Em queda constante nas pesquisas de intenções de voto e com cada vez menos apoio de aliados nos palanques estaduais, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, resolveu entrar em campo para evitar uma derrota humilhante.
Depois de passar toda a campanha ignorando seus auxiliares e aliados, o tucano agora quer exigir mais mobilização partidária. Tudo no sentido de conter a sangria se sua candidatura e reverter o crescimento da oponente Dilma Rousseff, da coligação Para O Brasil Seguir Mudando.
Pondo mais uma vez em prática sua vocação autoritária e centralizadora, Serra cobrou uma série de medida do comando da campanha e do PSDB. Ele quer que os tucanos se sacrifiquem para oferecer mais infraestrutura nos estados e contratar cabos eleitorais — além de intensificar a produção de material de campanha e melhorar a distribuição.
Na madrugada de terça para quarta-feira, durante reunião com a coordenação da campanha, Serra declarou que só terá chances de chegar ao segundo turno se a sua candidatura tiver mais visibilidade, com distribuição de panfletos e presença de cabos eleitorais nas ruas.
Além de Serra, participaram da reunião, em São Paulo, o presidente nacional do PSDB e coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra (PE); José Henrique Reis Lobo, da área financeira administrativa; e Sérgio Kobayashi, de infraestrutura.
No domingo, o partido já havia convocado uma reunião da área administrativa e de infraestrutura com o setor de arrecadação, para tentar articular melhor as áreas. Depois da reunião entre as partes, Serra convocou os três tucanos para o encontro de anteontem.
Divergências públicas
O encontro serviu para os tucanos definirem mais ações para conter o avanço de Dilma. Uma das medidas a serem adotadas pela campanha Serra é "colar" os candidatos nos estados ao presidenciável. Ficou acertado que cerca de R$ 20 milhões serão gastos com a produção de itens para a divulgação, como banners e santinhos.
Segundo Guerra, a produção de material para a campanha de Serra será "triplicada" e enviada aos estados com mais agilidade. "A prioridade é abastecer todos os estados", afirmou. Lobo, porém, negou que o material venha a ser triplicado, embora afirme que estava programado um aumento com o início do horário na TV.
Kobayashi também desautorizou Guerra. "A demanda é sempre superior à produção. Os recursos são finitos. Não faremos loucura, não temos caixa dois", disse Kobayashi. Segundo ele, nada fugirá do cronograma previsto — e já estava até programada a mobilização de cabos e suas bandeiras no mês que antecede a eleição.
Apesar da crescente desvantagem nas pesquisas, toda a estratégia dos tucanos tem na mira empurrar a disputa para o segundo turno. De acordo com os mais recentes levantamentos de intenção de votos, se a eleição fosse hoje, Dilma venceria no primeiro turno.
Segundo Guerra, o PSDB vai priorizar a contraofensiva ao avanço de Dilma em São Paulo — estado governado por Serra até abril e por tucanos há 16 anos. Uma ação definida é a agenda política em conjunto com o candidato do PSDB ao governo paulista, Geraldo Alckmin. Está programado para a próxima semana um encontro que pretende reunir 450 prefeitos em São Paulo.
No eleitorado paulista, segundo o Datafolha, Serra acaba de perder a liderança. Dilma saiu de 34% na semana passada e está com 41% agora — ao passo que o ex-governador caiu de 41% para 36%. Na capital paulista, governada por Gilberto Kassab (DEM), aliado de Serra, ela tem 41% e ele, 35%.
Programa de TV
O programa de TV é outro foco das atenções tucanas. Para minimizar a brusca decadência de Serra, o ex-governador Aécio Neves gravou uma participação para o programa do presidenciável. Aécio teve várias conversas ao longo do dia, entre elas com o coordenador de comunicação, Luiz Gonzalez.
Se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não reclamou, publicamente, de sua tímida aparição no programa eleitoral do PSDB, o candidato tucano ao governo do Paraná, Beto Richa, diz que Serra "deve melhorar seus programas na TV, acertar uma linha de ação". Segundo Richa , o presidenciável tucano pode reverter a desvantagem nas pesquisas desde que mude seus programas.
Em conversas, Serra tem defendido a manutenção da linha de comunicação da campanha. Quando elogiam a beleza do programa de Dilma, Serra costuma alegar que nem sempre os programas bonitos também são eficientes. O problema é que, segundo a mais recente pesquisa Datafolha, a tese de Serra está completamente furada.
Mais da metade (54%) dos eleitores que já assistiram ao horário eleitoral gratuito na TV afirmam que Dilma é a candidata a presidente que está se saindo melhor nas propagandas. Serra aparece em segundo lugar, com 26%, e Marina Silva (PV) fica em terceiro, com 7%.
No levantamento anterior, o desempenho de Dilma era o melhor para 49% dos entrevistados que viram os programas, e o de Serra, para 27%. A propaganda de Marina era a melhor para 8%.
Estados
Sérgio Guerra também trabalha para debelar crises regionais. A notícia de que a oposição elegeu quatro estados (São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás) como prioridades, após a queda de Serra nas pesquisas, gerou uma profusão de queixas.
Na quarta, Guerra negou que o PSDB tenha abandonado o candidato a governador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Lembrando que os tucanos que administram as maiores cidades do estado estão com Jarbas, Guerra alegou que, dos 11 prefeitos do PMDB, seis estão com o governador Eduardo Campos.
Mas a situação de Serra é tão grave que, se a eleição fosse hoje, ele perderia em sete estados grandes (SP, MG, RJ, RS, BA, PE e PR) e no Distrito Federal. É nesses locais que o instituto Datafolha expandiu sua amostra para estudar as disputas para governador e senador. Dilma lidera em todas essas unidades da Federação, inclusive em estados como São Paulo e Rio Grande do Sul, tidos pelos tucanos como locais vitais para manter Serra com chances de ir ao segundo turno.
Entre as capitais, só sobrou Curitiba (embora no Paraná Dilma esteja à frente). Mas mesmo entre os curitibanos Serra vem caindo e sua situação eleitoral é delicada. Ele tinha 47% em julho e está com 40% agora. Já Dilma tinha 24% em julho e chegou a 31% na capital paranaense.
Da Redação Vermelho, com agências
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