segunda-feira, 30 de maio de 2011

O desconfortável ruído do silêncio

Marcelo Carneiro da Cunha

 
Essa foi uma semana marcada pelo que não houve em Brasília: basicamente, uma entrevista do ministro Palocci explicando ao país o que houve ou não houve nessa questão de acusação de enriquecimento aparentemente acima do que seria razoável.
 
Na política, a primeira vítima costuma ser o bom-senso, e nesse caso, o atingido é um ministro chave para o funcionamento do sistema como ele foi desenhado para funcionar nesse início de governo Dilma. Ao surgirem as primeiras denúncias, um ministro na posição do ministro Palocci deveria eliminar o problema pela raiz, aliás, atribuição de um ministro da Casa Civil no exercício usual de suas funções, pelo que eu entendo.

Isso não aconteceu, e a consequência foi a subida de temperatura a que assistimos, sempre no mesmo silêncio disfuncional, um problema na semana em que foi votado o polêmico, para dizer o mínimo, Código Florestal.
 
O Código Florestal nem tem tanto a dizer sobre florestas, estimados Sul21enses, mas sim com o resto, o que não é floresta mais, ou o que querem que deixe de ser floresta, caso os ruralistas levem a melhor nessa batalha, como estão acostumados a levar nos campos onde mandam, desmandam e desmatam. Esse debate é sim um ordenador do país que iremos ter nos próximos tempos. Nossa vocação de grande produtor de alimentos me parece confirmada, e é assim que também vamos viver o futuro. Se iremos viver como devastadores ou manejadores inteligentes dos espaços disponíveis, é o que o Código Florestal ajuda a definir. Portanto, ele não é apenas importante, mas vital.
 
E bem nessa hora a oposição e sua falta de projeto, ou escrúpulos, ou ambos, aproveita da fraqueza do ministro e da consequente fragilidade do governo para cravar a sua estaca e cobrar a retirada, como ela tanto costuma fazer. O resultado é a insólita e esperada união dos arcaicos – bancada evangélica com a sua co-irmã ruralista e outros setores que sinceramente não sentem o menor interesse real pelo tema do futuro, muito mais confortáveis com o passado onde querem ficar para sempre, para azar nosso.
 
Lemos que Lula foi a Brasília interferir no processo, que Dilma estaria disposta a bancar o blefe e demitir ministros do PMDB, o pecado maior na capital federal; que evangélicos teriam apoiado os ruralistas em troca de apoio contra a lei da homofobia; lemos isso e muito mais, só não lemos, em lugar algum, o que o ministro Palocci estaria fazendo no meio de toda essa balbúrdia. E isso está errado.

A presidente tem mantido um silêncio exagerado também. Líder tem que mostrar a que veio e se antecipar a todos esses interesses, desarmando-os. Lula fazia isso com rara competência, Dilma precisa da mesma competência porque a oposição não mudou e os interesses, especialmente os econômicos, só fazem aumentar.
 
A pior coisa em um governo é ele se tornar o que os americanos chamam de “lame duck”, ou pato manco. Nem pata, muito menos manca, Dilma precisa recuperar a voz, em mais de um sentido, e o ministro Palocci precisa ainda mais disso, para mostrar que tudo não passa de especulação e manobra, aliás, área de expertise do PSDB/DEM.

Portanto, vamos lá, ministro, mostre a que veio e acabe com eles com a verdade, nada mais do que a verdade, somente a verdade.
 
Ministros que enriquecem são um problema, salvo nos casos em que um tio bilionário e excêntrico morre e deixa tudo de herança. O Brasil já tem problemas demais e uma inflação que insiste em mostrar a cara. O ministro precisa falar e ser convincente. Até agora ele saiu da cena sem falar, e isso não serve.

O ministro Palocci é petista, e o PT, queiram ou não, tem sim um compromisso com a ética na história desse país. O ministro pode muito, mas não pode ir contra essa verdade. Portanto, a ela. Eu, aqui no meu cantinho, aguardo, impacientemente. O país, em toda parte, mais ainda.Sul21.

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