segunda-feira, 9 de maio de 2011

A outra face de Obama

ATatiana Sabadini
Correio Braziliense - 09/05/2011
Ao matar Bin Laden, presidente dos EUA põe em risco imagem de ganhador do Nobel da Paz e é comparado a Bush.


Nos últimos dias, o mundo conheceu um Barack Obama diferente. O comandante em chefe dos Estados Unidos mostrou sua força depois de aprovar e liderar uma operação secreta que matou o maior inimigo do seu país, Osama bin Laden. Os americanos puderam comemorar, finalmente, o desfecho do ataque de 11 de setembro de 2001, e a popularidade do presidente aumentou da noite para o dia. Mas, para o resto do mundo, a ação, até agora carregada de mistérios e de incertezas, trouxe à tona um líder diferente daquele que sempre pregou a justiça e a paz. As consequências da atitude do presidente americano, de acordo com os especialistas consultados pelo Correio, ainda são imperceptíveis, porém podem trazer marcas que apenas a história dirá.

Uma operação sem aviso prévio e que ainda deixa dúvidas sobre a situação em que se encontrava Bin Laden. A cada dia, os pontos de interrogação se acumulam. O terrorista estava ou não armado? Como foi a ação? Onde estão as provas? A única ordem era matar? As respostas, ou a falta delas, caem sob a responsabilidade de Obama. O homem que sabe todas as informações recebe críticas por não compartilhá-las. E o ganhador do Nobel da Paz de 2009, que era exaltado pela ideia de mudança para os EUA, agora é comparado a seu antecessor, George W. Bush. “Ao que parece, ele quer confirmar que a guerra ao terror continua, é pragmático, pensa na reeleição, e deseja ficar marcado por ser homem que tirou o país da crise. Mas isso só vamos saber com o tempo” afirma Inderjeet Parmar, professor de ciência política da Universidade Manchester.

Ao redor do mundo, as opiniões se divergem sobre a Operação Geronimo, que matou Bin Laden. Para Shawn W. Rosenberg, professor de ciência política, psicologia e comportamento social da Universidade da Califórnia, a visão sobre a atitude do presidente depende do quanto um país é afetado por ameaças terroristas, violação das fronteiras e soberania, e as relações com os EUA. “Em lugares como Espanha, Reino Unido, França e Alemanha a imagem de Obama pode ter melhorado. Outros locais diversos, como China, Síria, Irã ou mesmo o Brasil, podem ser mais críticos. Agora que ele é visto de uma forma mais militarista e com traços de Bush, a ideia que todos tinham sobre ele pode ter sido manchada”, explica o especialista.

O momento foi decisivo na localização de Bin Laden em um casarão, em Abbottabad, no Paquistão. Sua captura, no entanto, levantou um questionamento ético quando surgiu a teoria de que a ordem era apenas matar. “Apesar de a situação não estar bem clara, ao que parece, eles poderiam pegá-lo vivo. Se isso for verdade, existe uma responsabilidade moral por parte do governo. Seria um fardo tê-lo como prisioneiro, mas são as obrigações de uma democracia que opera de acordo com a lei. E existe a questão prática da quantidade de informação que ele teria fornecido, não apenas da Al-Qaeda, mas do Paquistão e de toda a região”, defende Rosenberg.

Eleições

Três anos depois da campanha vitoriosa de Barack Obama, não está evidente qual será o entusiasmo dos americanos nas próximas eleições. As comemorações, que atravessaram a madrugada da segunda-feira passada em cidades americanas, mostraram que Obama venceu uma importante batalha. Prevalece ainda a ideia de que precisa superar a guerra. A popularidade do presidente aumentou — de 46% para 57% —, mas, segundo Rosenberg, essa euforia não deve durar até 2012. “Os eleitores não costumam fazer escolhas baseadas na política externa. Estão mais interessados em assuntos domésticos, como a economia”, diz o professor.

Mesmo que o foco das eleições não esteja no sucesso da operação contra Bin Laden, a ação ainda pode ser explorada a favor do presidente durante a campanha. “Ele pode usar isso como uma vantagem e ser mais decisivo em dois ou três temas até o ano que vem. E isso incluiria medidas mais claras para tirar os EUA do Afeganistão. Assim, ele conseguiria refazer sua imagem como líder seguro e forte. Mas creio que ele deve manter uma política mais ampla, que tende a ser menos arriscada e mais baseada nos caminhos convencionais”, afirma Rosenberg.

A liderança de Obama na operação pode ajudar a rebater uma das grandes críticas de seus opositores na eleição passada: a falta de firmeza para resolver temas ligados ao terror e à guerra. “Os republicanos costumam apontar que os democratas são fracos nas políticas externas e nos assuntos militares. Ele provou que não é bem assim”, analisa Robert Bradley, professor do departamento de política e governo da Universidade Estadual de Illinois.

Para James Campbell, cientista político da Universidade de Buffallo, a vitória de Obama nas urnas depende mais de quem será o seu opositor do que da morte de Bin Laden. “Ele fez o que era preciso e essa é outra razão para que isso não seja importante durante as eleições. É difícil imaginar que a decisão dele seria diferente dos que o antecederam.”

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