segunda-feira, 20 de julho de 2009

O consumo já interrompeu a recessão no Brasil

Segunda-feira, 20 de Julho de 2009

artigo, Fernando Sampaio

Jornal do Brasil - O consumo segue em recuperação. Foi o que confirmaram os dados sobre as vendas do varejo em maio, divulgados na terça-feira pelo IBGE. Depois de dois meses de ligeira retração, o volume de vendas do comércio voltou a crescer, atingindo nível 1,1% superior àquele verificado em setembro do ano passado, o mês que antecedeu a interrupção do crescimento da economia brasileira, e 3,8% superior ao de dezembro, mês que correspondeu ao "fundo do poço" da atividade econômica, no Brasil e no mundo, nos últimos tempos.

A recuperação do consumo tem várias causas. Uma das principais é o fato de que, com a desaceleração da inflação, o poder de compra dos consumidores não tem sido corroído rapidamente. No caso das pessoas que têm rendimentos atrelados ao salário mínimo, houve mesmo um aumento do poder de compra nos últimos meses.

Ao lado disso, a ameaça de um aumento rápido do desemprego, marcante nos meses finais de 2008, não vem se materializando. As taxas de desocupação nas regiões metropolitanas, que deram um salto entre outubro de 2008 e janeiro do ano corrente, desde fevereiro têm se mantido relativamente estáveis (descontadas as flutuações relacionadas a aspectos sazonais).

O alívio propiciado por essa interrupção da escalada do desemprego tem contribuído para uma recuperação da confiança dos consumidores (que sofrera um baque no final do ano passado), cuja inclinação a endividar-se para comprar bens de consumo duráveis volta a aumentar.

Um terceiro elemento a estimular o consumo é, evidentemente, o conjunto crescente de medidas que as autoridades econômicas vêm introduzindo com essa finalidade. A redução do imposto de renda das pessoas físicas foi seguida por reduções sucessivas da tributação sobre as compras de bens específicos, começando pelos automóveis e seguindo pelos materiais de construção e os eletrodomésticos da linha branca.

Também têm sido importantes a redução de compulsórios bancários, o corte da taxa de juros básica (Selic) e outras medidas voltadas a reativar o crédito às pessoas físicas (que, a exemplo de quase todos os tipos de operação comercial, sofreu uma "travada" no final de 2008).

Todos estes dados se restringem ao consumo de bens, e o consumo de serviços, a respeito do qual há muito menos informação, tem peso até ligeiramente maior no PIB. Ainda assim, a esta altura é bastante forte a impressão de que, depois de cair no 4º trimestre de 2008 e recuperar-se parcialmente no 1º trimestre de 2009, o consumo das famílias considerado em seu todo (ou seja, a compra tanto de bens como de serviços) continuou em expansão no 2º trimestre. Como o consumo das famílias é, de longe, o maior componente da demanda agregada (respondendo por pouco mais de 60% do PIB), é bastante provável que a economia brasileira já tenha voltado a se expandir no trimestre recém-findo (sobre o 1º trimestre do ano, e descontadas as oscilações típicas de cada trimestre).

Leia a matéria completa no site do Jornal do Brasil

Essa série de matérias que selecionei nesse fim de semana demonstra que apesar da crise internacional que abateu a demanda internacional e a produção industrial de todo o mundo, no Brasil as condições macroeconômicas pré-crise, referentes à massa salarial e a empregabilidade, garantiram a manutenção do consumo que faz girar a roda da economia.

Para muitos analistas, o governo Lula não passa de uma continuação bem sucedida do receituário 'neoliberal'. De fato a equipe econômica desde o primeiro mandato chegou a radicalizar a política fiscal e manteve o rigor da política monetária. Ocorre que a crise cambial de 2002 e a fragilidade das contas externas daquele período exigiam medidas austeras.

Se por um lado manteve altos superávits primários, o governo aprofundou as políticas de transferência de renda, de recuperação do salário mínimo, de expansão do mercado doméstico. Sob esse ângulo passou longe do receituário. E as críticas diárias das 'Mírians Leitões' da vida, não me deixam mentir.

A verdade é que as medidas adotadas pelo Governo Lula para enfrentar a crise estão no rumo certo: mais investimento público e mais mercado interno. Mas nada disso não traria resultados efetivos sem a redução da vulnerabilidade externa, da consolidação da estabilidade macroeconômica e dos significativos avanços na distribuição da renda. Embora tudo isso não tenha impedido que fossemos afetados pela crise, aumentou a resistência a seus efeitos e criou condições favoráveis para a retomada do crescimento.

Não foram poucos os analistas que atacaram a decisão de aumentar em R$ 100 bilhões os recursos do BNDES para financiar investimentos, a ampliação dos investimentos da Petrobrás, a criação do Fundo Soberano, a retirada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do aperto fiscal ou a redução do IPI para vários bens duráveis. Mesmo os que reconhecem lá no fundo que o país está dando aula ao mundo no quesito responsabilidade fiscal, como bem foi indicado pelo recente anúncio do aumento das reservas internacionais para os inéditos US$ 209 bi, pela queda consistente da dívida pública, além de termos hoje a mais baixa taxa Selic da história.
Colaboração da amiga Nancy Lima.

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