quinta-feira, 14 de abril de 2016

Concordo em gênero, número e grau





Domingo será um dia decisivo para a democracia neste país. E parece cristalino que o day after já foi minuciosamente arquitetado. O Deputado relator do caso de Eduardo Cunha que pediu a sua cassação já renunciou à vaga no Conselho de Ética, deixando margem para uma maioria que não irá cassá-lo. O juiz Sérgio Moro já mandou recado a nação avisando que pretende encerrar a Lava Jato em dezembro. Temer, incorporando na faixa presidencial que não lhe foi outorgada pelo voto, já mandou avisar que vamos ter de fazer muitos sacrifícios pela frente para avançar. Certamente não serão impostos a Globo, a FIESP nem tampouco aos empresários sonegadores que pavimentam o caminho de sua chegada ao poder, sem voto popular. Basta uma inteligência mediana para se perceber o que tramam para o Brasil se houver a deposição da presidenta Dilma e quais os interesses políticos e econômicos que passarão a ditar as regras e o destino de todos nós. Ah, mas derrubar Dilma é só o primeiro passo para passarmos o país a limpo, é que muitos dizem aqui. É sério que você acredita nisso? Veja os sinais meu caro. E não pense que eles se chegarem ao poder vão estar preocupados com o que você pensava ou lutava porque isso nunca foi por você, por mim e nem pelo Brasil. Embora tenha enormes discordâncias com o governo Dilma e não tolere o jogo bruto do fisiologismo, não posso deixar de reafirmar minha indignação ao ver políticos escusos posarem de defensores de uma pátria livre da corrupção. Se a questão é ética, nenhum desses que pede o fim da Dilma pode apontar o argueiro no olho dela porquanto eles próprios carregam traves. Se o atual governo é ruim, os que pretendem sucedê-lo são piores, enormemente, piores. Se a presidente foi eleita no voto, esperemos, critiquemos, ajudemos ou façamos oposição e em breve, também pelo voto, outro, quem sabe da oposição, poderá ocupará o seu lugar. Mas as razões apresentadas no arrazoado que pede o afastamento da presidente tornam evidente que o que as Excelências tramam na Câmara é golpe, armado por um grupo com biografia mais suja que chiqueiro, movido por escusos interesses políticos e buscando legitimar-se por meio de uma parcela da sociedade levada às ruas por corruptos para bradar contra a corrupção, parecendo estar imersa em uma total desconexão da realidade de quem as conduz e do que eles pretendem. De modo algum eu apoiarei esse impeachment por estar certa de que não é o governo do PT que esta sendo solapado, mas sim a democracia. As opções estou consciente, são poucas. Estamos encalacrados em um impasse político. Mas estou convencida de que apoiar esse impeachment não é contribuir para o combate a corrupção mas servir de linha auxiliar para um grave ataque contra a democracia promovido por políticos espúrios que se movem por interesses próprios e abjetos. 

De uma coisa estou certa: Se os Bolsonaros, os Alves, os Caiados, os Aécios e os servis aliados do Cunha tomarem o poder, o Brasil afunda de vez.

Drª Roberta Araújo, juiza da 14ª Vara do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região(Pernambuco).

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