quarta-feira, 18 de maio de 2011

Emenda pior que o soneto

Ainda não estão claros os interesses por trás das denúncias contra o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, um dos mais queridos pelo mercado, mas a estratégia adotada para a defesa do seu enriquecimento nos últimos quatro anos pode ser considerada desastrosa. Uma nota da própria Casa Civil afirma que Palocci não foi o único a multiplicar seu patrimônio enquanto exercia cargo público, reforçando a percepção comum de que todos se locupletam no poder.


A intenção da nota talvez tenha sido encerrar o assunto ao citar especificamente nomes de ex-ministros da Fazenda, como Mailson da Nóbrega e Pedro Malan, e ex-presidentes do Banco Central e do BNDES, como Pérsio Arida e André Lara Rezende, que se tornaram banqueiros, diretores de instituições financeiras e consultores.


Ao se referir a personagens conhecidos, sobretudo tucanos ilustres, a nota parece ter pretendido enviar o recado de que todos têm telhado de vidro, o que poderia ser eficiente politicamente, mas terrível eticamente. Além de tudo, colocou ainda mais lenha na fogueira ao levantar a hipótese de que Palocci tenha se beneficiado de seus conhecimentos dos tempos de ministro da Fazenda, quando a multiplicação de seu patrimônio se deu no período em que esteve na Câmara dos Deputados.


O comunicado da Casa Civil afirma textualmente que “no mercado de capitais e em outros setores, a passagem por Ministério da Fazenda, BNDES ou Banco Central proporciona uma experiência única que dá enorme valor a estes profissionais no mercado”. A verdade não poderia ser mais cristalina. O mercado realmente deseja muito contar com essas pessoas, mas não apenas pelos seus talentos, e sim pelas informações de que dispõem.


O sentido ético do verdadeiro homem público deveria levá-lo a recusar tais propostas. E se é muito exigir isso, a lei precisaria estabelecer uma quarentena rigorosa para impedir quem deixa posições estratégicas, como o ministério da Fazenda e a presidência do Banco Central, de trabalhar ou prestar serviços para instituições financeiras.


O economista argentino Raúl Prebisch contou a Celso Furtado que quando deixou a direção do Banco Central argentino, por ele mesmo criado, ficou sem meio de vida, mas não aceitou vários convites para trabalhar no mercado financeiro. “Eu havia sido muitos anos Diretor-Presidente do Banco Central, conhecia a carteira de todos os bancos. Quando me demitiram, muitos grandes bancos me ofereceram altas posições, mas como podia colocar os meus conhecimentos a serviço de um se estava ao corrente dos segredos de todos?”, disse Prebisch, que, assim como Celso Furtado, nunca cedeu às tentações do setor privado.

 

A evolução do patrimônio de Palocci aconteceu durante o período em que esteve na Câmara dos Deputados e ele deve prestar contas dela. A nota da Casa Civil afirma que o ministro prestou todas as informações à Receita Federal e recolheu todos os impostos sobre a remuneração obtida com os serviços prestados, o que já é um ponto a seu favor. Há um oportunismo político evidente na exploração do caso, mas a questão ética ficou arranhada e a emenda foi pior do que o soneto.


Mair Pena Neto, Direto da Redação

4 comentários:

Anônimo disse...

Vou tuitar pela manhã: Oh Dilma, acorda!!! Manter Palocci Ministro é manter a tortura da militância!!! Fora Palocci!!!

Passarinho Pentelhão

Anônimo disse...

Cadeia pra todos. De mamando a caducando todos merecem o cárcere privado de tudo. Bandidos, safados, canalhas, LADRÕES.

Só sabem ROUBAR o dinheiro do povo e colocar no bolso. Bando de larápios, bandidos, ladrões. São todos iguais. Não salva nenhUM.

J. Carlos/Aju disse...

Para mim está mais que evidente. Como Marta e Mercadante estão desgastados politicamente em São Paulo, o ninho tucano, a tática desta pífia oposição é desconstruir a imagem de qualquer expoente político que venha a surgir. E Palocci é este expoente. Outro nome que pode incomodar o ninho tucano é João Paulo, mas como ele está lá na câmara quietinho ninguém mexe com ele. Porém, se o Governo da Presidenta Dilma nomeá-lo ministro o tiroteio começa. Quem viver verá!

Anônimo disse...

Eu acho que é fogo amigo mesmo. A oposição sempre esteve ao lado do de Palócci, porque ele protegia a política econômica dos tucanos. Mas o Palócci tem um enorme rabo de palha e só vai se livrar dessa se a Justiça for tão cega como dizem que é. Que a nossa presidenta se cuide, porque essa lama toda já está respingando na campanha e no governo dela.