sexta-feira, 15 de abril de 2011

Os tucanos não gostam do povão


A velha nova rixa entre FHC e Lula


Maria Clara Prates

Correio Braziliense - 15/04/2011
Eu venci duas eleições com o voto desse povão. E no primeiro turno, e contra o Lula. Agora, temos de ter uma estratégia para esses novos setores, mais sensíveis" Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ex-presidente

 
O povão é a razão de ser do país, e dele fazem parte a classe média, a classe rica, os mais pobres. Todos são brasileiros" Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ex-presidente.

 
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quebrou o jejum político, iniciado em 1º de janeiro, e disparou ontem críticas contra o alvo preferido, o tucano Fernando Henrique Cardoso (PSDB). FHC abriu a guarda ao publicar o artigo “O papel da oposição”, na revista Interesse Nacional, no qual defende a tese de que a oposição não deve insistir em conquistar camadas mais pobres do eleitorado e focar esforços na nova classe média, vinda do crescimento econômico dos últimos anos. “Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os ‘movimentos sociais’ ou o ‘povão’, falarão sozinhos”, escreveu. Lula rebateu: “O povão é a razão de ser do país, e dele fazem parte a classe média, a classe rica, os mais pobres. Todos são brasileiros”, disse, durante seminário dirigido a empresários e investidores em Londres, na Inglaterra.

 
Na parte mais dura das críticas, Lula chegou a comparar a tese de FHC com a do então presidente João Figueiredo, na ditadura militar. “Eu sinceramente não sei o que ele quis dizer. Já tivemos políticos que preferiam cheiro de cavalo ao povo. Agora tem um presidente que diz que não precisa ficar atrás do povão, esquecer o povão. Eu, sinceramente, não sei como é que alguém estuda tanto e depois quer esquecer do povão”.


FHC disse ontem que apenas pretendia convencer a oposição a definir um foco sem excluir a parcela menos abastada da sociedade e aproveitou para alfinetar Lula: “Eu venci duas eleições com o voto desse povão. E no primeiro turno, e contra o Lula. Agora, temos de ter uma estratégia para esses novos setores, mais sensíveis. Temos que fincar o pé na internet e nas redes sociais”, afirmou. “Me espantei com o tamanho da repercussão. Achei também precipitadas algumas reações, sobretudo da própria oposição. Pelo que pude perceber, alguns disseram coisas que acabam fazendo o jogo do PT”, afirmou.


Emergente


Ontem, o governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), durante balanço dos 100 dias de governo, saiu em defesa de FHC, mas fez questão de ressaltar que “todos os segmentos da população têm que receber atenção”. Fez questão de frisar que isso não é discordar do ex-presidente, que “trouxe à luz um tema importante, que é uma nova classe média emergente sobre a qual o partido deve ter atenção”, disse. “E qual é o desejo de um partido político? É governar bem. E governar bem significa governar para todos os segmentos”.


Antes disso, no entanto, bombeiros tucanos já tinham entrado em campo para conter a repercussão negativa. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira, afirmou que o entendimento do artigo de FHC ficou prejudicado porque apenas alguns trechos foram divulgados. O senador tucano Aécio Neves também minimizou e disse que ele fez apenas “um alerta”.

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