terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Quase todos contra Zé Bolinha de Papel


Oposição e PT reage a Serra



O Globo - 22/02/2011

BRASÍLIA. Os governistas reagiram ontem com ironia à entrevista do ex-governador paulista José Serra ao GLOBO, na qual o tucano acusa a presidente Dilma Rousseff de marchar para "um estelionato eleitoral". Em seu Twitter, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, disparou logo cedo: "O fracasso lhe subiu à cabeça". Mas, embora alguns tucanos tenham reprovado reservadamente o tom de Serra, o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), concordou com a subida do tom do discurso do companheiro contra o governo.

- O governo Dilma comete sim um estelionato eleitoral. Pois durante a campanha, o que ouvimos dela foi que o Brasil era o paraíso das facilidades. Com a manipulação de números, mistificação e mentiras, a ficção venceu a verdade. E eis que a realidade surge agora nas decisões tomadas pela presidente da República - reforçou Dias.

Intenção seria candidatura em 2014

Nos bastidores, porém, a postura assumida por Serra teria incomodado não só uma parte dos tucanos, como também representantes do DEM. Há quem tenha percebido nas entrelinhas da entrevista do ex-governador muito mais que uma simples sinalização de que ele pretende se manter na vida pública. A impressão de alguns deles é que Serra não só trabalha para viabilizar uma nova candidatura à Presidência em 2014, como para impedir a possibilidade de o senador Aécio Neves (PSDB-MG) entrar na disputa.

- Ouvi na semana passada de um deputado tucano que a ausência de Serra do cenário nacional ajuda a arejar o partido e diminui o clima de tensão e medo que prevaleceu nos últimos anos em razão de sua influência no comando do PSDB - confidenciou um líder da oposição, preferindo não ser identificado.

Já o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) disse que assinaria embaixo de tudo que foi dito por Serra na entrevista:

- Concordo com tudo. Há um contraste entre o que dizia a candidata Dilma e o comportamento da presidente. Quem não se lembra quando ela disse: "Onde já se viu falar em ajuste fiscal?".

O senador paulista concordou com a avaliação de que o PSDB não deve antecipar o debate eleitoral de 2014, mas precisa investir antes na sua unidade.

Entre os petistas, a agressividade de Serra contra Dilma foi tratada com ironia. Para o presidente nacional do PT, a entrevista de Serra mostra rancor e está descolada da realidade.

- O discurso dele não encontra eco nem no PSDB. Por isso ele está que nem siri na lata - criticou Dutra.

Para o senador Lindberg Farias (PT-RJ), Serra parece ainda não ter descido do palanque eleitoral:

- Como falar em estelionato eleitoral menos de dois meses (depois) do início do governo Dilma? Quem entende bem de estelionato é o Serra, que assinou um documento em cartório prometendo cumprir seu segundo mandato de prefeito até o final e saiu no meio do mandato.

Na avaliação do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), Serra precisa abandonar a ideia de que ainda disputa a eleição presidencial, pois não haverá terceiro turno:

- Minha impressão é que Serra está falando sozinho. Ele precisa ter cuidado para não se desqualificar, pois sua fala pesada e agressiva não influencia nem a oposição. Acho que ele está sem eixo. Sua entrevista é quase um grito mudo.

Na opinião do líder do DEM na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), Serra faz cobranças corretas em relação ao governo Dilma.

- A entrevista guarda coerência com o que Serra vinha dizendo durante a campanha eleitoral. Ele faz cobranças corretas em relação a Dilma e continua sendo um importante líder da oposição no país - afirmou.

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