Entre 2002 e 2011, governos paulistas assinaram contratos de R$ 943 milhões com empreiteira que está no centro da CPI do Cachoeira; Geraldo Alckmin chamou relação de "ínfima"; José Serra, citado pelo contraventor em grampo da PF, fica quietinho; ex-diretor do Dersa Paulo Preto fala nesta quarta à Comissão; empreiteira fez desembolsos pesados às vésperas da campanha presidencial de Serra, em 2010; novo rumo?
Ao longo desta terça-feira 28, 247 procurou o setor de comunicação da campanha do candidato a prefeito de São Paulo José Serra, do PSDB, para conhecer a reação dele à revelação, com exclusividade, dos diálogos entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e o então senador Demóstenes Torres, travados a partir de 14 de maio de 2009, com articulações para a marcação de uma audiência com o próprio Serra, então governador do Estado (ouça).
A julgar pela não resposta a dois e-mails e dois telefonemas, feitos a partir das 13 horas, Serra preferiu ficar quietinho. Em abril deste ano, quando estourou o escândalo do tráfico de influência praticado por Cachoeira e Demóstenes e vieram à tona as estreitas relações deles com a empreiteira Delta, do empresário Fernando Cavendish, o governador Geraldo Alckmin reagiu de maneira diversa a perguntas sobre a presença, no Estado, da construtora repleta de contratos suspeitos. "Nem sei se tem (contratos), se tem são ínfimos", disse ele ao jornal Folha de S. Paulo.
Na mesma medida em que o silêncio de Serra não contribui com a apuração da verdade, a frase de Alckmin, à luz de pesquisas feitas pelo site Transparência SP, soa, agora, como um despite ingênuo – e bastante constrangendor para um governador que se diz organizado e conhecedor dos assuntos de Estado.
O fato é que, desde o primeiro mandato de Alckmin e até o ano passado, quando entre os governos de Alckmin e Alckmin houve a administração José Serra-Alberto Goldman (Serra renunciou ao mandato para concorrer à Presidência da República, deixando o vice, igualmente tucano, em seu lugar), a relação considerada "ínfima" da administração pública paulista com a Delta somou, em valores corrigidos, nada menos que R$ 943 milhões. Ou seja, quase R$ 1 bilhão. A empreiteira de Fernando Cavendish, cujo lobby era feito nos bastidores por Cachoeira e quase publicamente por Demóstenes, operou nada menos que 27 contratos nesse período, travando relacionamento formal com gigantes estatais como a Desenvolvimento Rodoviário S.A. (DERSA), o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) e aUniversidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Ínfimo?
Desse total de R$ 943 milhões em contratos, R$ 178,5 milhões foram assinados e faturados entre 2002 e 2006, no primeiro governo de Alckmin, e a partir de janeiro de 2011, quando ele assumiu novo mandato. É, com efeito, um relacionamento menor do que a empreiteira teve com o governo de São Paulo na gestão de José Serra: R$ 764,8 entre janeiro de 2007 e abril de 2010. Mesmo assim, não dá para chamar mais de R$ 175 milhões em contratos de algo "ínfimo". E, no contexto da CPI, os mais de R$ 760 milhões contratados pelo governo Serra à Delta merecem apuração.
É por isso que, nesta quarta-feira 29, o ex-diretor do Dersa, Paulo Vieira de Souza, chamado por seus amigos tucanos de Paulo Preto, irá sentar-se diante da Comissão na condição de testemunha. Entre o reducionismo de Alckmin e a quietude de Serra, ele, necessariamente, terá muito a acrescentar.
Em Brasília, a jornalista Andressa Anholete, de 247, apurou que entre os meses de agosto de 2009 e abril de 2010, às vésperas de Serra renunciar ao governo para tentar seu segundo voo em direção à Presidência da República, a Delta obteve R$ 143,1 milhões por seu quinhão no consórcio Nova Tietê, formado entre empreiteiras para realizar obras viárias nas avenidas marginais da capital paulista. Mais precisamente, R$ 143.145.816, 44.
Em relatórios de caixa da Delta obtidos com exclusividade por 247, o que se vê é que, além de faturar, a empreiteira também fez desembolsos pesados entre os meses de dezembro de 2010 e janeiro, fevereiro, março e abril de 2011. Apenas um dos débitos na conta da companhia feitos nessa fase alcançou R$ 6.628.559,15. Os valores começaram a cair depois de maio. Em abril, o então governado José Serra deixou o governo de São Paulo para ser presidenciável. Os pagamentos à Delta, assim como a administração dos contratos da Nova Tietê, eram feito pela Dersa, cujo então diretor, o Paulo Preto, irá à CPI do Cachoeira na condição de testemunha.
A depender do teor das perguntas dos parlamentares e, especialmente, da respostas, a inquirição a Paulo Preto tem tudo para ser um dos momentos mais emocionantes da CPI até aqui.Continue lendo
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