domingo, 3 de abril de 2011

Parados no tempo

Parados no tempo

E mais uma vez a oficialidade, gênero olho queimado da história, se reuniu no Clube Militar para assistir uma palestra de defensores incondicionais do golpe militar de abril de 1964, o evento histórico negativo que levou o Brasil para uma longa noite escura. O debate, organizado pelo Instituto Millenium, sucessor do golpista Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), dos anos sessenta, teve como mediador um tal de Rodrigo Constantino, o mesmo que foi a Cuba convidar a blogueira Yoani Sánchez para colaborar com a mídia de mercado brasileira.


O Millenium conseguiu uma façanha, a de tirar do armário madame Sandra Cavalcanti, entusiasta do golpe de 64 e do ex-Governador da então Guanabara, Carlos Lacerda. Quarenta e sete anos depois, a ex-secretária de Serviço Social de Lacerda, incrivelmente, continua com a mesma linguagem, como se o Brasil e o mundo não tivessem mudado. Ela entusiasmou os militares sem comando, que mandaram e desmandaram durante o tempo da ditadura no Brasil, com o alerta segundo o qual o pais hoje vive uma “República Sindicalista”.

 

Faltou para complementar uma Carta Brandy, o documento falsificado pelo seu mestre Lacerda nos anos 50 para incriminar João Goulart por suposto vínculo com Juan Domingo Perón. O objetivo era evitar a ascensão de Jango como vice de Juscelino Kubitschek. Coisa de golpista mesmo, estilo Madame Cavalcanti e Lacerda.

 

Estes fatos pertencem à história do Brasil, mas estamos em 2011 e madame Cavalcanti, totalmente no ostracism, ignorada no tempo e no espaço, repete a cantilena que tanto mal fez ao Brasil. Seria cômico se não fosse trágico, porque madame chegou a afirmar que “a democracia corre risco” no Brasil. Junto com ela, no painel "A Revolução de 31 de Março de 1964 - Com os Olhos no Futuro" (que ironia esta gente falar em futuro), repetiram o ideário o general da reserva Sergio de Avellar Coutinho e o advogado Ives Gandra Martins, vinculado ao grupo direitista católico Opus Dei.

 

Empolgado com o palavreado dos saudosistas do golpe de 64, Rodrigo Constantino desancou contra a Comissão da Verdade. O diretor do Instituto Millenium não quis ficar atrás em matéria de reacionarismo. Esforçou-se até para superar o general, o advogado e a que saiu do armário. Na verdade, deixou bem a marca do Instituto Millenium para os militares da Reserva inconformados com a mudança no mundo.

 

Se aqui fosse a Argentina, nesta altura do campeonato os torturadores e assassinos, civis e militares, tremeriam nas bases, porque seriam julgados pelos crimes cometidos durante a ditadura, que no país vizinho se estendeu de 1976 a 1983 e agora, na democracia, levou à prisão 486 ex-militares envolvidos nas ações de terrorismo do Estado, que resultaram em mais de 30 mil pessoas mortas ou desaparecidas.

 

Por estas bandas, vale destacar que o Instituto Millenium foi criado exatamente com o mesmo objetivo do antecessor IBAD*, que já tinha sido enterrado a sete palmos do chão depois da confirmação em uma CPI da Câmara dos Deputados e nos arquivos implacáveis dos EUA do recebimento em espécie (e bota espécie nisso) da potência hegemônica.

 

Outro apoiador do golpe de 64, o deputado Jair Bolsonaro demonstrou quem ele é durante uma entrevista num programa da TV Bandeirantes. O parlamentar extremista ofendeu a criativa Preta Gil (todos entramos para o seu fã clube), deixando cair à máscara de racista e homofóbico. Não tem coragem de assumir a fala de ódio. Como um bom covarde que sempre foi, Bolsonaro tenta justificar que não entendeu a pergunta e se referia apenas a homossexuais. Quem é homofóbico é potencialmente racista. Não pode ficar impune. Seria uma vergonha para o Brasil se Bolsonaro continuasse deputado e ainda por cima integrante da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (entra para o rol do seria cômico se não fosse trágico).

 

Pelo que fez Bolsonaro, pelo que falaram no Clube Militar, Madame Sandra Cavalcanti, o advogado Ives Gandra Martins, o general da reserva Sergio de Avellar Coutinho e o diretor do Instituto Milleniun Rodrigo Constantino, dá para se ter uma ideia do que representou para o Brasil o golpe de primeiro de abril de 1964.

Nota do autor - É imperdível o documentário “O dia que durou 21anos”, de Camilo Tavares, que será apresentado pela TV Brasil em três séries a partir desta segunda-feira (4). Com roteiro de Flávio Tavares o trabalho mostra com detalhes a participação estadunidense no golpe que derrubou o Presidente constitucional João Goulart. Relembra também o papel do Ibad. Trata-se de um marco na TV brasileira a apresentação de um documentário do nível de “O dia que durou 21 anos”.Um gol de placa da TV pública.

Mário Augusto Jakobskind

É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

Fonte:Direto da Redação.

4 comentários:

Anônimo disse...

Essa tal de Sandra Cavalcanti é aquela do massacre dos mendigos, cuja memória derrubou a candidatura dela a governador em 1982?

PERNAMBUCANO FALANDO PARA E COM O MUNDO disse...

Pesquisem por CORONEL IBIAPINA, hoje general de pijamas...

À época coronel, canalha e desnaturado, eu não entendia como ele comungava na igreja do Salesiano aos domingos(1964), depois de torturar e desmoralizar até crianças como eu, rasgando cartas e dizendo impropérios.

O pior ele nem se coifessava...

Foi assim que comecei a abandonar o catolicismo aos 10 anos...

H.Pires disse...

A credibilidade desses golpistas da matéria em tela, se compara aos da policia. Ainda que, tentaram dar uma maquiada nessa pesquisa, ou seja, não confia "plenamente"(?). Quando não confia "plenamente" é que não confia mesmo. A situação É MUITO GRAVE, é quase um ponto de ruptura social com seus orgãos de "segurança". A policia virou BANDIDA. Essa é a percepção de todos. O que é 3% de credibilidade? Só pode ser os próprios policiais falando deles. Esta lá eBAND Daniel Ortega: "Os serviços policiais do país não são confiáveis, de acordo com a opinião dos brasileiros. Uma pesquisa do Ipena (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgada ontem mostra que 68,38% não confiam plenamente nos serviços das polícias estaduais.
O percentual reúne as respostas “não confia” e “confia pouco”. A região em que a percepção dos moradores é mais negativa é a Sudeste. Em média, só 3% da população desses Estados têm muita confiança em suas polícias....".

alfredops1943 disse...

Gostei da frase, que passo a adotar: "Adoro falar mal de tucanos, DEMentes e do PiG".

Fiquei satisfeito por ter encontrado este blogue onde pude ler artigo escrito pelo meu velho amigo dos tempos de adolescência, em Copacabana, no Rio de Janeiro, Mario Augusto Jakobskind.

Estou feliz também porque hoje vi um mapa onde se pode comprovar que a DILMA ganha em quase todo o BRASIL, havendo empate técnico apenas em três estados SP (claro, terra de Maluf era de se esperar), MS e PR. A Marina só leva vantagem no Acre e no Espírito Santos.

Em todo o caso não vamos cantar vitória antes do tempo, pois a direitopata está ai, com as suas eternas armas da calúnia e do terrorismo midiático.

Atualmente estou morando no extremo sul da Bahia e aqui tem gente pobre que diz que vai votar em Marina. Mas creio que convenci a todas de que Dilma é a melhor solução.

Estou falando demais. Tchau.

Alfredo Pereira dos Santos