Por: Walter Venturini
Socialistas europeus se desgastam ao defenderem projeto neoliberal
A esquerda européia está desorientada com a crise econômica que se abate sobre o continente e fatos correlatos que influenciam nas disputas eleitorais. Enquanto os jovens espanhóis tomam as principais praças das cidades do país para protestar contra a crise que aumenta o desemprego e ameaça acabar com as poucas conquistas econômicas sociais, o governo socialista do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, amarga uma derrota nas eleições municipais e estaduais.
Perdeu porque não soube lidar com a crise. Mais ainda, perdeu porque aplicou o receituário neoliberal do FMI: aumento do desemprego, ameaças à aposentadoria e aos direitos dos trabalhadores que ainda estão empregados. Só para ficar no desemprego, quase cinco milhões de espanhóis estão sem trabalhar, índice superior a 21%, o maior nos últimos 35 anos. É perfeitamente possível entender porque os socialistas perderam as eleições deste final de semana.
Não importa que os conservadores tenham saído vencedores do pleito. O recado foi claro: Zapatero não soube dar respostas para a crise. É um fenômeno europeu o fato de a esquerda estar absolutamente despreparada para dar respostas aos trabalhadores ameaçados com o desmonte da economia do Velho Mundo. O neoliberalismo tem uma resposta: desmonta tudo e recomeça do zero. Pouco importa que milhões fiquem sem emprego, que os salários caiam e que outras desgraças atinjam os que dependem de salários e aposentadorias. Banqueiros e seus funcionários graduados, executivos e especuladores em geral ganharam bastante nos últimos anos, vendendo papéis que nada valem.
A esquerda, que se associou às políticas do FMI, de valorização do mercado financeiro, de reduzir o estado ao menor tamanho possível e acabar com as conquistas sociais está, agora pagando a conta política. Como só sobrevive de eleições, perde governos, cargos e espaço. Foi o que aconteceu com Tony Blair no Reino Unido e que iria acontecer com Dominique Strauss-Khan, o socialista que presidia o FMI, abatido pela escorregada dentro de um quarto de hotel.
Na Alemanha, o antigo SPD, a social-democracia, não consegue se recuperar depois do fenômeno conservador Merkel. É o grupo A Esquerda (Die Linke), que ganha espaço com uma crítica consistente à guinada direitista dos sociais democratas.
A esquerda latino-americana não seguiu a receita de seus colegas europeus. Apostou no mercado interno, na valorização dos salários e nas políticas sociais. Nada muito radical. O governo Lula foi o exemplo mais cristalino desse contraponto à linha neoliberal da esquerda européia. Apenas valorizando o capitalismo nacional e os trabalhadores, enfrentou a crise econômica mundial com êxito. Não por acaso, a direita brasileira está escangalhada.
Lula soube dar respostas concretas aos trabalhadores, que perceberam que o Brasil enfrentou com sucesso a crise mundial. Na Europa, a esquerda não soube dar essa resposta ou apresentar qualquer outra saída. Agora, neste meio de ano, em 2011, os principais centros urbanos europeus têm suas ruas tomadas por protestos contra a política do neoliberalismo, contra a prevalência do mercado sobre o social. Esse parece ser o tom dos movimentos sociais em todo o mundo, Na Europa, na África, na Ásia e nas Américas.
Fonte:ABCD MAIOR
Nenhum comentário:
Postar um comentário