segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Zillah Branco: Alianças políticas pela dignidade nacional


A história das instituições no Brasil carrega um peso de quase 500 anos de irresponsabilidade e oportunismo das elites dirigentes. Esta marca transformou-se em cultura generalizada na sociedade, de modo a deixar elites com a certeza de que podem cometer qualquer infração, mesmo crime, com a garantia da impunidade, e os cidadãos trabalhadores com o hábito de aceitar qualquer forma de domínio e exploração que seja exercida pela elite.


 
Esse fatalismo cultural convive, ainda hoje, com o desenvolvimento de uma consciência de cidadania que só existe ligada à luta permanente pela dignidade (individual e nacional) e pela democracia real.

Devido a estas diferenças conceituais, o senso comum, a lógica dos que falam e pensam democraticamente, considera uma elementar falta de respeito explicitar e exigir a um representante do povo ou aos altos funcionários das instituições públicas e privadas, que garantam que a sua atuação será honesta, digna, responsável, e leal aos princípios éticos que estão registrados constitucionalmente. Como vivemos em processo de desenvolvimento, saindo de condições de colonialismo e dominação imperialista, este senso comum deve ser alertado para a compreensão de que o que é óbvio para um cidadão democrata, pode não ser para um remanescente da formação elitista herdada do antigo poder oligárquico.

Por exemplo, quando falamos em aliança política, esperamos que exista um ponto comum a unir pessoas diferentes que se traduza no mesmo entendimento de ética. Se não for assim, aliança seria o mesmo que uma relação de compra e venda sem referência a princípios éticos, o que é a negação da responsabilidade política e social que invalida qualquer instituição.

O grande salto político introduzido por Lula no Governo do Brasil foi o da necessidade e possibilidade de alianças políticas entre Partidos e representantes de diferentes ideologias que contêm aspectos antagônicos na formulação do sistema de poder na sociedade mas que tenham um mesmo objetivo em relação ao desenvolvimento do país. Com a eleição de alguém que representa fielmente o povo trabalhador brasileiro, impondo a sua diferença pessoal relativamente ao padrão exigido pela elite tradicional, e trazendo consigo a exigência da ética e da democracia que sempre estiveram embrulhadas na fraseologia demagógica dos políticos, começaram a surgir novos aderentes à mudança profunda que a sociedade exigia.

 
Empresários bem sucedidos, políticos de peso, opositores partidários, muita boa gente que estava aculturada pela oligarquia, despertou para a revolução ética semeada com a quebra do velho padrão do poder na gestão da vida nacional.

O processo naturalmente foi difícil e tortuoso. Como se tratava de uma limpeza, muita gente se vestiu de faxineiro para dar a vassourada antes de recebê-la. Foi a época das denúncias espertas, dos “mensalões”, dos processos por fraude, abuso de poder, desvio do dinheiro público, toda uma gama de banditismos que deixou a população mais ingênua assustada com a realidade dos desmandos que a elite mantinha sob o manto da responsabilidade institucional. Foi um forte abanão no coqueiro que derrubou coco maduro e verde, atingindo alguns cidadãos distraídos que misturavam os modelos culturais.

Ficou patente a necessidade de regulamentar o comportamento do agente público com base na ética e na maturidade democrática para transformar a sociedade. Os que se consideram mais espertos resolveram impedir que o processo institucional avançasse reduzindo as acusações a alguns nomes escolhidos para a berlinda (que, habitualmente, oferecia saída pela porta da impunidade controlada pela velha elite). Mas o cerne do governo Lula resistiu defendendo, acima das cabeças que rolaram, o impulso a favor da ética como base da democratização do sistema de poder.

O dia-a-dia da política nacional divulgado pela midia passou a registrar cenas de degola política alternadas com as do crime organizado e mais os acidentes de uma sociedade secularmente desorganizada. Aparentemente um caos, mas dentro dele as limpezas institucionais foram sendo percebidas pelo povo trabalhador e muita gente boa que deixou a oposição e somou o seu voto no apoio de 80% com que os eleitores se despediram de Lula no segundo mandato, abraçando Dilma e fazendo dela Presidente do Brasil.

O processo continuou no interior das instituições como na consciência dos cidadãos. E na gestão de Dilma assiste-se ao segundo grande passo na dignificação das instituições. A extinção dos maus hábitos que apodrecem as elites é comandada em uníssono pelo Governo, pelo Judiciário, pela Polícia Federal. A midia precisou deixar o tédio da sua lista de acidentes que com fatalismo atribui ao atraso brasileiro, e lançar apostas no jogo das alianças responsabilizando os Partidos da base aliada pelos casos pessoais de má conduta administrativa que condenam ministros, diretores de grandes empresas, secretários de confiança nas instituições do Estado. Como se o Governo tivesse a sua estrutura amarrada por laços de um mercado livre que usa a corrupção como moeda corrente, apostam na cedência da Presidente ou no comprometimento dos partidos com os crimes denunciados.

O segundo passo na consolidação do processo de dignificação do país, conduzido pela Presidente Dilma, é a unificação dos aliados em torno dos mesmos princípios éticos que os identifica e os mesmos objetivos democráticos que os move. Com as denúncias relativas à corrupção nos ministérios do Transporte e, depois, o da Agricultura, a midia promoveu uma torcida organizada pelo rompimento das alianças com os Partidos, mas houve maturidade política bastante para que os aliados se unissem contra a praga da corrupção no país e caírem os ministros que não souberam evitá-la nos seus territórios.

As intrigas palacianas articuladas nos cafezinhos da mídia não garantem o êxito dos programas medíocres, o brasileiro não tem tempo para novelas de baixa categoria e aprendeu a ver na sua comunidade, no seu bairro, nas instituições que contata, que há sinais de uma transformação positiva. Será benéfico à midia descobrir que as fofocas não têm mais prestígio que as análises sérias com fatos verdadeiros que atrai o grande público.

As transformações são lentas para atender a todos os 190 milhões de cidadãos com as suas múltiplas carências, mas cada um deixa o egoísmo de lado e olha para os lados mais frágeis da sociedade que hoje são atendidos, são procurados na imensidão do território, recebem as sementes da integração nacional por meio de um investimento em infra-estrutura, do ensino e do serviço médico implantados, da energia e fornecimento de água instalados, da comercialização dos produtos locais que geram empregos. A sociedade amadurece e ultrapassa a cultura da subserviência e do medo que a obrigava a aceitar com fatalismo o domínio de uma elite criminosa sempre impune.

Nenhum comentário: