quarta-feira, 10 de março de 2010

Vaccari:'Cooperados que tinham de pagar não quiseram'


Pessoal, sei que a entrevista é longa, mas como o Estadão, um dos instrumentos do promotor aloprado, exclui o link relacionado a esta matéria, achei interessante publicar a entevista aqui.Quem não tiver paciência, não leia. Eu lí e achei muito esclarecedora.Ah! vejam como o Estadão é torpe, colocou como chamada de capa uma manifestação ocorrida em maio de 2007, como se fosse hoje.


O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - Apontado pelo Ministério Público Estadual de São paulo como responsável por um esquema de desvio de recursos na Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), o novo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, diz que houve apenas um "desequilíbrio financeiro" e nega que o dinheiro tenha ido para campanhas eleitorais de seu partido. Em entrevista exclusiva ao 'Estado', Vaccari responsabiliza os próprios cooperados por não terem conseguido as chaves dos imóveis adquiridos por meio da cooperativa.

De acordo com ele, os valores apresentados no ato da compra não passavam de "estimativas", que tiveram de ser corrigidas em decorrência de "erros orçamentários". "O que existe é uma briga entre sócios. Uma cooperativa é uma sociedade de pessoas. E alguns sócios não querem cumprir o que eles combinaram."

Como o sr. reage às conclusões do promotor José Carlos Blat, do Ministério Público Estadual?
Vocês continuam insistindo no erro. Não há R$ 100 milhões de rombo.

Então, como o sr. explica os quase três anos de investigação?


Para você ter uma ideia, ele em nenhum momento cita que teve acordo com a Bancoop. Temos um acordo judicial, transitado com o juiz, onde ele exclui a gente. De qualquer forma, há uma diferença entre um gestor financeiro e um diretor financeiro. Lá, o Luizinho (Luiz Malheiro, ex-presidente da Bancoop) optou pelo modelo de gestores. Me colocou como gestor financeiro, mas eu não assinava nada. Eu só cobrava dele que não podia dar problema.

O sr. não assinava os balanços?


Nada, nunca tive que assinar nada. Nem balanço. Só comecei a assinar quando virei presidente, quando Luizinho morreu num acidente. Eu podia renunciar, mas decidimos fazer um mandato tampão. Quando elegemos a direção, houve uma assembleia com mais de 120 cooperados, que não estavam acostumados com isso. Perguntaram qual era nosso plano de trabalho e dissemos que teríamos democracia, transparência e participação. Era nosso slogan. Houve cooperados que foram até lá, gostaram da cooperativa. Fizemos uma auditoria contábil e uma de engenharia. Para quê de engenharia? Para ver se estava tudo bem. Aí os engenheiros disseram: 'Tem problema nos preços. É muito baixo. Com esse preço que vocês puseram, vocês não constroem'. A auditoria contábil mostrou que estava desorganizado. Então, organize. Contratamos a Trevisan e agora outra empresa audita nossos balanços. Estou dizendo isso, mas você não vai escrever uma linha. Porque não é a linha do seu jornal. Você não vai escrever nada disso, vai continuar com essa bobagem de R$ 100 milhões. Aí, nós apuramos prédio a prédio e chamamos os cooperados por escrito, empreendimento a empreendimento. Dissemos a eles: 'os preços estão errados. Não se constrói com esse preço'.

Então, alguém apenas errou na primeira avaliação?

Foi um problema de custo.

Mas de quem foi esse erro?


Dos engenheiros. Muitas vezes não se fez o cálculo correto. Não é que faltava 20% em todos os empreendimentos. Em alguns, faltava R$ 3 mil. Em outros, faltava R$ 50 mil.

O sr. explica esse problema todo com famílias que não conseguiram seus imóveis por um erro orçamentário? São os cooperados que estão falando.


Nós chamamos os cooperados e dissemos a eles: 'Amigos, com esse dinheiro dá para fazer duas torres, não três. Auditem para verificar'. Alguns fizeram isso e estão tocando a vida. Outros fizeram e não concordaram com o resultado. Houve dois que enrolaram a gente. Disseram, vocês vão fazer (a auditoria), depois a gente soma e divide. Conferiram, acharam erros usuais de construção civil, nada desse escândalo que o promotor diz que tem. Só que faltava dinheiro. Então, esse dinheiro não entrou. Aí, o cara pega o termo de adesão - cooperativa não faz contrato - e lá dentro tem todas as regrinhas, inclusive a de que eles têm de pagar eventuais diferenças de preços. Mas eles dizem: 'Ah, você tem que construir por esse preço que você falou'. Mas isso é estimativa de custo.

Os cooperados, segundo o sr., não concordaram em acertar essa estimativa de custo?


Muitos não tentaram pagar. Aí, pegamos as obras prontas, fizemos o cálculo de quanto foi gasto na obra e colocamos a documentação à disposição dos cooperados para que eles auditassem. Está tudo por escrito. Já contamos essa história dez vezes. Seu jornal nunca quis escrever. Esse promotor faz essa apologia o tempo todo. Por que ele não propõe ação na Justiça? Porque não tem provas.

Mas foi o próprio irmão de Luiz Malheiro que denunciou a existência de pagamentos para o PT.
Se ele fez pagamentos ao PT, deve ter sido para alguém. Ele deve ter algum documento. O Hélio Malheiro é um picareta. Eu só o conheci quando o irmão dele morreu. E nós o demitimos por má prestação de serviço. Ele e o Andy (Roberto, ex-segurança da Bancoop), que espelhava notas. Isso tudo nós entregamos ao promotor, inclusive as notas espelhadas pelo Andy. Nós fizemos todo o processo de saneamento. Esse promotor quer sacanear comigo, porque sou petista, sou tesoureiro do PT. É uma ação eleitoreira, a mando do PSDB. Tanto é que não teve nenhum processo e só agora ele pede para quebrar meu sigilo bancário. Só agora. Eu não tenho problema nenhum com meu sigilo bancário.

O sr. não tem preocupação?


Eu vou reagir politicamente e ele que vá fazer gracinhas com as negas dele. Acabou o dinheiro, paramos as obras. Tem um empreendimento na Paulista do qual somos credores, R$ 1,5 milhão que gastamos a mais. Aí gritavam. Então, obra parada. No dia que pagarem, continua. Os cooperados tinham que pagar, alguns deles não quiseram. Outros quiseram. Os que quiseram, concluíram a obra e estão tranquilos. Concluímos algumas obras com recursos de terceiros, com o chamado Empréstimo Solidário. Se esse promotor quisesse saber quem sacou dinheiro, não ficava somando cheques de operação interbancária. Ele está somando isso e dizendo que é rombo. Não é. Por que ele não vai ao Bradesco e pede ao banco que informe quem sacou? O Bradesco tem. Está tudo lá.

Mas há indícios de que o dinheiro foi parar na campanha do PT em 2002. E não é de hoje que há um histórico de caixa 2 no PT.


Não existe isso. Se o Blat tivesse feito uma investigação séria, não estaria dizendo tanta bobagem.

Mas o fato é que parte do dinheiro da Bancoop parece ter desaparecido.


De jeito nenhum. Nós usávamos cheques TB (transferência bancária), você não saca dinheiro - eram usados na época em que ainda tinha a CPMF. Você não saca cheque TB na boca do caixa. Não saca. Agora, se você levar um cheque normal, saca. Mas, se sacar, fica identificado quem sacou. Pergunto: por que eles não vão lá na gerência do banco para ver se a Bancoop sacou R$ 100 milhões em dinheiro lá? Não existe isso.

Como era seu relacionamento com o Luiz Malheiro?


Eu era presidente do Sindicato (dos Bancários). Tínhamos um bom relacionamento. Mas quando fizemos a auditoria de engenharia é que descobrimos que havia um problema. Teve um problema de desequilíbrio financeiro, que nós comunicamos aos cooperados. Está tudo escrito nos nossos balanços.

R$ 1,5 milhão teriam sido pagos na sua gestão à empresa do Freud Godoy.

Freud é prestador de serviços. Ele faz segurança. Nós demitimos o Andy e contratamos o Freud.

Mas o Freud não é suspeito?

Ele não tem nada suspeito, nunca foi condenado a nada. Se os jornais não gostam do Freud porque ele é assessor do Lula é um problema dos jornais. Ele tem uma empresa que presta serviços direitinho.

O sr. trocou telefonemas com Hamilton Lacerda no dia da tentativa de compra do dossiê dos 'aloprados'?

Vá lá na Polícia Federal e pegue meu depoimento. Está lá. Estamos conversando aqui, mas eu não sei o que você fez antes de chegar. E se você matou um cara na esquina? Eu sou cúmplice do seu ato? Não tem nada a ver. Nem foi o Hamilton Lacerda que ligou para mim.

Com quem o sr. falou?

O delegado da Polícia Federal não me perguntou.

Me parece uma pergunta óbvia.

Meu depoimento está lá, é público. Você está vendo como é uma engenharia política? Tentam até trazer os aloprados para a gente. O meu relacionamento com o Aloizio Mercadante (de quem é segundo suplente) é zero. É um eterno conhecido. Não fazia parte da campanha dele, não fazia nada. É uma tentativa de ilações. É serviço do PSDB.

Quem está mandando?

Acho que é o amiguinho deles promotor. Ou o próprio presidente do PSDB, ou o (José) Serra. É coisa do PSDB. Tem alguma coisa que não estou entendendo. Porque estamos dizendo as mesmas coisas há três anos. Não publicam o que a gente diz.

Mas, na sua avaliação, não parece suspeito o relacionamento da Bancoop com a Germany e outras empresas?

O que eu fiz quando era presidente? Tinha um monte de construtoras e os preços eram equivalentes. Tem construtora que processa a gente na Justiça, tem construtora que não pagou direitos dos trabalhadores e veio para nós, um monte, grande, pequena, de São Paulo, fora de São Paulo. Criamos um padrão de engenharia. Nosso desejo era até padronizar os prédios. Então, encerramos contratos. Estamos regularizando devagar. Não é fácil.

Se os problemas são tantos, por que manter a Bancoop funcionando? Afinal, ela parece criar mais problema do que solução.

De jeito nenhum. Aqueles que querem fazer as coisas da maneira certa estão fazendo. Tem que fazer direitinho. Aí, é uma boa medida de redução de custos para a construção de imóveis. Se nós falamos que é R$ 20 mil, a construtora diz que é R$ 50 mil. Nós não lançamos nenhum empreendimento nesses cinco anos. Estamos resolvendo. Alguns estavam feitos, outros estavam feitos pela metade. Se fizer certo, dá certo. Agora, a determinação do nosso sindicato é continuar fazendo produção para bancários, porque há bancários que querem comprar.

Quando o PT escolheu seu nome para a tesouraria, todos já sabiam que isso viria à tona. Alguns foram contra e outros até disseram que foi um pagamento por serviços prestados.
Não recebi. Não recebi pagamento.

Como foi a escolha do seu nome?

Foi um debate político, como ocorre com todo mundo. Teve gente contra, gente a favor. Tivemos de construir uma maioria. Sou bancário e a cooperativa é dos bancários. A prerrogativa de resolver esse problema foi da cooperativa, quisemos colocar tudo em ordem. Agora, o que existe é uma briga entre sócios. Uma cooperativa é uma sociedade de pessoas. E alguns sócios não querem cumprir o que eles combinaram. 'Ah, está tudo errado'. Então, audita. Nós pagamos auditoria para alguns empreendimentos. E não acharam os erros do Blat.

Mas o Blat não é o único. Outros organismos investigam a Bancoop.

E o que acharam? A maioria das perícias demonstraram a nossa visão ou tiveram diferenças pequenas.

Como o sr. responde à alegação de que a Bancoop foi criada com um propósito específico, de arrecadar e desviar dinheiro?

Quem faz essa acusação tem que, primeiro, provar, colocar nos autos, para nos garantir direito de defesa. A forma como as coisas têm sido feitas por alguns órgãos de imprensa e pelo promotor Blat é não permitir nosso direito de defesa.

O PSDB já prepara uma CPI na Assembleia Legislativa. Tucanos dizem que convidaram o sr. a prestar esclarecimentos e o sr. não compareceu. Agora, querem convocá-lo.

Tudo depende de como vou ser convocado. Da primeira vez, eles queriam fazer na Assembleia Legislativa um linchamento público, não queriam explicações. Nunca quiseram ouvir explicações, até porque todas as explicações nós demos. Isso tudo é uma guerra política. Por que o Blat não pediu antes a quebra do meu sigilo? Por que só pede agora, na véspera da eleição? O Ministério Público civil perguntou, pediu documentos, esclarecemos, fizemos um acordo com eles e o juiz homologou. Por que a diferença, se a Bancoop é a mesma, o Ministério é o mesmo?

O que vocês estão fazendo para solucionar os problemas dos cooperados?

Eles têm que pagar. Se eles não pagam, não tem. Há um contrato assinado conosco, onde o preço é estimado. E eles querem transformar em Código de Defesa do Consumidor, onde o preço é fechado. Mas não foi isso o que eles assinaram. Agora, querem que entreguem sem pagar.

Quando o irmão do então presidente da Bancoop diz que o dinheiro ia para o PT, como fica?

Ele (Hélio Malheiro) tem que provar. O irmão dele (Luiz Malheiro) morreu. Não adianta eu apenas falar que você vende cocaína. Vou ter que provar o que eu digo.

Como o sr. enxerga o movimento do PT de manter o sr. e esse caso longe da Dilma?

Eu nunca fui próximo da Dilma. Sou militante do PT, só isso. Não frequento a Casa Civil, nem nada disso. Eu a cumprimentei uma ou duas vezes. É nossa candidata, respeito.

O sr. faz parte do Conselho de Administração da Itaipu Binacional. Por que o sr. está lá?
Lá existem seis conselheiros, não sou só eu.

Mas quem o indicou e por quê?

Quem de direito.

Mas o que justifica sua presença nesse conselho?


Por que a perseguição comigo, só porque eu sou do PT? Só por que sou o único trabalhador, que veio dos sindicatos? Tem que indicar mais trabalhadores para os conselhos de administração. Sou representante dos sindicatos. Quando fui indicado, eu era secretário de Relações Internacionais da CUT. Qual é a característica de Itaipu? É binacional.

De uma forma ou de outra, o PT tem um histórico de irregularidade na administração de recursos e o modelo aplicado na Bancoop traz à memória o caso do mensalão.

De jeito nenhum. Pegou-se o dinheiro, usou-se na construção dos imóveis.

Nunca houve saque em dinheiro na boca do caixa, cheque circulando?


Essa informação, basta o promotor pedir ao Bradesco, que com certeza tem tudo disponível. Agora, que temos despesas operacionais, temos. O seu jornal também tem.

Como o sr. recebe o fato de alguns o compararem ao Delúbio Soares?


Pergunte a quem comparou. O que eu espero é que se conte a verdade sobre a Bancoop. O que houve foi desequilíbrio financeiro, crescimento muito acelerado. Cresceu sem o devido planejamento. Nós desativamos o que deveria ser desativado e devolvemos o dinheiro aos cooperados. Desativamos alguns conjuntos antes de colocar o primeiro tijolo. Quando o promotor faz essa agitação eleitoral, para nós se cria um grande desgaste, paralisa tudo. Mas é bom registrar que não sou mais presidente da Bancoop. Sou ex-presidente.

Quanto o sr. ganhava como presidente da Bancoop?


Está tudo registrado nos balanços, aprovado nas nossas assembleias.

Como foi o processo todo de negociação com os cooperados?


Fizemos reuniões técnicas com os cooperados, alguns empreendimentos já tinham gastado mais do que estava arrecadado, outros não tinham gastado tudo. Avisamos: 'Há um problema, os orçamentos foram feitos de forma errada. Houve desequilíbrio financeiro na elaboração do orçamento'. Colocamos os documentos à disposição deles, para que auditassem. E mais, contratem a auditoria da confiança de vocês e nós pagamos - metade, metade. A sua metade, colocamos como custo de obra. A nossa, descontamos da taxa de administração. E façam todas as verificações. O que foi encontrado é que de fato havia coisas erradas no orçamento. Oferecemos ao Ministério Público que auditasse todas as nossas obras. Foram escolhidas três obras. Chegamos a discutir o nome da empresa que faria a auditagem. Aí, o Ministério Público mandou arquivar o processo.

Mas não foi um empreendimento apenas que apresentou problema. Esse modelo problemático parece ter sido repetido prédio após prédio.


Mas alguns deram certo.

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