Brasiliana.0rg
Mauro Paulino, do Datafolha, respondeu às críticas pesadas (e técnicas) que vem sofrendo dos demais institutos de pesquisa.
Por Luis Nassif*
É uma tarefa inglória. Primeiro, pelos antecedentes. Quando a pesquisa Datafolha começou a desgarrar inexplicavelmente do histórico das demais pesquisas (inclusive as suas próprias), Paulino foi um dos principais estimuladores dos atos de represália contra os concorrentes. Foi por orientação sua que o PSDB invadiu a sede do Instituto Sensus acompanhado da polícia e de um repórter da Folha. Lá dentro, um estatístico procedeu às investigações recebendo instruções técnicas por celular.
Bastaria esse episódio para marcar Paulino e a Folha pelo resto da vida.
Mas não se ficou nisso.
O desenrolar das pesquisas demonstrou dois problemas sérios com o Datafolha:
Primiero, a fragilidade técnica de suas pesquisas. Restou comprovado que o instituto falhou fragorosamente ao optar pela pesquisa em ponto de fluxo em uma eleição em que havia enorme assimetria de informação entre os eleitores.
Ao tentar justificar a metodologia, Paulino se enreda mais ainda. Defende como melhor técnica mostrar o retrato dos eleitores no momento e não projetar o resultado final da eleição.
Essa história de tirar o retrato da criança dia a dia não convence nem os leitores remanescentes da Folha. É o mesmo que um pai chegar para um médico e perguntar que tamanho seu filho terá aos 18 anos. O médico bom arriscará um palpite, baseado em diagnósticos. O médico despreparado responderá: “Hoje, aos 13 anos, seu filho tem 1,60″.
A tentativa de colar no Vox Populi a campanha do Fernando Collor é risível: em vez de criminalizar, na verdade cola um atestado de competência no rival. Afinal, Collor fez uma campanha vitoriosa.
As ilações seguintes expõem mais ainda a fragilidade da argumentação de Paulino.
Em pesquisas tornadas públicas pode-se optar por alguns desses métodos preditivos, típicos das pesquisas engajadas. É uma decisão excitante do ponto de vista jornalístico. Para que medir o presente se o futuro pode ser revelado? Fora o risco de não concretização, inerente a qualquer predição, os mais atentos podem se perguntar se o método seria aplicado, nas pesquisas feitas para divulgação, caso não favorecesse o candidato certo.
A troco de quê a TV Bandeirantes e o iG contratariam publicamente pesquisas que poderiam não ser divulgadas? Ao pretender transferir as suspeitas que pesam contra si, Paulino coloca no mesmo balaio o instituto adversário e seus contratantes.
O “se” é um argumento propício a quem não tem argumentos para se contrapor aos dados reais.
Tem-se duas pesquisas: uma (da Vox) que mostrava Dilma na frente; outra (do Datafolha) que mostrava Serra na frente. As diferenças superavam a margem de erro. Como descobrir qual era a pesquisa manipulada? Bastaria aguardar a marcha dos acontecimentos e saber qual estava certa e qual estava errada. A errada era a do Datafolha, óbvio.
E aí se entra no segundo ponto – bem mais delicado – do caso Datafolha: o inexplicável salto de 10 pontos de Serra às vésperas da sua indicação como candidato à presidência.
Diferenças entre dois institutos podem ser explicadas por razões metodológicas. Quando, no momento mais crucial da campanha, uma determinada pesquisa de um instituto destoa das demais pesquisas do mesmo instituto, tem gato na tuba.
Enquanto não houver uma explicação satisfatória para a infausta pesquisa de 28 de março – por satisfatória, entenda-se, até admitindo erros técnicos – pesará eternamente sobre o Datafolha e a Folha a suspeita de manipulação.
Da Folha
MAURO PAULINO
De Collor a Dilma
Pesquisas feitas para Dilma buscam, como as de Collor, prever comportamentos
PESQUISAS DE opinião foram decisivas na eleição de Collor. Para a criação do caçador de marajás utilizaram-se, pela primeira vez, pesquisas engajadas para moldar uma candidatura à Presidência, no Brasil. Foi também a primeira eleição em que a mídia contratou pesquisas com abrangência nacional para acompanhar as reações dos eleitores.
São pesquisas de naturezas diferentes, com métodos e objetivos diversos. Umas ajudam a fazer a história e outras colaboram para contá-la. Ambas assumem papéis relevantes e legítimos e, se feitas por uma mesma empresa, há de haver cuidado para que o engajamento não contamine análises e resultados tornados públicos.
A partir da interpretação dos resultados de uma pesquisa nacional, Collor concluiu que o “imaginário popular” abrigaria a sua personagem. As inserções na TV, exibidas entre março e maio de 1989, elaboradas no tom exato definido pelos pesquisadores, fizeram-no disparar de 17% para 42%, como apuraram pesquisas públicas do Datafolha. Considerando o eleitorado atual, equivaleria a 1 milhão de brasileiros convertidos a cada dia. Ou 15 Mineirões lotados por dia.
Diversos pleitos apresentaram movimentos parecidos. Deve ser estimulante para pesquisadores engajados acompanhar os efeitos imediatos de suas ações, medindo-os em milhões. Neste ano, com o desejo de continuidade, a cada exposição de Dilma na TV tantos milhões foram informados de sua ligação com Lula e novos patamares de intenção de voto foram sendo atingidos a cada aparição em massa da dupla.
As pesquisas feitas hoje para Dilma são semelhantes às da campanha de Collor. Por meio de técnicas específicas buscam a predição de comportamentos. Basicamente, fornecem apenas aos entrevistados de sua amostra informações que chegarão mais adiante a grande parte dos eleitores. Testam assim eficácia de estratégias e potencial de crescimento de seu contratante.
Em pesquisas tornadas públicas pode-se optar por alguns desses métodos preditivos, típicos das pesquisas engajadas. É uma decisão excitante do ponto de vista jornalístico. Para que medir o presente se o futuro pode ser revelado? Fora o risco de não concretização, inerente a qualquer predição, os mais atentos podem se perguntar se o método seria aplicado, nas pesquisas feitas para divulgação, caso não favorecesse o candidato certo.
Ao informar apenas aos entrevistados, antes da declaração do voto, que, por exemplo, Dilma é do PT, ou Dilma é do Lula, uma pesquisa pode mesmo antecipar o que vai ocorrer depois que muitos souberem disto. Mas, para que isso se concretize em intenção de voto, as informações devem chegar para muitos, da mesma forma que chegou aos entrevistados. Por isso, o Datafolha não dá essas informações aos seus entrevistados.
Dilma e Serra chegaram empatados no início de julho. Em meados de agosto, após o início da cobertura intensiva das eleições pelos telejornais, Dilma abriu vantagem de oito pontos. Após o início da campanha, ela cresceu mais seis pontos, e continua em ascensão. É um movimento até que brando, se comparado ao de 1989.
Na Folha, cada um desses movimentos foi explicado tecnicamente, a partir de fotografias de cada momento desta eleição. O que explicaria a vantagem de Dilma sobre Serra já no início de junho? Misturar pesquisas preditivas com outras, em médias e projeções acadêmicas, quando se conta com poucos institutos, pode comprometer o registro histórico da eleição. Melhor optar por umas ou por outras.
Há quem proponha uma guerra de pesquisas. Melhor não contarem com o Datafolha. Certa vez, o evolucionista Richard Dawkins, convidado a debater com criacionista, afirmou: “Não vou provê-los com o oxigênio da credibilidade”.
MAURO PAULINO é diretor-geral do Datafolha
*Matéria originalmente publicada no site do Luis Nassif
Por Luis Nassif*
É uma tarefa inglória. Primeiro, pelos antecedentes. Quando a pesquisa Datafolha começou a desgarrar inexplicavelmente do histórico das demais pesquisas (inclusive as suas próprias), Paulino foi um dos principais estimuladores dos atos de represália contra os concorrentes. Foi por orientação sua que o PSDB invadiu a sede do Instituto Sensus acompanhado da polícia e de um repórter da Folha. Lá dentro, um estatístico procedeu às investigações recebendo instruções técnicas por celular.
Bastaria esse episódio para marcar Paulino e a Folha pelo resto da vida.
Mas não se ficou nisso.
O desenrolar das pesquisas demonstrou dois problemas sérios com o Datafolha:
Primiero, a fragilidade técnica de suas pesquisas. Restou comprovado que o instituto falhou fragorosamente ao optar pela pesquisa em ponto de fluxo em uma eleição em que havia enorme assimetria de informação entre os eleitores.
Ao tentar justificar a metodologia, Paulino se enreda mais ainda. Defende como melhor técnica mostrar o retrato dos eleitores no momento e não projetar o resultado final da eleição.
Essa história de tirar o retrato da criança dia a dia não convence nem os leitores remanescentes da Folha. É o mesmo que um pai chegar para um médico e perguntar que tamanho seu filho terá aos 18 anos. O médico bom arriscará um palpite, baseado em diagnósticos. O médico despreparado responderá: “Hoje, aos 13 anos, seu filho tem 1,60″.
A tentativa de colar no Vox Populi a campanha do Fernando Collor é risível: em vez de criminalizar, na verdade cola um atestado de competência no rival. Afinal, Collor fez uma campanha vitoriosa.
As ilações seguintes expõem mais ainda a fragilidade da argumentação de Paulino.
Em pesquisas tornadas públicas pode-se optar por alguns desses métodos preditivos, típicos das pesquisas engajadas. É uma decisão excitante do ponto de vista jornalístico. Para que medir o presente se o futuro pode ser revelado? Fora o risco de não concretização, inerente a qualquer predição, os mais atentos podem se perguntar se o método seria aplicado, nas pesquisas feitas para divulgação, caso não favorecesse o candidato certo.
A troco de quê a TV Bandeirantes e o iG contratariam publicamente pesquisas que poderiam não ser divulgadas? Ao pretender transferir as suspeitas que pesam contra si, Paulino coloca no mesmo balaio o instituto adversário e seus contratantes.
O “se” é um argumento propício a quem não tem argumentos para se contrapor aos dados reais.
Tem-se duas pesquisas: uma (da Vox) que mostrava Dilma na frente; outra (do Datafolha) que mostrava Serra na frente. As diferenças superavam a margem de erro. Como descobrir qual era a pesquisa manipulada? Bastaria aguardar a marcha dos acontecimentos e saber qual estava certa e qual estava errada. A errada era a do Datafolha, óbvio.
E aí se entra no segundo ponto – bem mais delicado – do caso Datafolha: o inexplicável salto de 10 pontos de Serra às vésperas da sua indicação como candidato à presidência.
Diferenças entre dois institutos podem ser explicadas por razões metodológicas. Quando, no momento mais crucial da campanha, uma determinada pesquisa de um instituto destoa das demais pesquisas do mesmo instituto, tem gato na tuba.
Enquanto não houver uma explicação satisfatória para a infausta pesquisa de 28 de março – por satisfatória, entenda-se, até admitindo erros técnicos – pesará eternamente sobre o Datafolha e a Folha a suspeita de manipulação.
Da Folha
MAURO PAULINO
De Collor a Dilma
Pesquisas feitas para Dilma buscam, como as de Collor, prever comportamentos
PESQUISAS DE opinião foram decisivas na eleição de Collor. Para a criação do caçador de marajás utilizaram-se, pela primeira vez, pesquisas engajadas para moldar uma candidatura à Presidência, no Brasil. Foi também a primeira eleição em que a mídia contratou pesquisas com abrangência nacional para acompanhar as reações dos eleitores.
São pesquisas de naturezas diferentes, com métodos e objetivos diversos. Umas ajudam a fazer a história e outras colaboram para contá-la. Ambas assumem papéis relevantes e legítimos e, se feitas por uma mesma empresa, há de haver cuidado para que o engajamento não contamine análises e resultados tornados públicos.
A partir da interpretação dos resultados de uma pesquisa nacional, Collor concluiu que o “imaginário popular” abrigaria a sua personagem. As inserções na TV, exibidas entre março e maio de 1989, elaboradas no tom exato definido pelos pesquisadores, fizeram-no disparar de 17% para 42%, como apuraram pesquisas públicas do Datafolha. Considerando o eleitorado atual, equivaleria a 1 milhão de brasileiros convertidos a cada dia. Ou 15 Mineirões lotados por dia.
Diversos pleitos apresentaram movimentos parecidos. Deve ser estimulante para pesquisadores engajados acompanhar os efeitos imediatos de suas ações, medindo-os em milhões. Neste ano, com o desejo de continuidade, a cada exposição de Dilma na TV tantos milhões foram informados de sua ligação com Lula e novos patamares de intenção de voto foram sendo atingidos a cada aparição em massa da dupla.
As pesquisas feitas hoje para Dilma são semelhantes às da campanha de Collor. Por meio de técnicas específicas buscam a predição de comportamentos. Basicamente, fornecem apenas aos entrevistados de sua amostra informações que chegarão mais adiante a grande parte dos eleitores. Testam assim eficácia de estratégias e potencial de crescimento de seu contratante.
Em pesquisas tornadas públicas pode-se optar por alguns desses métodos preditivos, típicos das pesquisas engajadas. É uma decisão excitante do ponto de vista jornalístico. Para que medir o presente se o futuro pode ser revelado? Fora o risco de não concretização, inerente a qualquer predição, os mais atentos podem se perguntar se o método seria aplicado, nas pesquisas feitas para divulgação, caso não favorecesse o candidato certo.
Ao informar apenas aos entrevistados, antes da declaração do voto, que, por exemplo, Dilma é do PT, ou Dilma é do Lula, uma pesquisa pode mesmo antecipar o que vai ocorrer depois que muitos souberem disto. Mas, para que isso se concretize em intenção de voto, as informações devem chegar para muitos, da mesma forma que chegou aos entrevistados. Por isso, o Datafolha não dá essas informações aos seus entrevistados.
Dilma e Serra chegaram empatados no início de julho. Em meados de agosto, após o início da cobertura intensiva das eleições pelos telejornais, Dilma abriu vantagem de oito pontos. Após o início da campanha, ela cresceu mais seis pontos, e continua em ascensão. É um movimento até que brando, se comparado ao de 1989.
Na Folha, cada um desses movimentos foi explicado tecnicamente, a partir de fotografias de cada momento desta eleição. O que explicaria a vantagem de Dilma sobre Serra já no início de junho? Misturar pesquisas preditivas com outras, em médias e projeções acadêmicas, quando se conta com poucos institutos, pode comprometer o registro histórico da eleição. Melhor optar por umas ou por outras.
Há quem proponha uma guerra de pesquisas. Melhor não contarem com o Datafolha. Certa vez, o evolucionista Richard Dawkins, convidado a debater com criacionista, afirmou: “Não vou provê-los com o oxigênio da credibilidade”.
MAURO PAULINO é diretor-geral do Datafolha
*Matéria originalmente publicada no site do Luis Nassif
Comentário do Terror
Esse Mauro Paulino é um baita picareta.O cara frauda, manipula, rouba pesquisa para favorecer Serra e ainda critica os concorrentes.Estúpido!
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