segunda-feira, 2 de maio de 2011

Lula, o PT e a política de alianças

 
Temos assistido pela imprensa a uma nítida tentativa de inserir o sempre presidente Lula em agendas negativas.

Primeiro foi a investida para criar contradições entre ele e a presidenta Dilma, visando transformar as características do novo governo em conflitos, quando ambos representam o mesmo projeto. Após análise de Fernando Henrique Cardoso em relação aos novos setores médios da sociedade, presenciamos uma tentativa afoita de atribuir a Lula afirmações sobre quais setores do eleitorado o PT deveria priorizar.

Atribuem a ele a afirmação de que deveríamos buscar o eleitorado "malufista" e "quercista". O objetivo era mostrar um suposto "escorregão" de análise de Lula.

Quem explicitou esse desafio ao PT para vencer as eleições no Estado de São Paulo fui eu.


No encontro de prefeitos, no último dia 19, em Osasco, fizemos uma análise das dificuldades eleitorais do PT paulista e afirmei que devemos ampliar nossa intervenção, construindo propostas que dialoguem com o eleitorado tradicionalmente "quercista" no interior, bem como com aquele identificado com o "malufismo" na capital.

Claro, essa divisão geográfica não é rígida, mas traduz a influência de duas forças políticas que fizeram história no Estado e que, hoje, têm seu eleitorado hegemonizado politicamente pelo PSDB.

A bem da verdade, Lula mostrou sua preocupação com os novos setores sociais que ascenderam graças às políticas públicas do seu governo e que agora buscam sua identidade política.

Pesquisa Datafolha, publicada no dia 22 de abril neste jornal, mostra que os novos setores médios construíram até o momento uma opção política pelo PT, reconhecendo o governo Lula como o responsável pelas novas oportunidades, além de depositar no governo Dilma a esperança de continuidade desses avanços.

Mas essa opção política não significa identidade. Ao optar pelo PT, esses setores sociais mostram-se abertos ao diálogo com nosso projeto político. Contudo, o grande desafio é disputar a identidade social desses milhões de brasileiros que nunca tiveram acesso às oportunidades, ao consumo, às realizações individuais, que nunca sonharam com o futuro e que agora acreditam no Brasil como nação.

Da mesma forma que os novos cidadãos/consumidores podem optar pela solidariedade com os que ainda não foram incluídos socialmente, desenvolver o sentimento democrático de convívio com diferenças, querer país sustentável, de respeito aos trabalhadores e à natureza, por exemplo, em sentido inverso, podem optar por valores como consumismo e individualidade.

É tarefa dos projetos políticos mostrar a esses setores que os rumos do Brasil estão em disputa; que este início do século 21 mostra a humanidade em busca de novos valores e que a democracia, no seu sentido mais amplo, não é um valor conjuntural. Claro que não só os partidos políticos podem politizar o debate de rumos, mas é sua tarefa intrínseca, como legítimos representantes de projetos na sociedade.

Lula sabe da importância do Brasil nessa formulação e dos exemplos que podemos dar à América Latina e ao mundo. Sabe que o PT pode dar grandes contribuições na formulação de políticas públicas.

Essas tarefas só podem ser alcançadas com um amplo arco de alianças, que dê sustentação política e social ao projeto em andamento. Temos que dialogar com todos os segmentos sociais, mas, como diz o próprio Lula, "sem mudar de lado".

Por tudo que fez, Lula tem toda a legitimidade para falar de políticas de alianças, de ampliação do diálogo, sem abrir mão de um projeto de transformação social. Estamos otimistas do papel que ele pode cumprir na ampliação da nossa capacidade de dialogar com a sociedade.
Edinho Silva é presidente do Partido dos Trabalhadores no Estado de São Paulo e deputado estadual (PT-SP). no PT Org.

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