sexta-feira, 12 de março de 2010

Jornal israelense vê Lula como 'profeta do diálogo'

Reportagem do 'Ha'aretz' fala da expectativa sobre a visita do presidente ao Oriente Médio

JERUSALÉM - Uma reportagem publicada pelo diário israelense Ha'aretz nesta sexta-feira, 12, classifica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o "profeta do diálogo", por sua defesa das negociações diplomáticas em busca da paz na região. O presidente brasileiro chega no domingo a Israel para uma visita de quatro dias ao Oriente Médio.

"Imparcialidade é o nome do jogo. Lula tem que ser amado por todos. Sua visita ao Oriente Médio na próxima semana começará em Israel, mas também o levará para os territórios palestinos e para a Jordânia", comenta o texto do jornal.

O autor da reportagem, Adar Primor, participou de uma entrevista concedida pelo presidente brasileiro a dois jornalistas israelenses e um árabe. Segndo o jornalista, essa característica de Lula transpareceu até mesmo na hora de escolher quem faria a primeira pergunta, por meio de uma disputa de par ou ímpar.

Apesar disso, o jornal questiona a capacidade de Lula de ganhar a confiança dos israelenses ao manter a cordialidade com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, conhecido por sua negação do Holocausto e por comandar a nação que seria a maior ameaça para o Estado judeu no Oriente Médio.

A reportagem observa que Lula foi um dos primeiros líderes mundiais a receber Ahmadinejad após as contestadas eleições iranianas de junho do ano passado e um dos cinco países que se abstiveram em uma votação na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) pela condenação do Irã por conta de seu programa nuclear.

Segundo a entrevista do Ha'aretz, Lula disse ter colocado "claramente" a Ahmadinejad que "ele não pode continuar dizendo que quer a liquidação de Israel, assim como é indefensável sua negação do Holocausto, que é um legado de toda a humanidade". "Acrescentei que o fato de que ele tem diferenças com Israel não permite a ele ignorar a história", disse o presidente.

Negociador

Para o Ha'aretz, as autoridades israelenses ficarão perturbadas pela associação que Lula faz entre a falta de avanço no processo de paz israelo-palestino e sua visita a Teerã programada para maio, a necessidade de garantir que o Irã não desenvolva armas nucleares e a necessidade de resolver o conflito na região, as fracassadas tentativas de mediação do diálogo, principalmente dos EUA, e a necessidade de se incorporar novos mediadores, como o Brasil.

A reportagem comenta que Lula se descreve como "um negociador, não um ideólogo", capaz de se relacionar ao mesmo tempo com Hugo Chávez e com George W. Bush, com o presidente israelense, Shimon Peres, e com Ahmadinejad.

"Ele diz nunca ter lido um livro em sua vida, embora todos admirem sua 'sabedoria suprema' e sua 'mente criativa'. Como presidente do sindicato de trabalhadores durante os anos de regime militar no Brasil, ele encontrou e resolveu muitos conflitos difíceis", afirma o texto.

Para a reportagem, Lula está ciente de que pode soar ingênuo diante dos seus interlocutores israelenses, mas crítica a posição do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, de comparar Ahmadinejad com Hitler e o Irã atual com o regime nazista do pré-guerra.

"Qualquer um que siga essa linha não está contribuindo em nada para o processo de paz que queremos criar", disse Lula na entrevista. "Você não pode fazer política com ódio e ressentimento. Ninguém pode administrar um país com o fígado. Você tem que administrar um país com sua cabeça e com seu coração. Se não for assim, é melhor ficar fora da política", afirmou.
BBC Brasil.

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