sexta-feira, 13 de maio de 2011

Lei da selva




Nos últimos 20 anos, período que sucede o fim da ditadura aos dias de hoje, nenhum governo contou com base de apoio político no Congresso tão grande quanto o recém-iniciado governo de Dilma Rousseff. O rolo compressor governista (59 parlamentares no Senado e 402 na Câmara), se usado, tem peso suficiente para esmagar a oposição. Mas, para isso, seria preciso ser reunido a um só toque de corneta. E isso não tem sido possível.

Entre presidentes eleitos pelas urnas, após o governo Sarney, escolhido indiretamente, a situação na Câmara mostra o tamanho do apoio que, em tese, beneficia Dilma (tabela). Collor teve minoria, Itamar compôs uma maioria frágil, Fernando Henrique navegou em mar sereno e Lula governou com maioria apertada no primeiro e folgou no segundo mandato.

Sob Dilma, o expressivo governismo no Congresso ainda está em crescimento.
A oposição partidária, ao contrário, pode encolher mais pela diáspora em direção ao PSD, partido criado pelo prefeito paulistano, Gilberto Kassab. Ela conta, hoje, com pouco mais de cem integrantes, somados os do PSDB, do DEM, PPS e PV. À esquerda, o PSOL. E esse número pode minguar para 90 na Câmara. No Senado, os atuais 22 oposicionistas devem baixar para 20 ou 19.

A base governista, no entanto, não é consistente. Houve sintomas de fragilidade na votação do novo índice do salário mínimo para 2011. Ficou clara agora essa fraqueza com a fratura exposta durante a penosa e inacabada votação do Código Florestal.

Os líderes governistas não conseguem nem mesmo impor o fechamento de questão sob a qual os infiéis à linha oficial do partido podem ser punidos.

Por que uma base política tão grande tem se mostrado tão frágil?

Primeiramente, porque é grande demais ou, como constata Antonio Augusto de Queiroz, coordenador do Diap, o tamanho e a consistência esbarram na “heterogeneidade”.

A base governista cresceu em quantidade e em qualidade. Mas tem uma variedade de interesses que emergem em votações difíceis como a do Código Florestal”, diz Queiroz, um cientista político quase insuperável quando se trata de avaliar as variações de comportamento no Congresso Nacional.
Se dependesse somente da vontade do governo, seria mais fácil. O tema, entretanto, com grande repercussão na mídia, força o governo a negociar para tentar reduzir um impacto maior no plano internacional”, avalia.

A ecologia é, sem dúvida, um fato de real importância para o Brasil e para o mundo. Entretanto, a lealdade ambientalista dos políticos, aqui e alhures, nunca foi nem será maior do que a lealdade aos governos.

Essa regra pode ser mais claramente compreendida assim: os políticos são leais aos partidos, que, por sua vez, devem lealdade aos governos que se aliam em troca da participação nas administrações.

Nesse sentido, não há ninguém satisfeito na base governista. Dilma tenta, numa cruzada virtuosa, na qual tem colhido vitórias e derrotas, blindar o quanto possível o excesso de interesses políticos na administração. E, nas instâncias governamentais mais distantes, luta para impor nomes tecnicamente qualificados.

Isso é visível em algumas das ações de Dilma e audíveis em alguns dos discursos que faz. Ela semeia o vento da boa intenção e, muitas vezes, como agora na votação do Código Florestal, colhe tempestade.CartaCapital

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