quarta-feira, 25 de maio de 2011

Governo e ministro

Marcos Coimbra - Marcos Coimbra


Correio Braziliense - 25/05/2011
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi



Enquanto a oposição se move com cautela no caso Palocci, a imprensa tem pressa. Pelo que se lê nos principais jornais, as evidências estão prontas, as testemunhas ouvidas, houve o julgamento e a sentença foi passada. Seu interesse agora é outro: avaliar as consequências de tudo isso na imagem do governo e da presidente.

Os comentaristas mais afoitos parecem não ter dúvidas: o mundo acabou para Dilma. A lua de mel com a opinião pública chegou ao fim, a popularidade escorrega ladeira abaixo, sua base de sustentação no Congresso se esfacelará daqui a pouco.

Como o episódio ocorreu nos dias em que a presidente tinha reduzido seus compromissos externos (por estar se recuperando de uma pneumonia), amplificaram o quadro. “Sumida”, “fechada em si mesma”, “isolada no Planalto, dedicando-se exclusivamente à administração da crise”, é assim que ela foi descrita.

Só faltou dizer que o governo Dilma tinha terminado (na verdade, houve até quem o sugerisse, profetizando que Lula “voltaria” para por ordem na casa, tão mais cedo do que chegaram a esperar). É como se fosse o quinto ano de Sarney, com a diferença de estarmos no quinto mês.

Quem tem um mínimo de experiência com as pesquisas de opinião sabe, no entanto, que essas especulações fazem pouco sentido. Para a vasta maioria da população, os problemas de um ministro não são, necessariamente, problemas do governo.

Isso não é uma idiossincrasia brasileira ou um sintoma de nosso atraso. Tampouco deriva da baixa escolaridade média do eleitorado.

Mundo afora, em democracias maduras ou não, ministros são questionados e denunciados sem que isso provoque abalos maiores nos governos de que participam. Já aconteceu em quase qualquer país de que lembrarmos, por motivos que variam de comportamentos privados inconvenientes a suspeitas de que tinham favorecido seus próprios interesses ou os de alguém.

No Brasil, não houve um só governo que não tivesse passado por situação parecida. Da redemocratização para cá, todos. Vira e mexe, um ministro é acusado e enfrenta problemas, mas a vida do governo continua.

A razão disso está em que a opinião pública sabe que “essas coisas” podem ocorrer e ocorrem. Ninguém gosta delas, mas não se espanta quando é informado que sucederam.

Imaginar o inverso é desconhecer como se forma a imagem de um governo. Só os menos inteligentes supõem que tudo é 100% bom (ou 100% ruim): todos seus integrantes são perfeitos (ou pecadores), tudo que faz é certo (ou errado), enfrenta todos os obstáculos com a mesma competência (ou incompetência).

Pessoas normais avaliam os governos como julgam as outras coisas da vida (seu trabalho, seus relacionamentos, sua rotina): uma mistura de coisas boas e outras nem tanto. O que importa mesmo é a resultante disso tudo, a média.

Palocci tem problemas? Está visto que sim. Isso quer dizer que Dilma os tem? Não junto à opinião pública.

Quem aposta que o “caso Palocci” marque o fim de alguma coisa no governo Dilma apenas expressa seu desejo. Na verdade, a maior parte das pessoas que acha que é uma “bomba” não precisava dele para desgostar do governo.

O “caso” é bom para o governo? Pode ser considerado irrelevante? É claro que não. Nenhum governo atravessa episódios desse tipo sem algum desgaste. O que está em questão é a extensão e a profundidade.

O certo é que são raríssimos (se é que existem) os que mudam a avaliação de um governo, seja de que partido for, porque existem suspeitas contra um ministro. Ainda bem, pois, caso contrário, viveríamos em instabilidade ainda maior que a inevitável.

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