Sabemos todos que pesquisa boa é pesquisa que traz bons números para
nosso candidato, e então seria natural que os simpatizantes de Dilma
ficassem incomodados com os resultados do último levantamento do
Datafolha.
Mas ainda assim, dado este desconto, é realmente esquisita a metodologia da pesquisa.
Se o encaminhamento das questões influenciou ou não na queda de 6
pontos de Dilma é difícil dizer. Mas que as perguntas são passíveis de
suspeição certamente são.
(Aqui, você pode ver o quadro completo.)
Durante toda a semana a internet ficou agitada primeiro com a notícia
de que vinha uma pesquisa ruim para Dilma e, depois, com a onda de
desconfiança sobre o Datafolha.
O site 247 afirmou que a pesquisa foi feita para derrubar Dilma. O 247 reivindicou o furo de ter tido acesso ao questionário.
O Datafolha parece ter acusado o golpe. Tanto que o site da Folha trouxe uma resposta
do Datafolha, na qual foi dito que o procedimento foi o costumeiro e
que as perguntas estavam, como de hábito, à disposição de quem quisesse
vê-las, na internet.
Quando menos, o episódio vai servir para que se discuta o trabalho
dos institutos de pesquisa. Se você pensa que simplesmente os
respondentes dizem em quem vai votar não poderia estar mais enganado –
pelo menos segundo esta pesquisa específica.
O episódio Petrobras-Pasadena é fortemente lembrado no questionário.
Faz sentido? Mesmo que fosse para avaliar Dilma soa estranho.
Uma das perguntas era sobre o grau de responsabilidade de Dilma no
negócio. Mas havia mais: a palavra corrupção aparecia, numa questão,
vinculada à Petrobras.
O leitor tinha que dizer se a Petrobras é mais ou menos corrupta que outras empresas públicas.
Empresas públicas são, portanto, corruptas por natureza, segundo o
Datafolha. Bonito isso. A Folha sonega impostos há décadas com seus PJs,
cedeu carros à ditadura para a perseguição de militantes – e corruptos
são os outros.
Quanto o caso Petrobras induziu o cidadão a fugir de Dilma na resposta é uma pergunta complexa, naturalmente.
Pessoalmente, acho que o questionário teve a independência e o apartidarismo da Folha, aspas e pausa para rir.
Também assuntos ruins, ou potencialmente ruins, para Dilma apareceram entre as perguntas, como os protestos e a Copa do Mundo.
É sempre assim, como afirmou o Datafolha?
Vale a pena fazer um trabalho de arqueologia, agora, e verificar a metodologia de outras pesquisas, e não apenas do Datafolha.
Pesquisas presidenciais são muito importantes como fator de indução
para serem deixadas ao arbítrio de institutos cujos interesses podem não
atender exatamente o bem público.
Este o mérito desta pesquisa: mostrar que a sociedade tem que saber
muito mais sobre como são feitos os levantamentos. É preciso um choque
de transparência sobre eles. Já.
DCM
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