O Estado de S. Paulo - 24/02/2011
A decisão de uma nova fábrica de automóveis da Fiat funcionar no Porto de Suape, em Pernambuco, representa mais do que um investimento de R$ 3 bilhões e 3.200 empregos diretos com seus efeitos multiplicadores sobre a economia regional. A medida recoloca em destaque a questão dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento no Brasil.
A distribuição espacial das atividades econômicas, nos dois grandes ciclos de expansão da economia brasileira no pós 2.ª Guerra Mundial, permite definir uma periodização que mostra três diferentes momentos. O período de concentração econômica espacial, que ocorre de 1950 a 1975; o de desconcentração econômica espacial, que vai da segunda metade dos anos 1970 até a primeira metade dos anos 1980; e, finalmente, o que se inicia em 1990, de relativo equilíbrio na participação das economias regionais no PIB, indicando o esgotamento de um processo de desconcentração mais significativo. Na primeira década do século 21, a economia do Nordeste ainda persiste numa participação em torno de 13% do PIB brasileiro, embora represente quase 30% do total da nossa população em 2010.
Assim, apesar do esforço do governo federal para alavancar a economia do Nordeste, o seu PIB per capita ainda é inferior à metade do PIB per capita do País em 2008. Da mesma forma, o Índice de Desenvolvimento Humano do Nordeste mostra que, embora seja a região com maior número de municípios (1.793), possui apenas 0,3% entre os 500 maiores valores do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal de 2007. Esse índice é uma média ponderada de três dimensões socioeconômicas: emprego e renda, saúde e educação.
Creio que um novo ciclo de expansão econômica do Nordeste, quando a região poderá crescer recorrentemente acima da média nacional ao longo de duas ou três décadas, irá se configurar quando houver o adensamento das cadeias de valor das suas atividades tradicionais (produção de grãos e de carnes, turismo, extrativa mineral, etc.) ou quando houver uma diversificação e uma diferenciação da estrutura produtiva regional com a atração de atividades intensivas de tecnologias, particularmente nos segmentos de bens duráveis de consumo e de bens de capital.
O projeto da Fiat em Pernambuco pode representar, portanto, um grande investimento, capaz de estimular a expansão da oferta de fatores locacionais não tradicionais e a formação de economias de aglomeração, trazendo benefícios para o Nordeste por meio dos poderosos efeitos de dispersão para a frente e para trás na cadeia produtiva da indústria automobilística. Entre esses efeitos, Michael Porter destaca uma reestruturação da economia regional que leve à presença de trabalhadores qualificados em permanente processo de renovação de conhecimentos; a um núcleo de consumidores com nível de exigências e de preferências à frente das necessidades de consumidores de outras localidades; a uma massa crítica de fornecedores locais de componentes e de serviços terciários e quaternários que contribuam significativamente para a melhoria da qualidade dos produtos e da eficiência dos processos de produção.
Se houver dúvida de que tudo isto possa vir a acontecer, é bom lembrar que, quando a Fiat se instalou em Betim, em 1976, Minas Gerais ainda não dispunha suficientemente de mão de obra especializada, indústrias de autopeças, logística adequada de exportação, etc. Como se sabe, esses fatores locacionais são do tipo man-made, podendo ser reproduzidos, desde que priorizados num sistema de planejamento. Entretanto, hoje, esta montadora, apenas um sonho de Minas há 35 anos, se transformou na maior indústria automobilística do Brasil e numa das maiores do mundo. Que se espera também possa a vir a contribuir para atenuar os desequilíbrios regionais de desenvolvimento do Brasil, tornando esse desenvolvimento mais descentralizado e mais democrático.
Lembre-se de que uma das lições do budismo nos ensina que não há nada mais democrático do que o sol, pois, quando se levanta, ilumina igualmente todas as regiões.
A decisão de uma nova fábrica de automóveis da Fiat funcionar no Porto de Suape, em Pernambuco, representa mais do que um investimento de R$ 3 bilhões e 3.200 empregos diretos com seus efeitos multiplicadores sobre a economia regional. A medida recoloca em destaque a questão dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento no Brasil.
A distribuição espacial das atividades econômicas, nos dois grandes ciclos de expansão da economia brasileira no pós 2.ª Guerra Mundial, permite definir uma periodização que mostra três diferentes momentos. O período de concentração econômica espacial, que ocorre de 1950 a 1975; o de desconcentração econômica espacial, que vai da segunda metade dos anos 1970 até a primeira metade dos anos 1980; e, finalmente, o que se inicia em 1990, de relativo equilíbrio na participação das economias regionais no PIB, indicando o esgotamento de um processo de desconcentração mais significativo. Na primeira década do século 21, a economia do Nordeste ainda persiste numa participação em torno de 13% do PIB brasileiro, embora represente quase 30% do total da nossa população em 2010.
Assim, apesar do esforço do governo federal para alavancar a economia do Nordeste, o seu PIB per capita ainda é inferior à metade do PIB per capita do País em 2008. Da mesma forma, o Índice de Desenvolvimento Humano do Nordeste mostra que, embora seja a região com maior número de municípios (1.793), possui apenas 0,3% entre os 500 maiores valores do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal de 2007. Esse índice é uma média ponderada de três dimensões socioeconômicas: emprego e renda, saúde e educação.
Creio que um novo ciclo de expansão econômica do Nordeste, quando a região poderá crescer recorrentemente acima da média nacional ao longo de duas ou três décadas, irá se configurar quando houver o adensamento das cadeias de valor das suas atividades tradicionais (produção de grãos e de carnes, turismo, extrativa mineral, etc.) ou quando houver uma diversificação e uma diferenciação da estrutura produtiva regional com a atração de atividades intensivas de tecnologias, particularmente nos segmentos de bens duráveis de consumo e de bens de capital.
O projeto da Fiat em Pernambuco pode representar, portanto, um grande investimento, capaz de estimular a expansão da oferta de fatores locacionais não tradicionais e a formação de economias de aglomeração, trazendo benefícios para o Nordeste por meio dos poderosos efeitos de dispersão para a frente e para trás na cadeia produtiva da indústria automobilística. Entre esses efeitos, Michael Porter destaca uma reestruturação da economia regional que leve à presença de trabalhadores qualificados em permanente processo de renovação de conhecimentos; a um núcleo de consumidores com nível de exigências e de preferências à frente das necessidades de consumidores de outras localidades; a uma massa crítica de fornecedores locais de componentes e de serviços terciários e quaternários que contribuam significativamente para a melhoria da qualidade dos produtos e da eficiência dos processos de produção.
Se houver dúvida de que tudo isto possa vir a acontecer, é bom lembrar que, quando a Fiat se instalou em Betim, em 1976, Minas Gerais ainda não dispunha suficientemente de mão de obra especializada, indústrias de autopeças, logística adequada de exportação, etc. Como se sabe, esses fatores locacionais são do tipo man-made, podendo ser reproduzidos, desde que priorizados num sistema de planejamento. Entretanto, hoje, esta montadora, apenas um sonho de Minas há 35 anos, se transformou na maior indústria automobilística do Brasil e numa das maiores do mundo. Que se espera também possa a vir a contribuir para atenuar os desequilíbrios regionais de desenvolvimento do Brasil, tornando esse desenvolvimento mais descentralizado e mais democrático.
Lembre-se de que uma das lições do budismo nos ensina que não há nada mais democrático do que o sol, pois, quando se levanta, ilumina igualmente todas as regiões.
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