247 – O dia 17 de
abril de 2016, em que a Câmara dos Deputados, liderada pelo deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), votou o impeachment da presidente Dilma
Rousseff fez com o médico e escritor Drauzio Varella sentisse vergonha
de ser brasileiro.
"Pela primeira vez em 70 anos senti
vergonha de ser brasileiro. Culpa da TV, que me manteve hipnotizado na
frente da tela, enquanto transmitia a votação do impeachment na Câmara,
duas semanas atrás", diz ele, em artigo publicado neste sábado (leia aqui).
"Não posso alegar desconhecimento,
ingenuidade ou espanto, vivo no Brasil e acompanho a política desde
criança. Todos sabem que é lamentável o nível da maioria de nossos
deputados, mas vê-los em conjunto despejando cretinices no microfone foi
assistir a um espetáculo deprimente protagonizado por exibicionistas
espertalhões, travestidos em patriotas tementes a Deus", afirma. "Votavam
o impeachment de uma presidente da República como se estivessem num
programa de auditório, preocupados somente em impressionar suas
paróquias e vender a imagem de mães e pais amantíssimos."
Segundo ele, acreditar na democracia
brasileira agora passa a ser um ato de fé. "E pensar que aqueles homens
brancos enfatuados, com gravatas de mau gosto, os cabelos pintados de
acaju e asa de graúna, com a prosperidade a transbordar-lhes por cima do
cinto, passaram pelo crivo de 90 milhões de eleitores que os escolheram
para representá-los. Para aqueles que não viveram como nós as trevas da
ditadura, manter a crença na democracia brasileira chega a ser um ato
de fé", afirma.
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