sábado, 9 de abril de 2011

Dilma chega aos 100 dias com aprovação em alta


Dilma é aprovada até pela oposição - Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Felipe Prestes
Medidas para controlar a economia têm marcado os primeiros 100 dias de governo Dilma: cortes no orçamento, aumento da taxa Selic e rigidez na negociação com as centrais sindicais. Apesar disto, a presidenta completa este período com maior aprovação do que tiveram FHC e Lula com mesmo tempo de governo. Seu estilo discreto tem agradado a grande imprensa e, até, a oposição — aliás, uma oposição que tem se desmantelado, o que também explica os bons ventos para Dilma. A presidenta tem conseguido ainda superar com a firmeza que lhe é característica os conflitos dentro do governo e com os movimentos sindicais, apesar de não ter o carisma de Lula.
“O problema dela é mais econômico que político; é a inflação. Dilma está tendo que ter uma gestão muito técnica, muito cuidadosa”, aponta o sociólogo Rudá Ricci. Ele afirma que as medidas que o governo Dilma tem tomado na política econômica são corretas, mas poderiam ser politicamente desastrosas, como o corte de emendas parlamentares e o anúncio de que poderá cortar em obras de prefeituras. “Embora racionalmente correta, é uma agenda politicamente desastrosa. Apesar disto, sua popularidade é grande”.

 
Para Rudá, isto decorre da hegemonia que o bloco governista já conta no país, com uma oposição que sofre cada dia maiores revezes. “Não tem mais oposição no Brasil. O PSDB está em crise. O DEM está com os dias contados. Quem iria imaginar que a Kátia Abreu iria virar base governista?”. Além disto, o sociólogo diz que Dilma conseguiu manejar bem a distribuição de cargos entre os aliados, feita até para acalmar as centrais sindicais. “Negociou com as centrais sindicais assentos em conselhos de estatais. E isso não é pouco. O salário de algumas estatais é de R$ 12 mil por mês”, diz.
O presidente da CUT-RS, Celso Woyciechowski, afirma que a presidenta assumiu de maneira bem mais tranquila do que o presidente Lula em seus primeiros momentos na presidência. “Dilma assumiu com maioria no Congresso, com bases mais sólidas. Isso dá estabilidade para colocar em prática seu projeto político”, diz. O senador Paulo Paim (PT-RS) lembra que a articulação liderada por Lula para que o governo de sua sucessora obtivesse maioria também no Senado traz tranquilidade agora. “O governo construiu maioria muito sólida no Congresso. Nesta parte houve melhoramentos em relação ao governo anterior, fruto de uma articulação de Lula e Dilma. Durante a campanha, Lula alertava que era preciso ter maioria também no Senado, não apenas na Câmara”.
 
 
Mudança de estilo e na economia
 
 
Rudá Ricci aponta que o estilo de Dilma tem agradado setores bastante hostis a Lula. “A grande imprensa está muito feliz com ela por sua racionalidade e discrição e até mesmo parte da oposição a Lula (está feliz)”. O próprio líder da oposição na Câmara, deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), reconhece que este estilo tem agradado. “Entendemos que ela tem um estilo diferente do antecessor, o que faz com que tenha obtido alguma simpatia adicional”.
“Dilma é uma liderança racional. É discreta, é técnica, não convoca a população”, diz Rudá Ricci. Este caráter “técnico” da administração tem se revelado especialmente na área econômica. “Dilma está tendo que ter uma gestão muito técnica, muito cuidadosa. É como um jogo de xadrez: qualquer peça fora de lugar pode ser um problema”. O deputado Paulo Abi-Ackel concorda com as diferenças na política econômica e critica o governo Lula: “Ela tem preocupação maior com a economia do que o antecessor em razão da dificuldade econômica, motivada pelos excessos do ano passado”.
Para Rudá Ricci, a presidenta também se impõe pela rigidez. “Ela é muito enérgica, muito exigente. Metade do ministério tem medo dela”. Celso Woyciechowski é outro que vê mudanças na condução política. “Percebe-se uma mudança na forma de conduzir a política. O presidente Lula conduzia mais na composição do diálogo, na construção política. A presidenta Dilma tem mostrado uma condução bastante técnica, sem usar a popularidade, o carisma”, diz. O sindicalista acha que a presidenta poderia ter conduzido melhor a negociação com as centrais para o reajuste do salário mínimo, apesar de ressaltar que a presidenta cumpriu com o acordo feito no governo Lula. “O presidente Lula foi muito mais hábil na negociação. A presidenta Dilma cumpriu o que as centrais sindicais negociaram em 2006, mas poderia ter avançado nesta pauta do mínimo”, diz.
Celso Woyciechowski espera que esta negativa em dar um reajuste maior seja uma questão conjuntural, que se deva aos percalços que o Brasil tem para manter a economia saudável. Acredita que estas tenham sido as mesmas razões para aumentar a taxa Selic. Ele afirma que a conduta do governo deve mudar. “Podem ser pontuais os problemas, desde que, no próximo período, se abra um diálogo mais forte com os trabalhadores. O salário mínimo nacional foi um cumprimento de acordo. A taxa de juros aumentou por um problema de conjuntura, de inflação. Mas, na nossa ótica, para conter a inflação, temos que aumentar a produção, não os juros”.

Senador Paulo Paim - Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
O senador Paim, ao contrário de Celso, crê que Dilma foi habilidosa na relação com as centrais, e lembra que Gilberto Carvalho, como no governo Lula, tem sido o braço-direito da presidenta nestas negociações. “(Dilma) foi habilidosa. O Gilberto também foi fundamental. Ele era um braço-direito do Lula e agora é braço-direito da Dilma. Ele foi um grande articulador nestas questões (com as centrais)”.
Paim também destaca a firmeza do governo na política econômica. “É um governo que tem marcado uma posição de muita firmeza e convicção na forma de administrar o país. Tem demonstrado firmeza na economia, fazendo uma série de movimentos ousados para combater a inflação que ameaça voltar”. O senador diz que a presidenta ficou bastante concentrada na gestão interna, de governo, nestes primeiros 100 dias. Ele acredita que, pouco a pouco, Dilma vai mais para a rua. “Nos primeiros 100 dias de governo ela ficou mais fazendo a gestão internamente, com pequenas incursões para fora, para cuidar da questão política da visibilidade. Acho que deve agora ocupar mais o cenário nacional e mesmo internacional”.

Oposição vê lentidão no governo
 
 

Deputado Abi-Ackel: "governo Dilma um discurso superficial" - Foto: Saulo Cruz/ Câmara Federal
Paulo Abi-Ackel vê no governo Dilma um discurso superficial. O líder da oposição na Câmara afirma que projetos para as áreas de educação, saúde e segurança pública foram promessas de campanha e que ainda não saíram do discurso. “Até agora ela não enviou os planos estratégicos para a saúde, educação e segurança pública, com os quais se comprometeu durante a campanha. Continuamos aguardando medidas efetivas que possam enfrentar esses problemas”, afirma. O parlamentar diz que no Congresso só foram tratadas MPs do governo anterior que trancam a pauta, sobre temas como a criação de uma empresa pública para gerir o trem-bala. “Ela (Dilma) tem cuidado de assuntos que não resolvem o problema do cidadão brasileiro que mais precisa da ação do estado”, diz, reclamando do excesso de MPs vindas do governo anterior.
Na área de infraestrutura, Abi-Ackel aponta demora no governo em resolver a questão aeroportuária e da situação das estradas federais, que o deputado propõe que sejam repassadas aos estados, junto com a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). “Faremos oposição virtuosa, com propostas”, diz. O tucano critica a criação de novas empresas e ministérios, ao mesmo tempo em que o governo aplica cortes no orçamento. Neste aspecto, vê continuidade: “O governo continua o mesmo, preocupado com o aumento da máquina, criação de empresas, cargos públicos”.

Boas perspectivas

Até mesmo o líder da oposição acredita que o Brasil vai superar o momento de interrogação na economia e afirma que Dilma Rousseff terá tranquilidade para governar. “Temos muita tranquilidade em relação ao futuro do país. Estamos certos de que ela terá respeito pelo poder legislativo. Acreditamos que as dificuldades econômicas serão superadas, porque o país tem condições econômicas para esta superação”, diz Paulo Abi-Ackel.

“O país está em um bom momento, não estou acreditando nestas previsões catastróficas sobre inflação. Estamos em um momento de quase pleno emprego”, afirma Paulo Paim. O senador acredita que as mudanças estruturais apregoadas pelo líder da oposição vão acontecer. “O governo está agindo corretamente, sem querer fazer grandes alardes na questão de grandes reformas”, diz. Ele revela que em audiência com a presidenta ela demonstrou preocupação especial com a área da saúde. “Acho que teremos mudança no campo da saúde. Percebo a presidenta preocupada com isto. Ela mandou fazer um raio-X em toda a área da saúde, para depois ver qual será o próximo passo. Temos visto que as principais preocupações da população são educação, saúde e segurança”.

Paim também aponta avanços na área dos Direitos Humanos na política externa. O sociólogo Rudá Ricci mostra que avanços nos Direitos Humanos são reais, não apenas pelo voto do Brasil a favor do envio de um relator ao Irã. Rudá diz que o orçamento para os Direitos Humanos aumentou de forma significativa e que esta pauta ganhará mais relevância não só na política externa, mas dentro do país, especialmente nos direitos da mulher.

Celso Woyciehchowski acredita que o governo Dilma vai tornar mais agudas as políticas sociais, como programas de transferência de renda. Ele destaca que, apesar das práticas ortodoxas na economia, o Bolsa-Família foi reajustado em 19%. “Já mostrou um investimento forte no processo de distribuição de renda.Fonte:Sul21

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