Mesmo com o apoio e o prestígio do ex-presidente Lula, a reforma política anda empacada. O problema maior está na diferença de interesse político ente o PT e o PMDB, duas principais vigas de sustentação da base parlamentar do governo Dilma.
O PMDB rejeita o texto do deputado petista Henrique Fontana, relator da proposta, no qual há muitos penduricalhos secundários. Há, porém, na mesa de negociações um ponto fundamental para tornar o processo eleitoral mais democrático, mais competitivo. A questão está inserida no debate entre os que sustentam o financiamento privado e os que lutam pela adoção exclusiva do financiamento público.
É assustador o crescimento de recursos arrecadados para manter uma campanha em condições de vitória conforme mostram os números tabulados pela Transparência Brasil (tabela 1). É o que exige uma sociedade de massa, como no Brasil, onde a população se aproxima da casa dos 200 milhões.
Entre 2002 e 2010, os recursos declarados oficialmente quintuplicaram. Nesse período, ao alcançar o poder, o PT tornou-se o maior arrecadador. Conclusão óbvia: a bandeira política do empresário segue a bandeira de quem está no poder.
Em 2002, na eleição que antecedeu a chegada do PT ao poder, Lula, após disputar três eleições sem sucesso, conseguiu fazer uma campanha rica com recursos da ordem de 21 milhões de reais. O PSDB, com Serra representando a continuidade dos governos tucanos, obteve mais de 34 milhões. Foi a primeira vez que um candidato com menor arrecadação, oficialmente pelo menos, bateu o candidato com menor arrecadação também oficialmente declarada.
A partir daí o destino do PT mudou. O partido, expressão política dos eleitores da base da pirâmide social, migrou, como partido, para o topo da pirâmide, mesmo que isso não correspondesse ao eleitor que o apoiava. É o que mostram os recursos declarados ao Tribunal Superior Eleitoral entre as eleições de 2002 e 2010 (tabela 2)
O que atrai recursos é a projeção das possibilidades do poder chegar ao poder. O PMDB, porém, é um caso à parte. Em 1989, apresentou Ulysses Guimarães como candidato à Presidência. O partido, no entanto, sacrificou o candidato e mergulhou na aventura da candidatura Collor para derrotar Lula ou Brizola: o Brizula.
Mesmo assim, o partido sempre esteve próximo, muito próximo, dos maiores arrecadadores das três últimas eleições mesmo sem ter candidato próprio à presidência. Isso é explicável pela força do partido no Congresso e nas prefeituras. Para sustentar isso basta observar o que aconteceu em 2010 (tabela 3). O partido aliou-se ao PT e manteve arrecadação financeira muito próxima dos dois principais competidores.
O mesmo não acontece com o DEM que, em 2002 e 2006, adotava o nome de PFL. Em 2002, quando foi a principal força auxiliar da candidatura tucana, superou a arrecadação do PMDB e praticamente empatou com o PT que, ao fim, ganharia a eleição.
É importante acompanhar a extraordinária evolução do PT a partir do momento em que o partido entrou no jogo. Dos 95 milhões de reais que sustentaram a vitória de Lula sobre Serra, em 2002, o partido saltou para 117 milhões em 2010 quando, então, Dilma -superou o mesmo Serra.
O dinheiro sempre presidiu a competição eleitoral. Mas a forma do predomínio do dinheiro tem mudado ao longo do tempo. Era mais dissimulado. Hoje é mais ostensivo. Por isso, há muito tempo, a eleição tornou-se um fato mais econômico do que político. O candidato, no caso da eleição proporcional, ou o partido, quando se trata da eleição presidencial, disputa primeiro o dinheiro para, depois, disputar o voto.
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Fonte:CartaCapital
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