Fernando Cartaxo de Arruda,
sociólogo
fcartaxoarruda@gmail.com
A eleição
municipal no Brasil, notadamente em Fortaleza, ganhará consistência e definição
com a campanha de mídia e a intensificação dos gastos milionários das campanhas
políticas. Apesar das magias eleitorais que serão expostas, o eleitor é sempre
uma incógnita diante dos apelos e verdades que presenciarão. É um terreno
melindroso e delicado o que será percorrido até a definição do voto na urna
eletrônica. As pesquisas apontaram um quadro de tendências ainda em condições
de inércia, que ganhará novos moldes com a dinâmica e o impacto das estratégias
políticas e de marketing eleitoral. Hoje, ainda temos um contingente enorme de
indecisos, e um grupo significativo que definiram o seu voto, mas mesmo assim
podem sofrer vacilações no percurso da campanha, podendo redirecionar suas
escolhas políticas.
No caso
específico de Fortaleza, essa maioria de indecisos e vacilantes definirá os
candidatos que disputarão o segundo turno. A característica da atual campanha
eleitoral é a da fragmentação de propostas, fruto da implosão dos acordos
políticos que mantiveram o domínio da cena do poder sob o aparente manto da
cordialidade. A ruptura da aliança PT e PSB e o voo solo do PC do B promoveram
os estilhaços no cardápio eleitoral, bem como a fratura no campo da oposição
tradicional, que desfez o acordo do PSDB com o DEM. Estas circunstâncias
apontam a previsibilidade de um segundo turno.
Por outro
lado, temos as candidaturas do PSOL e do PDT, que se insurgem como opções
críticas as forças políticas estabelecidas. O PSOL com maior identidade de
levantar a bandeira de inovação e mudança, pois o PDT ainda viveu na sombra
pacífica com o PT e demarcou sua oposição política nos deslizes das ações do
governo Cid Gomes. Essas candidaturas alternativas, no campo da esquerda e
centro-esquerda, demonstram nos primeiros indicadores das pesquisas eleitorais,
um estrato significativo de eleitores que buscam alternativas de esquerda tanto
ao PT quanto ao PSB. Ao mesmo tempo,
temos um eleitor com perfil conservador e de direita, que também atuam no campo
de oposição as forças de domínio, representado no DEM e nos resquícios tucanos
da capital.
As estratégias
eleitorais devem transitar dentro deste escopo, buscando mudar posturas e
tendências detectadas nas primeiras amostras das pesquisas eleitorais e em
pesquisas qualitativas que identificam como persuadir o eleitor de seus
impulsos primitivos. Essa leitura minuciosa da realidade política e das
tendências do comportamento do eleitor é a matéria-prima para os estrategistas
das campanhas eleitorais. Devemos nos confrontar, nós eleitores, com moldagens
de candidatos fabricadas nas oficinas da produção do desejo de consumo. Em
outras palavras, candidatos que vestirão as roupas que os tornem agradáveis aos
apetites, desejos e necessidades do eleitor. A arte é filtrar e racionalizar a
cabeça do eleitor, identificando os campos e os espaços potenciais para turbinar
a escalada de aceitação das urnas.
Devemos
considerar que a manipulação dos desejos e escolhas não ultrapassam os limites
de suportabilidade do senso comum do eleitor. Os eleitores do PSOL nunca migraram
para opções políticas que firam os seus conceitos de análise e pervertam sua
consciência política. As modificações de votos dessa natureza de consciência
política são mais consistentes e não se sensibilizaram com quaisquer artimanhas
do marketing político. O mesmo se deve dizer dos eleitores do PDT, que se
posicionam como identidade própria e diferenciada dos arranjos hegemônicos
existentes. Em geral, são eleitores que escolheram em quem não votar e procuram
uma alternativa viável para satisfazer sua decisão por mudanças. Da mesma
forma, são os votos da oposição de direita que anunciam vontades de trazer ao
cenário de poder uma novidade política diferenciada das atuais configurações do
poder posto.
O cenário
político das eleições coloca uma matemática ainda imprecisa dos resultados. Os
candidatos que despontaram nas prévias das pesquisas eleitorais são os que
estiveram mais tempo expostos na memória do eleitor. O Moroni e o Inácio
despontam, ainda na margem pequena do eleitorado que definiu os votos, por mera
lembrança das sucessivas tentativas de pleitear a vontade do eleitor. O Roseno
e Heitor já figuram como candidaturas potenciais e alternativas de escolha. Os
candidatos da situação Elmano e Roberto Cláudio, por serem desconhecidos,
figuram como personagens que ainda precisam anunciar os seus propósitos e sua
força de persuasão eleitoral. Os outros candidatos são coadjuvantes sem
embasamento para alçarem o pódio do poder.
A batalha será
alcançar um patamar confortável para disputar o segundo turno, que deve variar
entre 25 a 30 por cento do eleitorado. Uma margem que definirá a montagem das
candidaturas para o segundo turno. Esse primeiro embate favorece o candidato da
prefeita Luizianne Lins, mesmo que ainda não tenha obtido um índice eleitoral
seguro. Sempre existirá uma confrontação entre as realizações da atual gestão e
o que poderá melhorar e transformar. Por mais críticas que possam existir a
atual gestão é razoável que existam um percentual compatível para pavimentar a
candidatura de Elmano Freitas para o segundo turno. As realizações da Prefeitura
não podem simplesmente ser desconsideradas e as populações beneficiadas pelas
políticas públicas e sociais desenvolvidas pesaram esta realidade no momento da
escolha do seu candidato. Assim como, não é desprezível a variável dos efeitos
do apoio de Lula e da simpatia de Dilma a candidatura do PT, situação que tende
a definir maiores probabilidades de vencer essa primeira etapa eleitoral. Não são
sem razão os esforços do PSB em tentar neutralizar o impacto do apoio de Lula e
evitar a participação de Dilma na disputa eleitoral. Sabem que o apoio dessa
dupla pode significar a certeza do PT alcançar votos suficientes das camadas
populares e setores médios da sociedade para se credenciar ao segundo turno.
Essa é a chamada joia da coroa, aquela que todo mundo almeja. E só o Partido
dos Trabalhadores pode possuir. Esse trunfo político deverá ser usado na fase
eletrônica da campanha eleitoral e permite construir um cenário favorável para
o crescimento sustentável da candidatura do PT.
É claro que
tudo dependerá da evolução concreta da disputa eleitoral e do jogo de
desqualificação e crítica que serão utilizados pelas demais candidaturas. Bem
como a capacidade de adequação das estratégias eleitorais para os embates
imprevisíveis na montagem e desmontagem das argumentações. Ainda não temos os
elementos estratégicos que demarcarão o acirramento da disputa e nem
indicadores confiáveis de quem despontará como prováveis candidatos com reais
chances de vitória eleitoral. No momento é preciso observar como se comportará
o eleitor diante das diferentes mensagens e propostas, pois ainda são
insondáveis as armas que serão utilizadas e como serão absorvidas e processadas
pelos diferentes andaimes da estrutura social e dos nichos de formação da
opinião pública.
A candidatura
do PSB é uma incógnita diante de um quadro multifacetado. O espaço da oposição
tem sido ocupado pelo PSOL e PDT no terreno das classes médias esclarecidas; e
pelo DEM em segmentos populares impactados pela violência urbana. A construção
do seu discurso ainda precisa ser moldada em uma identidade identificável ao
eleitor. A sua ascensão eleitoral dependerá muito da criatividade do seu
marketing político e da comprovação da popularidade dos Ferreira Gomes na
cidade de Fortaleza. A vantagem do candidato Roberto Cláudio é contar com o
maior tempo na propaganda política e melhor infraestrutura financeira,
condições privilegiadas para plasmar um caminho de ascensão eleitoral. Outro
desafio será enfrentar as correntes do pensamento político que apontam os
riscos da concentração de poder do PSB no Ceará, sinalizando uma nova hegemonia
de grupo de domínio. Algo que desestabilizaria a saudável convivência de
diferentes forças políticas na construção de processos democráticos e participativos.
Ainda resta
constatar se os efeitos dessa fase eletrônica da campanha vão desnutrir as
campanhas do Moroni e Inácio, cuja expectativa é alentada pelas campanhas do PT
e PSB. A razão é simples: o Moroni parece ter um pequeno feudo de eleitores,
sem demonstrar capacidade de expansão para uma disputa eleitoral majoritária; o
Inácio conta com uma trajetória política reconhecida em diversos segmentos da
sociedade, mas enfrenta problemas no escasso tempo na campanha eleitoral e
dificuldades financeiras para manter e ampliar o fôlego de uma disputa
eleitoral acirrada por uma diversidade de candidatos, além do isolamento das
alianças partidárias.
Outra coisa
que o horário eleitoral poderá revelar são as reais possibilidades de vingar
uma candidatura alternativa, marcada pela irreverência do eleitor cearense, que
muitas vezes torna possível o que a própria racionalidade das previsões e
pesquisas não consegue detectar com precisão. Nesse caso, os efeitos surpresas
seriam a candidatura do PSOL e do PDT, que trafegam como opções de inovação
política no imaginário social. Mas pesa sobre essa possibilidade as
dificuldades financeiras e o pequeno tempo de exposição de suas ideias nos
canais abertos do rádio e televisão. Devemos comprovar até que ponto a
democracia brasileira anda refém e limitada pelas grandes estruturas
partidárias e os maciços investimentos financeiros.
É certo também
que existe apatia política da sociedade frente aos permanentes fatos que
desabonam a ética na política, que deve ser enfrentada com seriedade pelos
atores políticos e sinalizada por compromissos com uma real e inadiável Reforma
Política.
Agora é se
debruçar sobre o espetáculo das produções midiáticas e dos seus efeitos reais
na cabeça do eleitor.
Recebido por e-mail.
Um comentário:
Essa foi de lascar...
Extra, extra, extra …..IMPERDIVEL……COM ÁUDIO
.
http://saraiva13.blogspot.com.br/2012/08/isso-que-chamam-jornalismo.html
O JORNALISMO HIPÓCRITA DA TV REDE gROBO E DA MÍDIA
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