Minha gente, nada como uma eleição após a outra para vermos o que o mundo nos traz. Agora, por exemplo, ele nos trouxe a visão divertidíssima de partidos como o PSDB e DEM mostrando todo seu comprometimento com o social.
A pergunta que se impõe é: e onde eles estavam quando isso era necessário de verdade, e não em uma votação de mentirinha, em um assunto que afeta a vida de milhões, e que deveria ser melhor resolvido por quem realmente se importa com ele?
Me parece que o exemplo do partido Republicano dos Estados Unidos contaminou nossos nobres democratas e tucanatas. No filme “Os Suspeitos”, o personagem de Kevin Spacey, Verbal Kint, diz que o maior sucesso do diabo foi o de convencer o mundo de que ele não existe. O maior sucesso na política sempre é o daqueles representantes do andar de cimíssima, que conseguem convencer a galera de que eles são, na verdade, os seus mais definitivos protetores. Ontem, os nobres representantes do grande capital e do arcaico nacional posaram exatamente para essa foto.
O problema, estimados leitores, é que ela não convence, mesmo. E isso só pode demonstrar a confusão reinante no reino da Dinamarca da oposição à brasileira que se apresenta hoje diante dos nossos olhos. Uma oposição desconfortável com o papel, sem saber para onde ir, sem ter muito para onde ir, desde que o PT ocupou tão definitivamente o espaço ao centro e à esquerda da realidade política brasileira, primeiro no discurso e embalagem, para depois confirmar isso na prática.
O erro estratégico foi o do primeiro governo Fernando Henrique, quando, diante de escolhas previsíveis, o PSDB, por cálculo equivocado ou convicção mesmo, se aliou ao PFL formando o blocão de centro-direita que eles acreditavam ser o monolito do futuro. Ali, o timão deles cedeu o campo estratégico dos espaços da centro-esquerda para o PT, e então, estimados sulvinteumeneses, qual Real Madrid deixando o Barcelona mandar no meio-campo, babaus.
Porque é nesse cenário que o presente e o futuro do Brasil, e da América do Sul, passam a acontecer, estimados leitores, e nossa possível prosperidade com distribuição de renda e espaços começa e se afirma. A centro-direita aposta sempre num eleitorado conservador como bloco, e na periferia como balaio de votos, para seguir em frente e com os negócios. Isso funcionou em São Paulo, mas o Brasil, e isso o PSDB não tem como saber, não é São Paulo. E o nordeste, como o PFL tanto descobriu que virou esse ridículo DEM, estava se mandando para o outro lado, qual Egito hoje.
Noves fora, caros leitores, os demos e tucanos tiveram seus oito anos de poder, deixaram de positivo mudanças estruturais necessárias, conduzidas no modo tucano de conduzir, gerenciadas pelo modo tucano-demo de gerenciar, e deixaram o terreno preparado para as mudanças reais, que viriam logo na sequência, conduzidas pelo nosso grande timoneiro de Garanhuns. E agora, estimados leitores, percebem, com alguma surpresa e muito alarme, que não possuem os motivos ou as ferramentas para se trazerem de volta ao centro, porque o centro, na verdade, fica à esquerda, e longe de onde eles se colocaram para todo o sempre.
Portanto, votam um mínimo de 600, como poderiam votar o mínimo de 700 do PSOL, o que talvez fizesse mais sentido estratégico, embora ficasse esquisito pra caramba, sem que nem mesmo a imprensa deles os apóie, porque ela pode ser várias coisas, mas não é maluca. Por isso ficam em silêncio constrangido enquanto a Dilma arrasa no começo do jogo e marcando por pressão, enquanto eles ensaiam contra-ataques constrangidos e olham pro relógio, loucos por um bom vestiário, onde, para tristeza deles, nenhum treinador com qualquer noção do que fazer os espera.
Ontem, caros leitores, a sem-noçãozice era tamanha que algum sindicato com um senso de humor mórbido aplaudiu o Ronaldo Caiado enquanto vaiava o Vicentinho. O mundo, estimados sulvinteumeneses, gosta de cenas surreais.
Salário-mínimo é uma coisa estranha, mas que reflete uma realidade. Enquanto o senador Suplicy fala que as pessoas têm certos direitos a uma renda, gente mais comprometida com a realidade fica pensando que somos muito milhões, e precisamos construir o que dividir, sem uma fórmula universalmente aceita de como fazê-lo. No entanto, se aprendizado conta, nos últimos anos fizemos isso. Criamos renda, e a dividimos,e também aprendemos que dividir é crescer, e quem não acreditar, por favor dê um pulinho até o aeroporto de Guarulhos. Em falta de projeto melhor, acho que devemos seguir com esse, e ele nos impõe realidade e limites, para que possamos melhorar uma, expandir os outros.
Acho que os tucanos e democratas, curiosamente, enquanto todo mundo passou a voar, ficaram de fora dessas mudanças. Que sigam votando aqui e ali, fazendo ruídos inofensivos, e, infelizmente, alguns ofensivos, enquanto a gente vai lá e cria um Brasil de verdade.
* Marcelo Carneiro da Cunha, jornalista e escritor de Antes que o Mundo Acabe, Insônia, Simples e Depois do Sexo, entre outros. Adaptações para o cinema resultaram no curta O Branco, premiado em Berlim, e Antes que o Mundo Acabe, escolhido pela Associação Paulista de Críticos de Artes, como o melhor filme brasileiro de 2010, entre outras premiações. Foi escritor-residente da Ledig House, em Nova York, e autor convidado da Fundação Japão. Leciona criação ficcional na Academia Internacional de Cinema, de São Paulo. Produziu os livros Um Astronauta no Chipre, de Jorge Furtado, e Na Contra-mão da Pré-História, de Tarso Genro. Colunista do Terra Magazine, e Sul 21, publica pelas editoras Projeto, e Record. Porto-alegrense e torcedor do Grêmio, começa a simpatizar com o Corinthians. Vive em São Paulo.
A pergunta que se impõe é: e onde eles estavam quando isso era necessário de verdade, e não em uma votação de mentirinha, em um assunto que afeta a vida de milhões, e que deveria ser melhor resolvido por quem realmente se importa com ele?
Me parece que o exemplo do partido Republicano dos Estados Unidos contaminou nossos nobres democratas e tucanatas. No filme “Os Suspeitos”, o personagem de Kevin Spacey, Verbal Kint, diz que o maior sucesso do diabo foi o de convencer o mundo de que ele não existe. O maior sucesso na política sempre é o daqueles representantes do andar de cimíssima, que conseguem convencer a galera de que eles são, na verdade, os seus mais definitivos protetores. Ontem, os nobres representantes do grande capital e do arcaico nacional posaram exatamente para essa foto.
O problema, estimados leitores, é que ela não convence, mesmo. E isso só pode demonstrar a confusão reinante no reino da Dinamarca da oposição à brasileira que se apresenta hoje diante dos nossos olhos. Uma oposição desconfortável com o papel, sem saber para onde ir, sem ter muito para onde ir, desde que o PT ocupou tão definitivamente o espaço ao centro e à esquerda da realidade política brasileira, primeiro no discurso e embalagem, para depois confirmar isso na prática.
O erro estratégico foi o do primeiro governo Fernando Henrique, quando, diante de escolhas previsíveis, o PSDB, por cálculo equivocado ou convicção mesmo, se aliou ao PFL formando o blocão de centro-direita que eles acreditavam ser o monolito do futuro. Ali, o timão deles cedeu o campo estratégico dos espaços da centro-esquerda para o PT, e então, estimados sulvinteumeneses, qual Real Madrid deixando o Barcelona mandar no meio-campo, babaus.
Porque é nesse cenário que o presente e o futuro do Brasil, e da América do Sul, passam a acontecer, estimados leitores, e nossa possível prosperidade com distribuição de renda e espaços começa e se afirma. A centro-direita aposta sempre num eleitorado conservador como bloco, e na periferia como balaio de votos, para seguir em frente e com os negócios. Isso funcionou em São Paulo, mas o Brasil, e isso o PSDB não tem como saber, não é São Paulo. E o nordeste, como o PFL tanto descobriu que virou esse ridículo DEM, estava se mandando para o outro lado, qual Egito hoje.
Noves fora, caros leitores, os demos e tucanos tiveram seus oito anos de poder, deixaram de positivo mudanças estruturais necessárias, conduzidas no modo tucano de conduzir, gerenciadas pelo modo tucano-demo de gerenciar, e deixaram o terreno preparado para as mudanças reais, que viriam logo na sequência, conduzidas pelo nosso grande timoneiro de Garanhuns. E agora, estimados leitores, percebem, com alguma surpresa e muito alarme, que não possuem os motivos ou as ferramentas para se trazerem de volta ao centro, porque o centro, na verdade, fica à esquerda, e longe de onde eles se colocaram para todo o sempre.
Portanto, votam um mínimo de 600, como poderiam votar o mínimo de 700 do PSOL, o que talvez fizesse mais sentido estratégico, embora ficasse esquisito pra caramba, sem que nem mesmo a imprensa deles os apóie, porque ela pode ser várias coisas, mas não é maluca. Por isso ficam em silêncio constrangido enquanto a Dilma arrasa no começo do jogo e marcando por pressão, enquanto eles ensaiam contra-ataques constrangidos e olham pro relógio, loucos por um bom vestiário, onde, para tristeza deles, nenhum treinador com qualquer noção do que fazer os espera.
Ontem, caros leitores, a sem-noçãozice era tamanha que algum sindicato com um senso de humor mórbido aplaudiu o Ronaldo Caiado enquanto vaiava o Vicentinho. O mundo, estimados sulvinteumeneses, gosta de cenas surreais.
Salário-mínimo é uma coisa estranha, mas que reflete uma realidade. Enquanto o senador Suplicy fala que as pessoas têm certos direitos a uma renda, gente mais comprometida com a realidade fica pensando que somos muito milhões, e precisamos construir o que dividir, sem uma fórmula universalmente aceita de como fazê-lo. No entanto, se aprendizado conta, nos últimos anos fizemos isso. Criamos renda, e a dividimos,e também aprendemos que dividir é crescer, e quem não acreditar, por favor dê um pulinho até o aeroporto de Guarulhos. Em falta de projeto melhor, acho que devemos seguir com esse, e ele nos impõe realidade e limites, para que possamos melhorar uma, expandir os outros.
Acho que os tucanos e democratas, curiosamente, enquanto todo mundo passou a voar, ficaram de fora dessas mudanças. Que sigam votando aqui e ali, fazendo ruídos inofensivos, e, infelizmente, alguns ofensivos, enquanto a gente vai lá e cria um Brasil de verdade.
* Marcelo Carneiro da Cunha, jornalista e escritor de Antes que o Mundo Acabe, Insônia, Simples e Depois do Sexo, entre outros. Adaptações para o cinema resultaram no curta O Branco, premiado em Berlim, e Antes que o Mundo Acabe, escolhido pela Associação Paulista de Críticos de Artes, como o melhor filme brasileiro de 2010, entre outras premiações. Foi escritor-residente da Ledig House, em Nova York, e autor convidado da Fundação Japão. Leciona criação ficcional na Academia Internacional de Cinema, de São Paulo. Produziu os livros Um Astronauta no Chipre, de Jorge Furtado, e Na Contra-mão da Pré-História, de Tarso Genro. Colunista do Terra Magazine, e Sul 21, publica pelas editoras Projeto, e Record. Porto-alegrense e torcedor do Grêmio, começa a simpatizar com o Corinthians. Vive em São Paulo.
Fonte:G21
Um comentário:
Que Deus nos livre pra sempre dessa PRAGA!!! Amém!!!
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