A revista Época divulgou no sábado 2 o que chama de relatório final da Polícia Federal sobre o caso do mensalão. Coisas velhas são apresentadas como novas e não se prova o que se diz provado (onde está a relação de pagamentos mensais a parlamentares em troca de apoio ao governo nas votações do Congresso?). Há um ponto interessante, porém: apesar do esforço descomunal, Época não conseguiu esconder o fato de a PF ter apontado o banqueiro Daniel Dantas como financiador do esquema petista. Não nos estenderemos neste ponto. No sábado, os jornalistas Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif já fizeram as análises pertinentes sobre o esforço da revista da Editora Globo de esconder o orelhudo, tratado como um pobre empresário achacado pelo PT.
PF: Dantas é a grana do valerioduto. Época não consegue esconder
A revista Época fez o que pôde para poupar o Daniel Dantas, aquele passador de bola apanhado no ato de passar bola.
Convém não esquecer que Diego Escosteguy, autor da reportagem. vem da revista VEJA, aquele detrito de maré baixa.
Escosteguy é da geração que presidiu a Veja, quando publicava reportagens a quatro mãos – duas delas, do Dantas – para dizer que o presidente Lula e o ínclito delegado Paulo Lacerda tinham conta secreta em paraíso fiscal.
(As outras duas eram de Marcio Aith, que foi assessor de imprensa do Padim Pade Cerra na campanha de 2010.)
Escosteguy saiu desse ninho.
A Época e Escosteguy pintam e bordam, têm gráficos, tabelas, setas, integrais e derivadas para desviar o foco.
Mas, o relatório da Polícia Federal tem foco e enfiou o dedo no câncer.
Dantas é o mentor (com caixa baixa, amigo revisor. Com caixa alta é outro, de que se tratará a seguir).
Dantas é o financiador.
Dantas é o pai do mensalão.
Primeiro, vamos esclarecer que a reportagem da Época comprova o que Mino Carta sempre disse.
Mensalão, não.
Mesada mensal, não.
O crime é outro: caixa dois de campanha, cobertura ilegal de déficit de campanha – chame como quiser.
Mas, não é mensalão.
O “mensalão” do Dantas começa com Eduardo Azeredo, governador de Minas.
Dantas “comprou” a Cemig – quando Azeredo era Governador – e inventou o Marcos Valério.
(Depois, o Itamar Franco recomprou a Cemig e botou o Dantas e a Elena Landau para correr. Hoje, o Itamar prefere não tocar no assunto – pelo menos com esse ansioso blogueoiro.)
Em julho de 1998, foi a privatização do Fernando Henrique.
Aquela sopa no mel.
Foi quando houve o “momento Péricles de Atenas” do Governo Cerra-FHC: “se isso der m… estamos todos no mesmo barco”.
A partir daí, começa a jorrar dinheiro da Telemig Celular (do Dantas) no duto do Marcos Valério.
E o dinheiro do Dantas no valerioduto – através de contas fajutas de publicidade – cresce exponencialmente.
Jorra dinheiro da Telemig e da Brasil Telecom, que o FHC deu de presente ao “brilhante”.
E é daí que sai a grana para o PT.
O PT quebrou na campanha de 2002.
E Dantas queria voltar a mandar na Previ, na Petros e na Funcef – que o Farol de Alexandria e o ACM tinham dado a ele numa bandeja.
A matéria do Escosteguy e da Época não toca em Telemig.
(Pelo menos na versão online.)
A matéria do Escosteguy e da Época tem foto de todo mundo, mas não tem foto do Dantas.
A matéria do Escosteguy e da Época concede ao Dantas – e só a ele – o “direito de resposta”.
É quando Dantas conta aquela história de sempre: foi “perseguido”, “extorquido”, coitadinho.
Naquele jantar no Tramvia, em Santa Cecília, em São Paulo, exibido no jornal nacional, quando ele suborna um agente da Polícia Federal, também ali se percebe que os enviados de foram extorquidos, eram perseguidos.
(E foi tal cena edificante que o ex-Supremo Presidente Supremo do Supremo, Gilmar Dantas (*) ignorou, ao dar o segundo HC Canguru ao Dantas – no prazo record de 48 horas ! Viva o Brasil !)
Mas, como se percebe, o relatório da Policia Federal deve ser uma coisa, a matéria do Escosteguy e da Época, outra.
O Escosteguy e a Época tentam incriminar o presidente Lula.
Não conseguem chegar lá.
Isso, porém, não significa que o PT não tenha sido soterrado pela grana do Dantas.
Delubio, José Dirceu, José Mentor (aquele que enterrou a CPI do Banestado – êpa ! – e agora, ao lado do Senador Delcídio Amaral, tem um projeto para “deslavar” dinheiro de quem lavou com o Dantas).
O PT tá lá.
Com a mão no valerioduto.
Entalado.
Especialmente o PT de São Paulo.
Então, como diz este ansioso Conversa Afiada, o PT tem que se acertar com o Daniel Dantas – especialmente na hora de readmitir o Delúbio.
Outra consideração a fazer sobre o texto do Escosteguy e da Época: não foi o Zé Eduardo Cardozo quem fez essa investigação.
Logo ele, o Zé, que trabalhou para Dantas – até entre os amiguinhos o Berlusconi.
Não vai ser agora que o Zé vai posar para a história como o papagaio de pirata do encarceramento do Dantas.
(O Zé é chegado a um papagaio de pirata).
Não daria tempo.
Isso é trabalho que vem de antes.
Vem da Operação Satiagrajha e de seus desdobramentos exigidos pelo corajoso Juiz Fausto De Sanctis (hoje devidamente promovido a julgar litígio de velhinho com o INSS – Viva o Brasil !).
Terá sido por isso que o presidente Lula disse no encontro histórico com blogueiros sujos que ia concluir no Governo dele a investigação sobre Dantas ?
Escosteguy e a Época integram o minueto do PiG (**) para esconder o Dantas debaixo do tapete.
Não adianta.
Dantas tem um encontro marcado com o Ministro Joaquim Barbosa.
E aí, como diria o Joe Louis, ele pode correr, mas não pode se esconder.
E o Nassif neste:
Um dos princípios jornalísticos mais sagrados à velha mídia é o do gancho – ou seja, uma matéria sai quando tem algum fato novo que justifique sua publicação.
Com poucas novidades, trata-se de um “cozidão”. O lide da matéria está no pé.
“As provas reunidas pela PF constituem a última esperança do ministro Joaquim Barbosa e da Procuradoria-Geral para que o Supremo condene os réus do mensalão. Nos últimos anos, as opiniões dos ministros do STF sobre o processo modularam-se ao ambiente político – que, sob a liderança simbólica e moral do ex-presidente Lula, fizeram o caso entrar num período de hibernação. Alguns ministros, que em 2007 votaram por acatar a denúncia do Ministério Público, agora comentam reservadamente que as condenações dependem de “mais provas”. Hoje, portanto, o Supremo se dividiu. Não se sabe o desfecho do processo. Sabe-se apenas que, quanto mais tempo transcorrer, maior a chance de absolvição dos mensaleiros. Se isso acontecer, a previsão feita por Delúbio Soares, num passado não tão remoto, num país não tão distante, vai se materializar: o mensalão virará piada de salão. Será o retorno da ficção: era uma vez um país sério”.
É aí que a matéria se entrega. O que a matéria tem de novo, não é relevante; o que tem de relevante, não é novo. E isto faz toda a diferença.
Segundo a revista, as informações constam do relatório adicional solicitado pelo Ministro Joaquim Barbosa à Polícia Federal.
Há que se conferir melhor, mas as informações novas são as seguintes:
1. O aparecimento de um filho de Marco Maciel na história.
2. A inclusão da filha de Joaquim Roriz.
3. A inclusão de Aécio Neves, em algo que não tem nenhum desdobramento maior: uma cota de patrocínio de um evento que existiu, aconteceu e foi pago. Um factóide.
Todos os demais fatos, anunciados bombasticamente pela Época, são antigos e provavelmente já constam do inquérito inicial, que serviu de base para instruir o relatório de Joaquim Barbosa. A saber:
1. O caso do segurança de Lula. Matéria de 2006, do Estadão.
2. Os assessores de Pimentel, demitidos por ele na época.
3. O financiamento da festa de posse de Lula e outras despesas de campanhas, admitidas publicamente por Delúbio Soares.
Ou seja, os fatos retumbantes são velhos; e os fatos novos são irrelevantes. Se todos os fatos relevantes já estavam no relatório de Joaquim Barbosa, qual a razão para o “cozidão”? O fato de, segundo o Estadão, a denúncia de Barbosa provavelmente ser rejeitada pelo STF, por inepta.
Dias atrás o Estadão publicou matéria dizendo que o julgamento do “mensalão” não daria em nada. A matéria é do repórter Felipe Recondo, do dia 27 de março passado.
Sob o título “Pressões no STF criaram ilusão de condenação”, a matéria diz que na época a denúncia de Joaquim Barbosa foi aceita na íntegra, passando a impressão de que não tinha furo, devido à matéria do Globo, sobre a troca de mensagens entre os Ministros Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia. Ocorre que tinha muitos furos.
Diz a matéria do Estadão:
“Quando essa suspeita foi divulgada, houve um clima de constrangimento. O julgamento ficou pasteurizado. De acordo com integrantes da Corte, nenhum ministro sentiu-se à vontade para discutir à exaustão cada ponto da denúncia. O melhor a fazer, disse ao Estado outro integrante do STF, era acelerar a conclusão do julgamento em favor da abertura da ação.
Nesse cenário, o relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, teve o trabalho facilitado. A denúncia foi recebida praticamente na íntegra e criou a impressão de que a investigação não tinha furos. Hoje, ministros dizem que vários pontos do inquérito seriam derrubados facilmente se o julgamento tivesse transcorrido em clima de normalidade”.
Na outra retranca – “Ônus de absolvição será maior para Barbosa» a matéria diz:
“É unanimidade entre os ministros do Supremo que, dos 38 réus que serão julgados, poucos serão os condenados. Como responsável pela ação penal, o ônus de absolver figuras-chave do esquema do mensalão poderá recair, em última instância, sobre Joaquim Barbosa.
Quando o processo chegar ao fim, será preciso lembrar, por exemplo, que o Ministério Público, responsável por produzir as provas necessárias para a condenação, pode ter falhado. Ou que o Supremo Tribunal Federal tem como fundamento a abnegada proteção do indivíduo ante os Poderes – o que no jargão jurídico é definido como garantismo. Assim exige provas cabais para condenar alguém e não aceita uma condenação mesmo que as evidências sejam claras. Ou ainda que a denúncia recebida em 2007 já podia esconder furos, mas que o STF preferiu não atacá-los naquele momento”.
O que provavelmente aconteceu? Para requentar o tema, passaram-se algumas informações adicionais para Época que – seguindo o velho modelo de Veja – requentou o cozidão, procurando criar um fato novo. A intenção é criar novo constrangimento entre os ministros.
CartaCapital se orgulha de ter sido a primeira publicação a apontar a relação de Dantas com o esquema petista. E o fizemos não agora, seis anos depois, mas em 2005, no auge dos acontecimentos. Como o assunto voltou à tona, resolvemos contribuir novamente para o correto entendimento dos fatos e republicamos a seguir todas as nossas reportagens que trataram do tema. Indicamos como primeira leitura a matéria da edição 354 de 10 de outubro, cujo título de capa foi “Nos Bastidores da Conexão Lisboa”. Naquele período, a mídia em manada afirmava que a viagem de Marcos Valério a Portugal tinha por objetivo oferecer o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), estatal, ao banco Espírito Santo. CartaCapital demonstrou, porém, que o objetivo da viagem fora outro: negociar com a Portugal Telecom a venda da Telemig, em um enredo que une Dantas, José Dirceu, Henrique Pizzolatto e o publicitário mineiro contra os fundos de pensão.
As testemunhas portuguesas ouvidas no inquérito do mensalão confirmaram as informações noticiadas pela Carta, como noticiou a Folha de S. Paulo em 6 de junho do ano passado:
Depoimentos do mensalão reforçam elo entre Daniel Dantas e Marcos Valério
LUCAS FERRAZ
FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA
FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA
Depoimentos inéditos de executivos e autoridades portuguesas testemunhas no processo do mensalão revelam que o publicitário Marcos Valério intermediou um negócio na Europa de interesse direto do banqueiro Daniel Dantas.
Valério e Dantas são apontados, respectivamente, como operador e um dos financiadores do esquema de corrupção de congressistas.
A relação entre esses dois personagens nunca foi explicada pelas investigações e foi sempre negada por ambos.
À Justiça, porém, as testemunhas portuguesas revelaram que Valério foi a Portugal em 2004 participar das negociações da venda da Telemig Celular, à época controlada por Daniel Dantas.
Marcos Valério sempre alegou que esteve no país para expandir seus contratos de publicidade. Já Dantas afirmava que nunca contou com a ajuda do publicitário para vender a tele mineira.
Portugueses
Miguel Horta e Costa, então presidente da Portugal Telecom, admitiu que a Vivo (controlada pelo grupo português e pela espanhola Telefónica) já queria adquirir a Telemig e contou que o “interessante era o conhecimento que ele [Marcos Valério] tinha” da empresa.
Já António Mexia, então ministro de Obras de Portugal, disse que conheceu Valério como sendo uma pessoa que tinha “conhecimentos do ponto de vista empresarial” da Telemig. “[Ele] conhecia a imagem da empresa, e no contexto de alguém que poderia contribuir, para se perceber, via racional ou não, na junção das companhias’”, afirmou à Justiça.
A viagem e a negociação da venda da telefônica ocorreram em 2004. A compra da Telemig pela Vivo foi fechada em 2007.
Segundo a CPI dos Correios, que investigou o caso, a intermediação de Valério no negócio renderia propina para o PT e o PTB. A negociação também interessava diretamente ao banqueiro, dono do grupo Opportunity.
Valério viajou a Portugal com Emerson Palmieri, tesoureiro informal do PTB. O publicitário, contudo, esteve sozinho com as autoridades portuguesas, como confirmam os depoimentos.
Outro lado
O advogado de Valério, Marcelo Leonardo, minimizou as afirmações de que o seu cliente atuou na tentativa de vender a tele. Para Leonardo, os depoimentos deixam claro que o publicitário “não era um emissário do governo Lula”.
Em nota, o Opportunity, de Daniel Dantas, afirma que Valério “jamais foi autorizado a representar os interesses” do grupo e que as “acusações parecem ter objetivo: produzir pistas erradas para camuflar os que, de fato, patrocinaram o mensalão”.
Em 2005 foi revelado que empresas controladas por Daniel Dantas _entre elas a Telemig– pagaram mais de R$ 150 milhões desde 2000 às agências de Valério.
Parte desse dinheiro teria irrigado o mensalão. Notas fiscais de serviços prestados pelas agências de publicidade de Valério às teles chegaram a ser queimadas.
Aqui, o link da reportagem de CartaCapital (edição da reportagem de CartaCapital de outubro de 2005.
E nos demais links, a radiografia das relações de Dantas com os petistas.
edição 348 (parte 1 e parte 2)
edição 353
edição 355
edição 377
Um comentário:
E tudo permanecerá "com dantes no quartel de Abrantes"!
Fraudaram, superfaturaram, fizeram caixa 2, mas tudo bem pois são amigos dos reis e dos donatários...
É mais ou menos assim: "Mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima e não uma solução..."
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