emprego, salários em alta e a mobilidade social que levou milhões a ascender de classe social durante o Governo Lula é um dos fatores preponderantes. “Todos estes fatores muito positivos que foram incentivados pelo governo Lula dão muito pouco espaço para a oposição”. Além disto, ressalta que, nas urnas, a oposição teve uma redução significativa no Senado, em uma estratégia governista que deu certo. O professor da UnB afirma que a oposição, segundo indica o próprio senador Aécio Neves (PSDB-MG), deve propor alternativas, não discordar de tudo. Entretanto, o bloco oposicionista ainda não tem bem claro que alternativas propor. “A oposição está sem rumo”, resume.
“Nosso projeto não encantou a sociedade”
O presidente do DEM gaúcho, Onyx Lorenzoni, concorda com os cientistas políticos. Acha que a oposição não apresentou um projeto que fosse do agrado da maior parte da sociedade, o que considera que está dentro da normalidade da democracia. “Nossa representação se reduziu porque nós não fizemos um projeto para o país que encantasse a sociedade. Tanto o PSDB quanto o DEM e PPS não conseguiram apresentar projeto para a sociedade que a encantasse. Quem conseguiu fazer isto, foram Lula e Dilma. Isto é jogo democrático”, diz.
Onyx afirma que o DEM em particular errou ao não apresentar candidato próprio à presidência da República nas últimas cinco eleições. “Os 20 anos sem candidatura para a presidência foram um erro que cometemos, que não queremos mais cometer. Vamos manter nossa parceria com PSDB e PPS, mas teremos nosso caminho próprio, o que pressupõe ter candidatura própria em 2014”, diz. O deputado federal afirma ainda que o partido precisa encontrar outras bandeiras além da redução da carga tributária.
Onyx afirma também que não acredita que o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM), vá para o PSD, o que seria um enorme baque para os Democratas. Ele diz ter conversado com Colombo na última segunda-feira (25). “Não me deu nenhuma razão para sair”, diz. O presidente do DEM-RS afirma que o que Colombo tem feito é pedir mudanças no partido. “Ele fez uma provocação ao partido, no que eu concordo. Ele quer que o partido encontre um novo discurso, não fique restrito à redução da carga que possa falar outras coisas para a sociedade, no que ele está correto”.
O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, por sua vez, não acredita que seu partido viva um momento de crise. Guerra vê um movimento localizado na cidade de São Paulo — onde o PSDB perdeu sete vereadores, além do secretário municipal de Esportes e Lazer e tucano histórico, Walter Feldman, e do ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. “Não há crise, há um movimento natural de vereadores seguindo o prefeito (Gilberto Kassab)”, diz. Guerra afirma que este problema vem se arrastando desde 2008, quando alguns tucanos apoiaram Kassab nas eleições municipais, em detrimento do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.
Poucos políticos seguem, de fato, uma ideologia
O cientista político Rubem Barboza Filho critica a criação do PSD, que considera um partido voltado apenas para os interesses pessoais de seus futuros filiados. “É um aglomerado de gente tentando sobreviver do ponto de vista pessoal. Kassab é o exemplo mais claro disto, uma figura que não tem posição nenhuma, clareza nenhuma. É apenas um administrador, mas como está na prefeitura de SP, está revestido de certo poder”.
Barboza ressalta, contudo, que políticos sem ideologia são um problema que aflige a política brasileira em geral, o PSD apenas reflete isto. “São poucos os políticos que, de fato, seguem um horizonte normativo de forma mais exigente. E os partidos também têm se esmerado em ferir qualquer coerência desse horizonte normativo”, diz. O professor da UFJF vai mais além e diz a falta destes limites ideológicos claros tem ocorrido em todo o Ocidente. “Há uma dificuldade real de imaginação de alternativas, mas há também um esforço muito reduzido no sistema político brasileiro em tentar olhar alternativas para o país”.
David Fleischer concorda que os políticos que deixam seus partidos têm se movido por interesses pessoais. “Os deputados estão com os olhos voltados para as eleições do ano que vem”, diz. Ele lembra que nem todos procuram o PSD, há oposicionistas indo para o PMDB, entre outros partidos. Mas Fleischer também ressalta que com a fidelidade partidária tendo sido definida pelo STF, a migração de políticos tem diminuído e que a criação de novos partidos é justamente um dos subterfúgios para driblar a legislação.
Para Onyx Lorenzoni, o PSD nasceu da intenção de Kassab “resolver sua vida”. O democrata recorda que Kassab cogitou entrar no PMDB e no PSB, só depois de desistir destas empreitadas é que definiu a criação da nova sigla. Onyx lembra que o PSD começa com 37 deputados federais, dos quais só 11 saíram do DEM, e diz que uma parte significativa saiu de partidos da própria base governista. O dirigente partidário também comemora, de certa forma, que o número de deputados “fisiológicos” é cada vez menor em seu partido.
Fusão está descartada, dizem dirigentes
O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, descarta a fusão entre o seu partido e o DEM — pelo menos neste momento. “A fusão é um assunto de longo prazo. No curto prazo, o que há é um movimento dos dois partidos para iniciar as alianças visando às eleições de 2012”, diz.
O presidente do DEM-RS também descarta a fusão e lista vários motivos. Onyx Lorenzoni acredita que é importante haver vários espectros políticos, entre eles um partido que tenha o liberalismo como bandeira. “Quando Lula trouxe o PT para o centro, ele se encontrou com o PSDB. Hoje estes dois partidos têm mais pontos de identidade do que o PSDB com o DEM. Ter um partido de centro com o corte liberal claro é importantíssimo para o país”, diz. Ele também argumenta que a fusão não daria certo porque PSDB e DEM possuem divergências sérias em alguns estados. Onyx diz que não é o caso do Rio Grande do Sul, onde alega que a divergência do DEM foi apenas com a ex-governadora Yeda Crusius.
Divergências regionais é o que também ressalta o cientista político David Fleischer, citando o exemplo da Bahia, onde as lideranças Jutahy Junior (PSDB) e ACM Neto (DEM) têm sérias divergências. Fleischer também lembra que a fusão entre os dois partidos abriria uma brecha para que mais descontentes deixassem esta nova sigla, uma vez que a incompatibilidade ideológica é um dos argumentos legais para se mudar de partido. Ou seja: a fusão poderia abrir uma brecha legal para uma debandada ainda .
Fonte:Sul21
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