Luciano Rezende *
O editorial do jornal Folha de São Paulo, publicado no dia de finados, foi de matar. Pela primeira vez evocaram a dialética para, de forma antidialética, atacar o PCdoB.
Como inimigos da democracia, partem para o insulto e para a desqualificação de um Partido que ousou lutar contra a tal “ditabranda” que eles (família Frias) apoiaram diretamente no Brasil. Liberdade de ideias só da boca para fora e quando os convém, pois jamais deram uma nota de rodapé que fosse para saudar as inúmeras realizações e êxitos alcançados pelo Ministério do Esporte com a colaboração dos comunistas.
Acaso fossem honestos mencionariam ao menos que com o PCdoB à frente da pasta, o país logrou poder sediar os dois mais importantes eventos do planeta (Copa do Mundo e Olimpíadas) afora os jogos Panamericanos ocorridos no Rio. Elogiar o legado que esses eventos representam ao país, com ingresso de divisas imensamente maior ao que o Ministério dispõe, seria pedir demais. Logo eles que, através de seus “calunistas”, tentam incutir na sociedade a ideia de uma estúpida contradição entre eventos esportivos e investimentos em saúde, educação e segurança. Ressente-se de que os governos neoliberais passados foram incapazes até mesmo de promover uma conotação social ao esporte como elemento inclusivo da população.
O editorial defende abertamente a exclusão do PCdoB do governo. Justamente a Folha, que tanto condena o tal “hegemonismo” petista, reclama agora que a pasta do Esporte continue com um aliado histórico. Será que esperavam que Dilma convidasse o PSDB, DEM ou PPS para dar continuidade à exitosa política desportiva inaugurada com Agnelo Queiroz e continuada por Orlando Silva? Outros ministros foram substituídos e nem por isso a Folha cobrou pela troca de partidos, mas com o PCdoB é diferente.
Com o tom provocativo que lhe é peculiar, a Folha afirma que se Orlando fosse inocente não haveria a necessidade de a “presidente Dilma Rousseff tê-lo afastado nem dado posse a Rebelo”. Quanta hipocrisia! Orlando de fato deveria continuar e apenas foi afastado por que a imprensa fez de tudo para derrubá-lo fazendo o uso de todo seu arsenal de calúnias e difamações, podando qualquer mecanismo de julgamento mais imparcial pelos órgãos competentes. Infelizmente o governo cedeu mais uma vez às pressões golpistas e desestabilizadoras da Folha e congêneres.
Mas como lembra o pesquisador Fábio Palácio, não basta atacar o PCdoB no presente. Urge desconstruir seu passado. E é aí que a Folha solta o verbo e discorre sobre a “saga de erros históricos” dos comunistas.
A história da Folha é a das classes dominantes. Nesse roteiro associam o Partido ao “ditador” Stálin e ao “tirano” Mao Tsé-tung. Só faltou dizerem que foi Stálin que ordenou o lançamento das bombas atômicas em civis inocentes no Japão praticamente rendido na segunda Grande Guerra. Desconhecem o fato de que o marxismo não faz política na abstração, mas se baseia na análise científica dos fatos. Publicamente o Partido reconhece abertamente as limitações, equívocos e erros praticados durante os 29 anos em que Stálin esteve à frente da URSS e o faz se nenhum constrangimento.
Ocorre que também não se pode abrir mão de valorizar o extraordinário papel desempenhado pela URSS como principal inimiga do nazifascismo e tampouco é razoável renunciar aos incríveis êxitos alcançados pela URSS nos campos social, tecnológico, econômico, cultural, desportivo etc.
Hoje, embora a Folha seja incapaz de noticiar, a Rússia capitalista do primeiro-ministro “democrata” Vladimir Putin é a primeira no mundo no número de doenças psiquiátricas, no número de suicídios entre pessoas da terceira idade, no número de suicídios entre crianças e adolescentes, no número de crianças abandonadas pelos seus pais, no número de abortos e de mortalidade materna, no número de divórcios e de filhos nascidos fora do casamento, no consumo de bebidas alcoólicas e na venda de álcool de alta gradação, no número de mortes em consequência do consumo de álcool e do tabaco (na Europa), no consumo de tabaco, no número de crianças que fumam, no crescimento do número de fumantes, no número de mortes ocasionadas por doenças cardiovasculares, no número de acidentes de trânsito, no número de catástrofes aéreas (segundo dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo – IATA – o número de acidentes aéreos na Rússia supera em 13 vezes a média mundial). A Rússia capitalista hoje detém o primeiro lugar em perda absoluta de população, o primeiro lugar em relação à taxa de crescimento de multimilionários, o primeiro lugar em importação de automóveis da China e em importação de carne de canguru da Austrália, o primeiro posto em volume de gás desperdiçado (são queimados sem nenhum proveito mais de 50 bilhões de metros cúbicos de gás), o primeiro lugar em reservas de sal – sendo que quase a metade do sal consumido na alimentação é importado – e também é o primeiro lugar no número de exportação de escravos para o mercado de tráfico humano internacional. Nenhum país socialista apresenta esses índices.
O editorial continua seus ataques aos comunistas considerando como “delírio revolucionário” a opção do PCdoB por resistir à ditadura militar nas matas do Araguaia. Normal, pois não tiveram o prazer de ver suas kombis carregadas de comunistas do PCdoB para o DOI-CODI.
Não pertence à história do PCdoB o apoio a ditaduras. Esse é o papel reservado aos que defendem, por meio de suas penas, as guerras e intervenções externas tais como ocorrem agora na Líbia, Afeganistão e Iraque.
Se a Folha tem vergonha de sua história, os comunistas jamais renunciarão ao seu passado. O PCdoB valoriza sua épica existência de quase nove décadas sem nenhuma reserva em se fazer abertamente a autocrítica de seus erros, que certamente ocorreram e ocorrerão. Mas jamais se penitenciará pelo fato de ter traído a confiança do povo brasileiro.
Se no passado os comunistas foram levados a pegar em armas e se embrenharem nas matas do Araguaia oferecendo suas vidas em defesa da democracia, hoje o posto de luta que muitos comunistas são chamados é no governo da presidente Dilma para fazer avançar as conquistas progressistas. Isso não é trocar “ideologia por migalhas”, mas reforçar a ideologia em uma nova trincheira de lutas que se apresenta. E é justamente isso que a Folha teme.
* Engenheiro agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Professor do Instituto Federal de Alagoas
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