O espocar de escândalos na administração pública é reflexo de ações adotadas anos atrás pelo governo do ex-presidente Lula, para o controle dos próprios governos. Mas é um processo bem-vindo por todos os que defendem o bem comum, sem cor nem dor.
Por Jaime Sautchuk*
A ladroagem não é novidade, nem aqui, nem na China ou nos EUA. Os meios de se apropriar de recursos públicos é que mudaram. E a formas de se coibir os desvios também transmutam. Leis e mecanismos de investigação existem, mas, no Brasil, esbarram no fim da linha, na ação do Judiciário.
O ministro Jorge Hage, chefe da Controladoria-Geral da União, tem dito e repetido que os focos de corrupção que o próprio governo vem apontando são um pequeno pedaço do que existe. Mas o caminho é um só: chegar a um por um dos larápios. E isso tem apoio de Deus e todo mundo, ainda que muitos só o façam da boca para fora.
Aqui, vale voltar um pouco na história. A Controladoria foi criada por Lula já ao assumir, no seu primeiro governo. Para o cargo de controlador, Lula escolheu Waldir Pires, líder político baiano de extenso currículo de bons serviços à sociedade.
Ele levou para o novo órgão o advogado, ex-deputado federal, reconhecido pela postura ilibada, combativo e também baiano Jorge Hage.
Numa longa conversa que tive com o ministro Waldir, ao fazer um perfil dele para o jornal O Pasquim, ele me disse que devia a Hage a montagem do arcabouço da nova pasta, que era uma novidade para o mundo todo. E, agora, estão sendo criadas as secretarias estaduais com a mesma finalidade, num processo que chegará aos municípios.
É preciso ter claro que essas investidas do Ministério Público e Polícia Federal sobre focos de corrupção nascem na Controladoria. É ali que os descaminhos são plotados e, já documentados, vão para esses órgãos, que irão levar os processos adiante. Depois, é com a Justiça.
É mais do que um espinhoso caminho, é uma guerra continuada, que exige, inclusive, a formação de novos quadros. Mas os resultados a gente já pode sentir. Já podemos crer que os recursos públicos que existem no Brasil, com robustez, não ficarão nas mãos de picaretas travestidos de administradores e, sim, em benefícios à sociedade.
Mas há pedras no caminho. Podemos destacar duas. Uma, é a das Organizações Não-Governamentais (ONGs), entes criados no capitalismo moderno para democratizar o uso dos recursos públicos, que teoricamente são sem fins lucrativos, mas que em muitos casos enchem os bolsos de ladrões, dentro e fora do serviço público.
Há, é claro, incontáveis ONGs que são frutos de trabalho abnegado. É gente que se dedica a cuidar dos outros, a promover a ação comunitária, a agir em favor da qualidade de vida de todos. Mas, há os que se utilizam dessa fachada para crimes dos mais diversos.
Não quer dizer que as empresas convencionais estejam fora do circo. Muito pelo contrário. Não só no campo da infra-estrutura, da construção de estradas, estádios, prédios públicos em geral. Está no fornecimento de produtos, de medicamentos para a saúde, de serviços dos mais diversos. E envolvem todos os setores, até o nosso, do jornalismo.
O que falta é um sistema mais rígido de controle sobre quem vai aplicar esses recursos. Não se trata de novas papeladas, burocracias imbecis que só atravancam. São controles simples e baratos, de aferição de resultados das ações previstas nos projetos.
E aí entra a outra pedra, que é o Judiciário. Grande parte, a maioria das ações acaba esbarrando lá no final da linha, em decisões judiciais que facilitam a vida dos larápios. Com grana para pagar advogados (e também juízes), eles conseguem as mais incríveis interpretações de leis para se safarem de ilícitos mais que comprovados.
É fato, porém, que essa jornada começada por Lula e levada adiante com firmeza pela presidente Dilma tem angariado apoio de toda a sociedade. Quem remar contra, em qualquer dos Três Poderes, terá de explicar bem suas decisões.
Afinal, o tema ganhou as ruas, com amplo apoio popular. Quem confiar na impunidade, pelo jeito, vai se dar mal. Tomara!
*Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.
Portal Vermelho
Nenhum comentário:
Postar um comentário