Jason Dean | The Wall Street Journal |
Valor Econômico |
A julgar pelo que diz a presidente Dilma Rousseff, Terry Gou deve ser um grande fã do Brasil como base de produção industrial. Se isso for verdade, no entanto, o sentimento do chefe da Foxconn sofreu uma mudança bastante radical. Dilma Roussef, em Pequim para uma visita oficial à China, disse na terça-feira que a Foxconn - nome comercial da Hon Hai Precision Industry, colosso de produtos eletrônicos de Taiwan fundada e administrada por Gou - está estudando a possibilidade de investir US$ 12 bilhões no Brasil, a maior economia da América Latina. A Hon Hai é a fabricante terceirizada de acessórios onipresentes, como os iPads e iPhones, da Apple. Por isso não é de admirar que o comentário tenha chamado a atenção. Mesmo para a empresa de Gou, cujos analistas estimam uma receita de mais de US$ 100 bilhões no ano passado, US$ 12 bilhões no Brasil é bastante dinheiro. Mas é preciso dizer que, pelo menos no fim do ano passado, Gou - um senhor de 60 anos sem papas na língua - estava longe de estar apaixonado pelas qualificações do Brasil como um grande centro de produção industrial. Em setembro, durante uma entrevista de quase três horas concedida ao "The Wall Street Journal" no enorme complexo industrial da Hon Hai na cidade de Shenzhen, no Sul da China, Gou ridicularizou a ideia de que o Brasil poderia de alguma forma rivalizar com a força da China em produção industrial. "Há também a questão do Brasil. Os salários dos trabalhadores brasileiros são muito altos. Mas os brasileiros, assim que ouvem "futebol", param de trabalhar. E há toda aquela dança. É louco... Assim, o Brasil é bom [como base de produção industrial] para o mercado local. O Brasil tem ótimos minerais. E tem o grande rio Amazonas, por isso tem boa capacidade hidrelétrica. Mas, se você quiser mandar coisas para os EUA, leva mais tempo e mais dinheiro para mandar do Brasil (do que da China)", disse Gou. Para fazer justiça ao Brasil, não foi o único país cuja força de trabalho não impressionou o empresário. A discussão durante essa parte da entrevista versou sobre as especulações de que os crescentes custos estavam levando a China a perder sua vantagem como chão de fábrica mundial em favor de outros países em desenvolvimento. Gou, que é possivelmente o maior especialista mundial em produção industrial na China, desqualificou essa ideia, dizendo que apostava bilhões de dólares no interior da China como alternativa aos locais litorâneos de produção industrial, como Shenzhen. A opinião de Gou sobre a Índia: "A Índia é um bom lugar para instalar uma fábrica?... A Índia tem seus problemas... Sua discrepância em termos de riqueza é maior que a da China. Ela tem um índice de Gini [forma de medir a desigualdade de renda] mais alto que a China. Você pode dizer que a Índia é um país? Cada região tem sua própria legislação fiscal. É como os EUA antes da instauração da República... Assim, se a Índia quiser se tornar a fábrica do mundo, o software está ok, [mas] os equipamentos vão levar algum tempo. Acho que pelo menos 20 anos... E os salários da Índia também estão subindo rapidamente. Agora todo mundo tem internet. Os trabalhadores indianos querem ganhar exatamente o mesmo salário que os chineses ganham. Portanto, o que a China tem a temer?" E sobre a Rússia: "Em Chengdu, assinei um contrato em julho. Eles vão terminar em outubro a construção da primeira parte, que abrange seis prédios... Três meses! Em São Petersburgo estamos construindo uma fábrica. Sabe quanto tempo está levando? Dois anos. E não acabaram ainda. Quem pode administrar uma fábrica bem-sucedida na Rússia? Me diga quem. Quero me informar com essa pessoa." A conclusão de Gou: "Índia, Brasil, Rússia - as fábricas nesses países são boas para o consumo interno", mas "acho que a China, nos próximos 20 anos, não terá concorrente" como principal centro mundial de produção industrial. |
quinta-feira, 14 de abril de 2011
'Sr. Foxconn' passa de crítico a fã da produção no Brasil
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