A Folha reteve por 24 horas
o dado capaz de relativizar esmagadoramente a queda de seis pontos nas
intenções de votos na presidenta Dilma.
por Saul Leblon, em Carta
Maior
Por que o Datafolha não
inclui em suas enquetes algumas perguntas destinadas a decifrar o modelo de
desenvolvimento intrínseco à aspiração mudancista majoritária na sociedade
brasileira, segundo o próprio Instituo?
Por que o Datafolha não
pergunta claramente a esse clamor se ele inclui em seu escopo de mudanças um
retorno às prioridades e políticas vigentes quando o país era governado pelo
PSDB, com a agenda que o dispositivo midiático tenta restaurar com o
lubrificante do alarmismo noticioso?
Não se trata de introduzir
proselitismo nos questionários de sondagem. É mais transparente do que parece.
E de pertinência jornalística tão óbvia que até espanta que ainda não tenha
sido feito.
Por exemplo, por que o
Datafolha não promove uma simulação que incluiria Fernando Henrique Cardoso e
Lula como candidatos teóricos e assim avalia as preferências entre os modelos e
ênfases de desenvolvimento que eles historicamente encarnam?
Por que o Datafolha não
pergunta claramente ao leitor se prefere a Petrobras — e o pré-sal, que é disso
que se trata, sejamos honestos – em mãos brasileiras ou fatiada e privatizada?
Por que o Datafolha não
investiga quais políticas e decisões estão associadas à preferência pelo
petista que há 12 anos está sob bombardeio ininterrupto da mídia e, ainda
assim, conserva 52% das intenções de voto num país seviciado pelo monopólio
midiático?
Por que o jornal que é dono
da pesquisa – em mais de um sentido – não explicita em suas análises as
relações (ostensivas) entre a resistência heroica do recall desfrutado por
Lula; o desejo majoritário de mudança na sociedade e o vexaminoso arrastar dos
pés-de-chumbo do conservadorismo, Aécio e Campos?
Por que a Folha reteve por
24 horas o dado capaz de relativizar esmagadoramente o impacto da queda de seis
pontos que teria marcado as intenções de votos na presidenta Dilma – mas que
ainda assim vence com folga (38%) seus dois principais oponentes juntos (26% de
Aécio e Campos)?
O dado em questão não é
singelo.
Só divulgado nesta noite de
domingo – sem espaço na manchete e sequer registro na primeira página do diário
dos Frias! — ele tem calibre para dissolver em partículas quânticas tudo o que
foi dito no final de semana sobre a derrocada do governo na eleição para 2014.
Qual seja, a opinião de Lula
— colheu o Datafolha – é uma referência positiva de impacto avassalador sobre
as urnas de outubro: seu peso ordena e hierarquiza a definição de voto de nada
menos que 60% do eleitorado brasileiro.
Seis em cada dez eleitores
tem em Lula uma baliza do que farão na cabine eleitoral.
Segundo o Datafolha, 37%
deles votariam com certeza em um candidato indicado pelo petista; e 23% talvez
referendassem essa mesma indicação.
Note-se que os estragos que
isso deixa pelo caminho não são triviais e de registro adiável.
Se divulgados junto com a
pesquisa das intenções de voto, esmagariam, repita-se, o esforço do tipo ‘vamos
lá, pessoal’, que os comodoros do conservadorismo tentaram injetar na esquadra
de velas esfarrapadas de Campos e Neves.
Vejamos: ao contrário do que
acontece com o cabo eleitoral de Dilma, 41% dos eleitores rejeitariam
esfericamente um nome apoiado por Marina Silva – Eduardo Campos encontra-se
nessa alça de mira contagiosa, ou não?
Já a rejeição a um candidato
apoiado por FHC é de magníficos 57%.
Colosso. Sim, quase 2/3 do
eleitorado, proporção só três pontos inferior à influência exercida por Lula,
foge como o diabo da cruz da benção dada pelo ex-presidente tucano a um
candidato; apenas 23% cogitariam sufragar um nome apoiado por ele.
Esse, o empolgante futuro
reservado ao presidenciável Aécio Neves, ou será que a partir de agora ele
imitará seus antecessores de dificuldades e esconderá o personagem que o
imaginário brasileiro identifica ao saldo deixado pelo PSDB na economia e na
política do país?
O fato é que a virada
antipetista, ou antigovernista, ou ainda anti-dilmista que o dispositivo
midiático tenta vender – e o fez com notável sofreguidão neste final de semana,
guarda constrangedoramente pouca aderência com a realidade.
Exceto se tomarmos por
realidade as redações da emissão conservadora, a zona sul do Rio ou o perímetro
compreendido entre os bairros de Higienópolis, Morumbi e Vila Olímpia, em São
Paulo, a disputa é uma pouco mais difícil.
Não significa edulcorar os
desafios e gargalos reais enfrentados pelo país.
Mas na esmagadora superfície
habitada por 60% da população brasileira o jogo pesado da eleição de 2014
envolve outras referências que não apenas a crispação do noticiário
anti-petista em torno desses problemas.
Por certo envolve entender
quem é quem e o que propõe cada projeto em disputa na dura transição de ciclo
econômico em curso – e nessa luta ideológica pela conquista e o esclarecimento
de corações e mentes, o governo Dilma e o PT estão em débito com a sociedade.
Sobretudo, o que os dados
mais recentes indicam é que a verdadeira disputa de projetos precisa de mais
luz e mais desassombro por parte dos alvos midiáticos.
Os institutos de pesquisas,
a exemplo do Datafolha, em grande medida avaliam o alcance do seu eco quase
solitário.
Bombardeia-se a Petrobras
para em seguida mensurar o estrago que os obuses causaram na resistência
adversária. Idem, com o tomate, a Standard & Poor’s, etc., etc., etc.
Ao largo das manchete do
Brasil aos cacos, porém, seis em cada dez brasileiros aguardam o que tem a
dizer aqueles que se tornaram uma referência confiável pelo que fizeram para a
construção da democracia social nos últimos anos.
É aí que Lula entra. E o PT
deve cuidar para que entre não apenas rememorando o passado, do qual já é uma
síntese histórica.
Mas que coloque essa
credibilidade a serviço de uma indispensável repactuação política do futuro,
contra o roteiro conservador do caos que lubrifica a rendição ao mercadismo.
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