sexta-feira, 24 de julho de 2009

Entre artistas, presidente vira ''antropófago''


Definição foi do diretor de teatro Zé Celso, durante solenidade em que Lula lançou o Vale-Cultura
Jotabê Medeiros

Classificado de "primeiro presidente antropófago do País" pelo diretor de teatro e dramaturgo José Celso Martinez Correa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou com grande desinibição e presença de espírito do lançamento, ontem à noite em São Paulo, do projeto de lei que cria o Vale-Cultura - mecanismo de incentivo semelhante ao vale-refeição e pelo qual cada trabalhador de baixa renda no País deverá receber um cartão magnético no valor de R$ 50 para gastar em espetáculos e produtos culturais.

Diante de uma plateia eclética, que reuniu os cineastas Luiz Carlos Barreto e Cacá Diegues, as atrizes Bruna Lombardi e Leona Cavalli, o empresário Antônio Ermírio de Moraes e o crítico Antônio Cândido, Lula falou longamente de suas preferências e de sua formação cultural.

"Se é novela, assiste a um capítulo e já sabe o que vai acontecer depois. Documentário precisa um pouco mais de astúcia", afirmou, fazendo a plateia gargalhar. "O primeiro museu que conheci foi o Museu do Ipiranga, porque a escola levou. Fui ao planetário, porque a escola levou. Depois, fui a outros, porque a gente vai ficando metido a besta, vai ficando chique."

Lula contou que recomendou ao presidente americano Barack Obama que assistisse ao filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, "para ver como a máquina tritura o ser humano", e que o colega deveria fazer todas as mudanças necessárias no seu país já no primeiro ano.

Chamou a cantora Tetê Espíndola, que participava dos shows da noite, de Zizi Possi. E zombou da cantora Zezé Motta por fazer questão de citar demais o nome da ministra Dilma Rousseff. "Se tivesse um juiz eleitoral aqui, a Dilma ia ter problema."

Já de partida para o Paraguai - onde se encontrará com outros presidentes - Lula teve dificuldades para se desvencilhar do admirador Zé Celso, que queria seu engajamento no projeto de criação do "Anhangabaú da Felicidade" no entorno do Teatro Oficina. Sua aparição foi a única quebra de protocolo que pegou o presidente desprevenido. Zé Celso disse que Lula, como é de Caetés, "veio exatamente da mesma tribo que comeu o bispo Sardinha", em alusão aos canibais que devoraram tripulantes de navio naufragado na fase pré-colonial brasileira.

Numa parte mais "explícita" do discurso, o presidente alfinetou o Instituto Itaú Cultural. Criticou também o mercado editorial nacional, que considerou egoísta, e o modelo multiplex de cinema, que costuma ter salas pequenas em shoppings.

Lula contou que andava até 8 quilômetros quando garoto para ir a um cinema, num tempo em que era obrigatório ir de paletó e os cinemas eram maiores e mais confortáveis. "Por que cachorro entra na igreja? Porque tá aberta. Por que igreja compra cinema? Porque tá fechado. Precisamos abrir os cinemas", disse, citando divertidas histórias de suas idas ao cinema.

Eduardo Saron, superintendente do Instituto Itaú Cultural, entendeu a crítica ao sistema de incentivo fiscal, não à instituição. "Estamos tranquilos porque a maior parte do dinheiro que usamos em 2008 era contrapartida do banco." AE.
Colaboração Nancy Lima.

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